Riqueza no solo

Cultivo de açaí é carro-chefe do projeto de fruticultura

Emiliano Capozoli/Estúdio Folha
Joberto da Silva, Luciano Pinheiro de Sousa e Antonio Roberto da Silva, em área de cultivo de açaí, em Rio Preto da Eva

Atualmente, 80% da produção vem do manejo; governo quer elevar a produtividade com uso de tecnologia

Ao lado da piscicultura, o governo do Amazonas aposta na fruticultura e está incentivando as cadeias produtivas de frutas em vários municípios. O açaí é o carro-chefe dessa empreitada.

Atualmente, 80% da produção do açaí no Estado vem do manejo extrativista, e o governo quer aumentar o cultivo do fruto.

Conforme dados do Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas), a produção do açaí de cultivo em 2014 ocupou 2,9 mil hectares, com uma produção de 372,9 mil sacas de 50 quilos (18,7 mil toneladas).

No ano passado, a área plantada subiu para 3,8 mil hectares, e a produção atingiu 522,7 mil sacas (26 mil toneladas).

Segundo o engenheiro agrônomo Luiz Carlos do Herval Filho, diretor técnico do Idam, a Matriz Econômica Ambiental usa as tecnologias desenvolvidas pela Embrapa para dobrar e até triplicar a produção de frutas sem a necessidade de ocupar novas áreas.

"A base da fruticultura está em possibilitar a mecanização das áreas de cultivo. É preciso deixar essas áreas limpas, retirando raízes, tocos e galhos, para que se possa ter mais plantas por hectare. Fazendo apenas isso já se ganha entre 30% e 40% de produtividade. Além disso, com áreas mais limpas, o produtor tem mais facilidade em usar seu maquinário, como tratores, e ganha mais agilidade no manejo da cultura. O uso da irrigação também permite ganhos de mais de 30%", explica Herval. Esses princípios valem para as diferentes culturas.

O agrônomo conta que na região de Novo Remanso, no município de Itacoatiara, antes de haver a mecanização, os agricultores plantavam entre 15 mil e 18 mil pés de abacaxi por hectare. Hoje, plantam entre 30 mil e 45 mil pés, na mesma área. A região deve produzir neste ano o recorde de 60 milhões de frutos.

No Amazonas, o governo está investindo no projeto de produção de mudas para atender as demandas crescentes dos produtores. Por isso, em um primeiro momento, a Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror) vai apoiar as associações e cooperativas para que as mudas sejam produzidas nos próprios municípios. O órgão de assistência técnica estadual vai orientar os produtores na produção dos viveiros, na coleta das sementes e nos cuidados sanitários necessários.

Os investimentos serão feitos de preferência em municípios que já tenham agroindústria para frutas. Hoje o Estado tem 29 delas que trabalham com polpa de fruta em 11 municípios.

O projeto não pretende levar fruticultura a locais que não produzem. "Não queremos inventar moda, fazer as pessoas plantarem coisas que nunca viram. Queremos dar condições ao agricultor de expandir sua produção, dando assistência e treinamento e levando tecnologia", explica Herval.

José Maria Frade Júnior, gerente do Idam em Rio Preto da Eva, diz que os projetos só serão implantados em áreas mecanizáveis e que já foram alteradas. Ele explica que os 3% de área desmatada no Estado são mais do que suficientes para implantar todos os projeto de fruticultura.

Só em Rio Preto da Eva, há 3.000 hectares de áreas que já foram desmatadas e que podem ser utilizadas. Há dois anos, o município praticamente não tinha cultivo de açaí. Hoje já há 150 hectares plantados, e a meta é ter 450 hectares plantados até o fim deste ano. E todas essas plantações terão sistemas de irrigação.

Com química fina, Estado incentiva beneficiamento de produtos

Fitoterápicos, cosméticos, extração de óleos vegetais. A Matriz Econômica Ambiental vai incentivar empresários a investir na extração e, principalmente, no beneficiamento de produtos não madeireiros, para que o Amazonas deixe de ser apenas um exportador de matéria-prima.

"Quando se olha a cadeia toda, vê-se que os recursos que ficam nos locais de produção em relação ao preço final desses produtos são ínfimos. Se não houver uma indústria de química fina local para trabalhar essa matéria-prima, a gente vai continuar como um 'porto de lenha'", diz Luiz Carlos do Herval Filho, diretor técnico do Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas), órgão que presta assistência técnica aos agricultores.

Os empresários serão levados a diversas regiões do Estado para ver o que já é produzido e qual é o potencial de produção de cada uma dessas áreas, para que haja fornecimento perene de matéria-prima. Desse modo, terão segurança para instalar suas empresas.

Um dos projetos é desenvolver pequenas usinas de refino no interior do Estado para que não seja preciso enviar o produto bruto para a capital amazonense.
Em Lábrea, por exemplo, 850 km a sudoeste de Manaus, já há o beneficiamento do óleo de copaíba, andiroba e tucumã.

"No caso da copaíba, o óleo é extraído por meio de um furo feito no tronco da árvore. Mas, se o furo for feito de forma inadequada, pode matar a árvore. O Idam treina os coletores para que atuem de forma correta", diz Herval.

O governo vai fortalecer o manejo florestal de pequena escala e o de espécies como o cacau silvestre, a castanha, a copaíba, a andiroba e o pau-rosa, assim como as atividades de agroindústrias, agregando mais valor à produção local, segundo o secretário de Estado de Produção Rural, Hamilton Casara.

O projeto de revitalização do pau-rosa se baseia em pesquisa que mostrou que a maior concentração do óleo de linalol está nas folhas e nas pontas dos galhos. Segundo o secretário, a utilização do pau-rosa será feita de forma sustentável, por meio da poda, o que preserva a árvore.

Peixes alimentam também as plantações

Em um ecossistema tão complexo e diversificado como o amazônico, não é só na natureza que as coisas estão interligadas. O mesmo se dá nas propriedades. É raro ver uma especializada em apenas um tipo de produção, seja vegetal, seja animal.

A fim de aumentar a produtividade sem elevar os custos, os produtores costumam aliar diferentes culturas (sistemas de consórcio). Esse é o modelo a ser reproduzido na Matriz Econômica Ambiental do governo.

Em sua pequena propriedade no distrito de Balbina (município de Presidente Figueiredo), onde cria peixes em cinco viveiros (leia na página ao lado), Fabrícia Zamperline aproveita a água dos tanques para irrigar plantações de laranja e de limão. É a chamada fertirrigação.

A água dos viveiros é muito rica em material orgânico, já que, além da ração e dos excrementos dos peixes, recebe calcário e adubação, para elevar a produção de fitoplâncton e zooplâncton, fundamentais na alimentação dos peixes quando jovens.

Com isso, o produtor ao mesmo tempo irriga e aduba suas árvores frutíferas e hortaliças.

A técnica é usada em praticamente 100% das propriedades onde há criação de peixe e produção agrícola.

Sementes melhoradas

Também em Presidente Figueiredo, Adevair Vieira da Cruz tem muito a mostrar aos agricultores que buscam conhecimento. Produz coco, cupuaçu, mamão, abóbora e hortaliças. Os 2.800 pés de cupuaçu foram plantados em 2013 e já renderam a primeira minissafra. Foram duas toneladas. Mas, quando adultas, as árvores deverão produzir cem toneladas.

Antenado com a tecnologia, buscou na Embrapa sementes melhoradas resistentes à vassoura-de-bruxa, praga que dizimou na região as plantações de cupuaçu, um "parente" do cacau.

Em Rio Preto da Eva, Luciano Pinheiro de Sousa irrigou seu açaizal de quatro anos de idade para não sofrer os efeitos da seca, que atinge a região de junho a novembro. Neste ano, vai ver o efeito da irrigação quando, a partir de agosto, começar a colher os frutos dos seus 400 pés de açaí. Espera um aumento de cerca de 40% na produção. Em 2016, colheu 1.500 quilos.