Qualquer atividade em uma sociedade, seja ela econômica, social ou esportiva, depende do saneamento básico, pois é impactada pelos quatro pilares do setor (água potável, coleta e tratamento de esgoto, gestão de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais).
Por isso, a universalização dos serviços de distribuição de água e esgotamento sanitário, prevista no novo Marco Legal do Saneamento e pauta vital das eleições municipais deste ano, é essencial para o futuro do Brasil.
"O acesso ao saneamento muda a vida do cidadão, de seu filho, de seu neto e pode ser a grande força motriz de transformação social do país", diz Luana Siewert Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, que discute e promove a importância do saneamento.
A saúde, por exemplo, depende diretamente do saneamento básico. No Brasil, em 2022, mais de 190 mil pessoas foram internadas com doenças causadas por água contaminada. Segundo a ONU, no mundo todo 1,4 milhão de pessoas morrem por ano por problemas de saúde causados por saneamento inadequado.
Carências nos serviços de água e esgotamento sanitário, lembra Siewert Pretto, colocam pressão adicional sobre o sistema de saúde. "Muitas vezes, a causa-raiz de uma internação vem da falta de saneamento." Caso o Brasil consiga cumprir as metas da universalização, estima-se que o país economize R$ 1,25 bilhão em gastos com saúde até 2040.
A economia como um todo se beneficia da universalização do saneamento, uma vez que população mais saudável é também mais produtiva. Caso o Brasil invista os R$ 46,3 bilhões anuais necessários para obter a universalização em 2033, o ganho anual sobre o PIB (Produto Interno Bruto) está estimado em R$ 58,1 bilhões, cerca de R$ 12 bilhões a mais que os gastos.
Meio ambiente
Apesar de não terem recebido metas específicas no novo Marco Legal do Saneamento, gestão de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais também impactam na vida dos cidadãos.
Para Nelson Arns Neumann, médico epidemiologista, integrante do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e embaixador do Instituto Trata Brasil, o acúmulo de lixo e os consequentes alagamentos representam um custo alto demais para a sociedade. "Imagine o custo para a população se uma equipe de profissionais de saúde ficar parada uma semana", afirma Neumann, que menciona a existência de soluções já adotadas em cidades brasileiras.
Ele cita um projeto de Curitiba (PR) que permite a troca de material reciclável por frutas, legumes ou verduras, evitando que objetos se acumulem no ambiente. "Isso é muito mais barato do que ter de tirar lixo de dentro de um rio."
Campanhas de esclarecimento da população têm um papel importante. A cidade paulista de Campinas, terceira melhor colocada no ranking de saneamento do Instituto Trata Brasil, vem apostando no engajamento dos moradores, além dos investimentos em infraestrutura e serviços.
Em 2017, o município criou o programa CASA (Ciclo da Água no Saneamento), que organiza campanhas de esclarecimento sobre gastos com água e uso adequado do sistema de esgoto.
Segundo a prefeitura, mais de 200 escolas já receberam campanhas do CASA, ações valiosas para uma região considerada de estresse hídrico e dependente principalmente das águas do rio Atibaia. A redução das perdas na distribuição de água em Campinas, hoje em 19% –metade da média brasileira, de 38%–, diminuiu a pressão sobre o rio.
Nelson Arns Neumann também lembra o impacto que a melhora em serviços de saneamento tem em termos de autoestima e na vida prática do cidadão, particularmente as mães de crianças sofrendo de diarreia. "Ao ter de cuidar da criança, a mãe deixa de trabalhar." A criança doente, por sua vez, não vai à escola.
A ligação entre saneamento básico e ambiente vai muito além do impacto de esgoto ou resíduos sólidos em cursos d’água ou galerias. "A infraestrutura mais importante para o planeta neste momento é o saneamento", afirma Gesner Oliveira, consultor e sócio da GO Associados e ex-presidente da Sabesp. "O setor é crucial para enfrentarmos o extremo climático, tanto a escassez hídrica como a enchente."
Os investimentos visando a universalização dos serviços de saneamento levam a soluções que melhoram a relação com o ecossistema e a transformações mais amplas. "O saneamento na verdade é um grande locus [palco] de soluções ambientais", diz Oliveira, que considera o ciclo da água "um ‘hub’ natural de reutilização, de economia circular". "A empresa de saneamento pode ganhar dinheiro usando lodo, que é um resíduo do tratamento de esgoto, para fazer fertilizante orgânico", lembra. "Ela pode fazer material de construção, pode fazer água de reúso."
As inúmeras possibilidades geradas pela universalização do saneamento podem transformar a realidade brasileira atual. "Nós lançamos 5.253 piscinas olímpicas de esgoto bruto por dia em nossos rios e mares", diz Luana Siewert Pretto.
Essa situação e a pressão da população, afirma a executiva, precisam sensibilizar os políticos do país, especialmente os prefeitos que serão eleitos em outubro, a "não terem uma visão de governo, mas sim uma visão de Estado". "O político não necessariamente estará colhendo os resultados na sua gestão", diz.
"Quando falamos em saneamento básico, estamos falando de resultados perpétuos, de crianças que deixam de morrer, de desenvolvimento social da futura geração, de escolaridade média maior, de renda média futura maior. E isso não se colhe em quatro anos de governo."
Líder de ranking, Maringá colhe frutos da universalização
A paranaense Maringá, líder do mais recente ranking do saneamento do Instituto Trata Brasil, oferece evidências da estreita relação entre serviços de água e esgotamento sanitário e qualidade de vida. O município universalizou seus serviços. Hoje, 99,99% da população é atendida com água potável e com coleta e tratamento de esgoto.
A cidade adotou um conceito de "cidade verde", com 150 mil árvores para uma população de 410 mil pessoas. Também ostenta bons dados em educação. Em agosto, a cidade obteve o melhor resultado de sua história no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), com nota de 7,2, a mais alta do Paraná.
Desde sua fundação, em 1947, Maringá contou com uma legislação exigindo rede de esgoto em novos loteamentos. Nos anos 1980, a empresa municipal passou para o estado, que até hoje cuida dos serviços de saneamento em Maringá, por meio da companhia estadual Sanepar.
Entre as ações ambientais da cidade, servida pelas águas do rio Pirapó, estão a criação do Instituto Ambiental de Maringá, responsável pela legislação municipal para o setor, e projetos como o Rio Limpo, que inclui sistema de retenção de resíduos sólidos para evitar que cheguem aos cursos d’água.
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha