Vinho e surfe estão na mira dos projetos de turismo do ministério português

Emiliano Capozoli/Estúdio Folha/.

Há tempos Portugal é reconhecido como um país de tradição vinícola.

A produção nacional de vinho oscila em torno de 6,5 milhões de hectolitros anuais. Uma das primeiras regiões vinícolas demarcadas no mundo é a do Douro, que começou a ser estabelecida em 1756 por esforço do marquês de Pombal. Atualmente, cerca de 120 países importam os vinhos portugueses.

Apesar de todo esse reconhecimento, Portugal quer mais.

Com uma oferta tão grande e tão variada, o país vem trabalhando cada vez mais para associar o vinho ao turismo.

Segundo Nuno Fazenda, diretor do Departamento de Gestão e Estratégia do Turismo de Portugal, o país, apesar de toda essa presença na produção vinícola mundial, ainda carece de um casamento mais profundo entre vinho e turismo.

Segundo ele, Portugal ainda não é um destino de enoturismo.

E é por isso que o governo vem investindo cada vez mais nessa área, promovendo feiras, palestras e workshops e estimulando a criação de oferta e a iniciativa privada.

O diretor conta que o programa do governo português se baseia em quatro pilares: na valorização dos territórios vinhateiros e na qualificação da oferta dos recursos humanos, das infraestruturas e dos serviços.

O país já tem sete rotas vinícolas definidas –como a do Douro,, a do vinho verde Alvarinho e a da Bairrada–, e o objetivo do programa é desenvolvê-las e profissionalizá-las cada vez mais.

Na cidade do Porto -na verdade em Vila Nova de Gaia, na margem oposta do rio Douro–, está um exemplo do investimento privado no setor de enoturismo.

Em 2010, foi aberto o hotel The Yeatman, um empreendimento que busca associar turismo e vinho, especialmente o vinho do Porto.

O Yeatman é o primeiro hotel vínico de luxo do mundo. "No Yeatman, o hóspede está a respirar vinho o tempo todo, em todos os ambientes", afirma Beatriz Machado, representante do hotel.

O nome do hotel vem da família britânica Yeatman, que desde 1838 se dedica à produção e ao comércio do vinho do Porto.

No hotel, estão representadas todas as vinícolas importantes que produzem vinho do Porto. Assim, não é necessário ao turista visitar uma por uma todas as caves dessas vinícolas para conhecer sua história e degustar seus produtos.

Para confirmar o sucesso do projeto, Beatriz Machado conta que a taxa de ocupação média do Yeatman tem sido de 90%, prova de que o turista está mesmo interessado em conhecer o vinho português e associá-lo à sua viagem.

O próximo passo do empreendimento é o World of Wine, um espaço ao pé do hotel que vai transformar 30 mil m² de antigos galpões em museus e em áreas de exposição. A história do vinho, da moda e da arquitetura, além de uma escola de vinho, estarão ali representados.

SURFE

Se vinho e Portugal são há séculos palavras que remetem uma à outra, o mesmo não se pode dizer, ainda, de surfe e Portugal. Mas ressalte-se o "ainda".

Há cerca de dez anos, não havia quem ligasse o país a esse esporte. Hoje já não se dá o mesmo.

"Portugal entrou definitivamente, há cerca de dez anos, na rota do surfe mundial", diz o jornalista Fernando Iesca, 37, surfista amador e editor do portal Waves.

A razão para isso? Não só, mas principalmente, a "onda da Nazaré", a monstruosa formação que chega a atingir 30 metros de altura e é sonho e pesadelo dos surfistas de ondas gigantes.

Graças a um cânion submarino que começa a 210 km da costa e termina a poucos metros da areia, a onda que ali se forma é única, e atrai praticantes de todo o mundo.

Para se ter uma ideia da importância da "onda da Nazaré", os dois recordes mundiais de ondas gigantes foram quebrados ali, e por dois brasileiros. No feminino, Maya Gabeira, em 2018, surfou uma onda de 20,9 metros. No masculino, um ano antes, Rodrigo Koxa encarou uma de 23,7 metros.

A onda começou a ficar conhecida quando, em 2009, Garret McNamara, um surfista havaiano, conheceu-a e decidiu que iria surfá-la.

À mesma época, o governo português também decidiu promover o surfe no país, mas não apenas por razões econômicas, como explica Lídia Monteiro, diretora de marketing do turismo de Portugal.

"Queríamos associar Portugal ao surfe e aos atributos positivos que ele carrega, representado por um certo estilo de vida, de relação com o mar e com respeito pela natureza. O surfe tem permitido posicionar Portugal como um destino turístico jovem, criativo e ambientalmente sustentável", conta, dizendo que o surfe é bem mais importante do que a receita direta que ele proporciona ao país.

E Portugal oferece muito mais do que uma única megaonda. Desde os supertubos em Peniche, à reserva mundial de surfe na Ericeira, à onda mais comprida da Figueira da Foz ou mesmo em pleno Atlântico, no arquipélago dos Açores.

A convite do governo português, Iesca foi ao país no ano passado para mapear os "points" de surfe. "É impressionante. Encontramos mais de cem points de surfe. Muitos já conhecidos dos surfistas, mas muitos desconhecidos, aos quais só se chega com um 4x4", conta o jornalista.

O mapeamento feito por Iesca durante os 40 dias de viagem renderam 60 horas de filmagens –muitas com drones– que servirão de base para a produção do documento "Destinos do surfe em Portugal".

A diretora do Turismo de Portugal diz que hoje o país é o 3º destino mundial de surfe e o primeiro destino europeu, nas pesquisas sobre surfe no motor de busca da Google e ressalta que a multiplicidade de spots localizados a uma curta distância uns dos outros e as condições naturais e climatéricas favoráveis garantem a existência de ondas de qualidade durante todo o ano e para todas as categorias de atletas: profissionais, amadores, iniciantes, crianças...