Seu papel na sala de aula passa a ser o de mentor que orienta os alunos; especialistas alertam para a formação
Para que o novo saber chegue ao aluno, será necessária uma nova forma de ensinar. A BNCC não mexe só no conteúdo. Ela também pede um novo professor em sala de aula. O documento propõe uma transformação na atuação do educador: sai de cena o detentor único do saber e entra o mediador, o tutor, que mostra caminhos, orienta e auxilia, mas deixa o aluno trilhar a sua via na construção do conhecimento.
"O professor terá que se reinventar. Isso significa jogar fora tudo o que sabe? Claro que não. Mas ele terá de pensar de forma diferente. O ensino enciclopédico, à base de muito conteúdo para ser decorado, tende a acabar", afirma Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS.
Essa mudança pedirá a adoção de novas ferramentas pedagógicas. Nem todos os docentes do país, porém, sentem-se ou estão preparados para o desafio. Por isso, a escola será fundamental para auxiliá-los.
Para o SAS, o sucesso da base depende da formação adequada dos docentes. Por isso, seus profissionais têm viajado pelo país para apresentar a BNCC a professores e gestores de escolas parceiras. "Muitos ainda nem abriram o documento. É preciso começar já", alerta Bruno Batista, gerente de Consultoria Pedagógica.
No Parthenon, em Guarulhos (SP), a discussão da base começou há dois anos, com reuniões semanais dos coordenadores. "É uma mudança de paradigma. Não se consegue essa nova postura diante do aprendiz só lendo teorias. É necessário que o coordenador assista às aulas, reflita, proponha coisas. O processo acontece de forma lenta", diz a diretora pedagógica Simone Taham.
Uma preocupação de especialistas em educação é a formação dos docentes nas faculdades, distanciada da realidade da sala de aula. Para buscar essa aproximação, o governo federal lançou, em 2017, a Política Nacional de Formação de Professores, que visa a melhoria da formação dos educadores e a criação de uma Base Nacional Docente, com conteúdos curriculares comuns aos cursos de licenciatura.
O Parthenon investe em uma "ponte" com a academia, com estágios e postos de professor assistente a alunos de graduação. "Olhamos para a faculdade e pensamos em formas de fazer com que as pesquisas importantes que estão sendo feitas tenham reflexo em sala de aula", diz Enéas Prado, coordenador de matemática.
Outro item que requer atenção é o material didático, que deve estar adequado à base e ao projeto das instituições. "A escola precisa ler o material, analisar, acrescentar e tirar coisas. Usamos soluções educacionais do SAS e temos uma troca de ideias muito boa com eles", afirma Eduardo de Oliveira, coordenador do ensino médio do Parthenon.
A partir de 2019, o SAS já terá todo seu material didático adequado à BNCC. Para isso, conta com um time de 150 profissionais trabalhando na revisão tanto de seus livros impressos quanto dos conteúdos digitais, como videoaulas, bancos de questões, entre outras ferramentas e serviços.
Estúdio Folha | ||
Famílias precisam se tornar parceiras
A transformação da educação passa também por uma mudança nas famílias. A maioria dos pais das crianças que serão impactadas pela BNCC cresceu em uma escola diferente da que os filhos deverão conhecer. Ajudá-los a entender a nova base e a importância dos conteúdos que extrapolam o que está escrito nos livros é mais um desafio para docentes e gestores.
"Será necessário mostrar à família essa nova perspectiva de formação para que ela entenda o novo momento e supere suas inseguranças", diz Alberto Serra, diretor de Consultoria Pedagógica do SAS.
A informação dos pais tem que passar, necessariamente, pela escola. No Colégio Ari de Sá, em Fortaleza (CE), encontros para a apresentação da base e do novo currículo já estão no planejamento deste ano. Após o estudo do texto, da discussão com professores e da definição do novo programa da escola, serão feitas reuniões com os pais.
"A escola, no sentido mais amplo, precisa abrir as portas para as famílias, para mostrar como o trabalho vai acontecer e como os seus filhos, de fato, irão aprender. Como sempre, os pais precisam estar juntos no processo", afirma a diretora de ensino do fundamental 2 do Colégio Ari de Sá, Luciana Colaço.
Paralelamente ao processo de formação de professores, o SAS tem realizado um trabalho com os coordenadores das escolas parceiras. A meta é ajudá-los a antecipar necessidades, a perceber lacunas e começar a resolver problemas relativos à implementação da base curricular. "Vivemos num país continental, com grande diversidade de realidades. Ainda há dúvidas e inseguranças", diz Serra.
Fonte: Governo Federal e Censo Escolar | ||