Todo brasileiro que mora em grandes metrópoles sabe que a deterioração dos centros é infelizmente uma realidade que se repete de norte a sul do país. Não em Belo Horizonte. Beagá, como é carinhosamente chamada a capital mineira, até correu esse risco quando, em 2010, a sede administrativa do governo mineiro foi transferida da praça da Liberdade para a Cidade Administrativa, um complexo erguido na região Norte da cidade. Só que em Beagá, os prédios históricos esvaziados foram se transformando em um enorme conjunto cultural conhecido hoje como Circuito Liberdade.
Além de ser considerado um belo exemplo de revitalização e ressignificação urbana, o Circuito Liberdade é o maior complexo cultural, turístico, educativo e criativo da América Latina. Um fenômeno por onde passaram, em 2023, impressionantes 7,5 milhões de pessoas.
Mega eventos têm consolidado o Circuito Liberdade como o grande ponto de encontro e de celebração da cultura mineira. É lá o foco central do Natal da Mineiridade, que desde 2022 ilumina com projetos imersivos de última geração e recheia de tradições natalinas esse espaço. É também lá, desde 2023, o epicentro da Virada da Liberdade, a grande festa de réveillon da capital, que apesar de recente já virou uma tradição.
Ponto de celebração da cultura mineira
O Circuito Liberdade é uma rota turística e cultural que compreende 36 complexos ligados à cultura, entre museus, arquivo público, biblioteca, centros culturais e de formação, todos eles concentrados no Centro histórico. Desses espaços, 14 são mantidos diretamente pelo governo do estado de Minas Gerais e 22 por parceiros privados ou instituições públicas federais. O marco zero é a praça da Liberdade e seu entorno, onde se concentravam os prédios administrativos que foram esvaziados em 2010.
Acontece que o grande sucesso do Circuito Liberdade e sua capacidade de agregar pessoas acabou fazendo com que seu raio, inicialmente restrito aos arredores da praça, se expandisse para toda a região delimitada pela avenida do Contorno, área que demarca o projeto original da cidade, de 1895. Sim, Belo Horizonte é a primeira cidade moderna brasileira planejada.
O "efeito Liberdade" acabou funcionando como um eficiente motor para a revitalização de todo o hipercentro, atuando na transformação urbana, cultural e levando a economia criativa e uma revolução gastronômica para toda a região.
Para o visitante, a praça da Liberdade é um maravilhoso ponto de partida para uma rota inesquecível e barata, já que a maioria dos complexos culturais tem entrada gratuita. Já para o morador da cidade, é o epicentro de uma transformação que redefiniu a vida urbana de Beagá e continua rendendo frutos, com cada vez mais lugares sendo ressignificados na cidade.
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Depoimento
Um mergulho na tradição e na inovação
Como mineiro, sou suspeito para falar… Cresci acostumado com a comida da casa da minha avó, em Uberaba, onde as conversas giravam em torno de um fogão a lenha. Agora, imagina minha surpresa quando descobri que em pleno centro de Beagá eu posso matar as saudades desses sabores. A revitalização dessa área, com a criação do Circuito Liberdade, trouxe para o centro uma série de atrações culturais. E, em Minas, claro, falar de cultura é também falar de gastronomia! Eu adoro passear ali e mergulhar ainda mais na história da capital mineira, da exuberância do Palácio da Liberdade à elegância da Biblioteca Pública Estadual, que leva a assinatura de Niemeyer. Mas foi com alegria que vi surgir ali também endereços onde a tradição e a inovação estão reescrevendo a cozinha mineira. E dá até para dar uma esticadinha depois de um delicioso jantar. Dias atrás, visitando a cidade, um amigo me levou ao Edifício Maletta, que virou meio o símbolo do renascimento de uma vida noturna belorizontina.
Epicentro do Circuito
A emblemática praça da Liberdade, com seu coreto, lindas fontes e a alameda Central delimitada por palmeiras imperiais, é o marco zero do roteiro. A praça, construída no fim do século 19, foi reformada na década de 1920, adotando um estilo francês inspirado nos jardins de Versailles. Ao seu redor, um interessante mix arquitetônico é composto por construções ecléticas, modernistas e pós-modernistas.
O histórico Palácio da Liberdade, de estilo eclético e construído para sediar o governo do estado de Minas, se impõe na paisagem, alinhado à alameda de palmeiras imperiais. Há visitas guiadas ou não, ambas gratuitas, ao seu interior e jardins. Outro prédio que se destaca na lateral da praça é o afrancesado Prédio Rosa, hoje ocupado pelo Museu das Minas e do Metal. Tecnológico e gratuito, ele conta de maneira lúdica e interativa a história da mineração e metalurgia.
Colado ao Prédio Rosa, o contraste arquitetônico é garantido por um moderno edifício com projeções na fachada. Ele abriga o super tecnológico Espaço de Conhecimento UFMG, que traz ciência e arte de uma forma lúdica. Os hits ali são o Terraço Astronômico (gratuito), com equipamentos para observar o céu, e o Planetário, com projetores de última geração que fazem o visitante se sentir no espaço. Há também exposições com entrada gratuita.
No lado oposto da praça, a rota cultural continua com o Centro Cultural Banco do Brasil, um edifício de influências neoclássicas e art noveau que já foi sede da Secretaria de Interior e Justiça. A programação cultural é sempre ótima. Ao seu lado, o lindo prédio da antiga Secretaria de Viação e Obras Públicas está sendo restaurado para abrigar a Casa do Patrimônio Cultural e a Pinacoteca Cemig, além da sede do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG), com biblioteca, ateliê de restauro aberto, espaço expositivo e espaços para salvaguarda do patrimônio cultural por meio de ações com coletivos de cultura e comunidades tradicionais.
Ainda no entorno da praça, a arquitetura modernista tem um representante célebre: o prédio sede da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, projeto de Oscar Niemeyer inaugurado em 1961. No extremo oposto da praça, outro prédio modernista, de Raphael Hardy, abriga o Espaço Cultural Escola de Design – UEMG, que oferece cursos, mostras, palestras e outras atividades para quem se interessa por design.
Se já há programação para dias só ao redor da praça, há muito mais do Circuito Liberdade nos quarteirões adjacentes, apenas para citar alguns: o Museu Mineiro, gratuito e famoso por sua coleção de arte sacra; a Casa Fiat de Cultura, que exibe gratuitamente importantes exposições nacionais e internacionais; o Centro de Arte Popular, onde se pode conhecer gratuitamente obras de artistas de várias regiões do estado; o BDMG Cultural, com exposições abertas à visitação e eventos musicais.
Tantas atividades culturais, a maioria delas gratuitas, concentradas num espaço tão pequeno, atraem viajantes em busca de história, arquitetura e de uma experiência cultural rica, fazendo a capital Belo Horizonte ser uma grande responsável pelo turismo de Minas Gerais crescer acima da média nacional em 2023, segundo dados do IBGE. Mas além de turistas, esse polo cultural do Circuito Liberdade atrai os próprios moradores de Belo Horizonte, gerando um impacto positivo na revitalização de todo hipercentro da cidade.
Um centro também gastronômico
Cultura e gastronomia andam juntas, ainda mais em Belo Horizonte, que ostenta o título de Cidade Criativa da Gastronomia pela UNESCO. Pois o Circuito Liberdade conta também com uma Rota Turística focada em Cozinha Mineira, que traz um mapa com todos os endereços ligados a esse delicioso assunto.
O endereço mais célebre do mapa não poderia ser outro que não o Mercado Central. Com mais de 400 lojas, aquela bagunça de cores, aromas e sabores que condensam o melhor de Minas, dos queijos premiados às cachaças e goiabadas; das hortaliças aos petiscos para beliscar ali mesmo. Para uma imersão, uma boa ideia é fazer parte de um tour guiado por uma chef de cozinha.
A melhor notícia é que essa lista é recheada de outros lugares também muito saborosos. Para começar o dia, cafeterias bem mineirinhas, onde reinam a broa de milho e o pão de queijo. Para almoçar, típicos restaurantes da tradicional cozinha mineira ou mesmo os não menos tradicionais botecos ou, por que não, uma cervejaria.
Nessa rota há até um museu, o SESI Museu de Artes e Ofícios, com uma interessante coleção de objetos que contam a história de dezenas de atividades profissionais que deram origem à indústria de transformação em Minas Gerais, representando antigos ofícios em setores tradicionais, entre eles o alimentício. Há um espaço dedicado à conservação e transformação dos alimentos que ajudam a contar a história da cozinha mineira.
Para acabar esse dia gastronômico, não há lugar melhor que o Mercado Novo, um antigo mercadão degradado que foi revitalizado em 2018 e conta com lojas, bares, cachaçarias e restaurantes que representam a cozinha contemporânea mineira, que traz sabores clássicos apresentados em formatos surpreendentes.
A ressignificação chega à cozinha
A exemplo do Mercado Novo, a onda de revitalização e ressignificação de espaços por meio da economia criativa tem se multiplicado. Outros locais do centro foram renovados e ocupados por bares e restaurantes dessa cozinha mineira contemporânea, cada vez mais em voga, mas também com todo um cardápio de negócios criativos.
Os polos da vez são galerias e edifícios comerciais renovados e repletos de representantes dessa nova cozinha, bares descolados, brechós, lojas de vinis e outros clássicos moderninhos. A Galeria São Vicente, por exemplo, conta com bares queridinhos dos belo-horizontinos,.
Também na área, o Edifício Maletta tem um pouco de tudo, inclusive uma varanda que é hoje um dos lugares mais legais para uma noite divertida na cidade. Já o Edifício Central, ao lado da praça da Estação, é o mais recente dessa onda que está longe de acabar, mas tem seu começo facilmente identificável: o Circuito Liberdade.
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha