Crea-SP amplia atuação e promove políticas que tornam cidades inteligentes

Tema foi discutido em simpósio realizado em São José dos Campos; entidade quer profissionais como agentes de transformação nos municípios

Evento promovido pelo Crea-SP reuniu 3.000 participantes no Parque Tecnológico, em São José dos Campos

Evento promovido pelo Crea-SP reuniu 3.000 participantes no Parque Tecnológico, em São José dos Campos Lucas Lacaz Ruiz/A13/Estúdio Folha

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP) promoveu nos dias 18 e 19 de março, em São José dos Campos (SP), o Simpósio Nacional de Cidades Inteligentes, junto com o 19º Seminário Estadual de Fiscalização e o Colégio Estadual de Inspetores. Os eventos reuniram cerca de 3.000 participantes no Parque Tecnológico do município, entre engenheiros, gestores públicos, conselheiros, inspetores e agentes fiscais da entidade.

O Simpósio marcou a conclusão de um trabalho no qual inspetores do Crea-SP mapearam problemas dos municípios paulistas e produziram um relatório com soluções de engenharia baseadas em conceitos de Cidades Inteligentes (leia aqui).

Segundo o presidente do Crea-SP, Vinicius Marchese, o relatório e o Simpósio representam uma ampliação da atuação da instituição. "São discussões que vão além da fiscalização. Passamos a pensar as cidades inteligentes", disse. "Não há condições de a engenharia não participar dessas discussões", acrescentou.

"Um dos nossos objetivos é conectar pessoas que podem transformar municípios com exemplos que funcionam".
Vinicius Marchese, presidente do
Crea-SP

A presença de profissionais de todo o estado garantiu capilaridade à disseminação dos conceitos de cidades inteligentes pelos municípios paulistas. "Está ocorrendo a criação de um ecossistema para solução de problemas reais", afirmou Marchese.

No painel "Cidades Inteligentes na Prática", por exemplo, foram apresentadas práticas bem-sucedidas adotadas em São José dos Campos, Rio de Janeiro e Foz de Iguaçu (PR). "Um dos nossos objetivos é conectar pessoas que podem transformar municípios com exemplos que funcionam", declarou Marchese.

A mobilidade urbana foi tema de três painéis: "Mobilidade Inteligente", "Mobilidade e o Trabalho" e "Inovação em Mobilidade". Os exemplos apresentados mostraram que planejamento, flexibilidade e ações integradas são fundamentais para o sucesso das iniciativas na área.

No painel "Sustentabilidade: Cidades Por e Para Mulheres" foi destacada a importância da participação dos vários segmentos da sociedade na formulação de políticas públicas. "Temos que entender o cidadão, entender a configuração da localidade", disse Nádia Sudário, CEO da Geomutt Engenharia Urbana.

Na área de fiscalização, o Crea-SP celebrou os números recordes atingidos em 2021 (291,5 mil ações) e anunciou meta de alcançar 400 mil em 2022.

Futuro das cidades

O presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), Joel Krüger, destacou que "debater o futuro das cidades" significa "discutir os problemas da sociedade" brasileira, já que mais de 80% da população reside em áreas urbanas.

Cidades inteligentes são aquelas cujas políticas têm foco centrado no cidadão e que usam os recursos de forma eficiente para promover o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida de seus habitantes. O uso da tecnologia é um meio para tanto.

Daí a escolha de São José dos Campos para realizar os eventos. Em março, a cidade foi certificada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) como a primeira inteligente do Brasil. Foram avaliados 276 indicadores contidos em três normas da Organização Internacional de Normalização (ISO). O município é o 80º do mundo a receber tal status.

"Ações de cidades inteligentes envolvem engenharia. Não tenho dúvida de que a escolha do tema pelo Crea já está fazendo a diferença", disse o prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth (PSD). O Parque Tecnológico da cidade integra o conjunto de iniciativas que levou à certificação, pois reúne no mesmo lugar empresas, universidades, centros de pesquisa e órgãos públicos.

Capacitação

Profissionais podem ser agentes de transformação, diz presidente

Vinicius Marchese, presidente do Crea-SP, na sessão de abertura do evento
Vinicius Marchese, presidente do Crea-SP, na sessão de abertura do evento - Lucas Lacaz Ruiz/A13/Estúdio Folha

O relatório produzido nos Colégios Regionais de Inspetores do Crea-SP e o Simpósio Nacional de Cidades Inteligentes tiveram entre seus objetivos incluir conceitos de cidades inteligentes no dia a dia dos profissionais representados pela entidade. Além de engenheiros e agrônomos, o Crea reúne geólogos, geógrafos, meteorologistas e tecnólogos.

"A criação de uma cultura voltada para esses conceitos é um dos nossos objetivos", disse Vinicius Marchese, presidente do Crea-SP. Para ele, a capacitação oferecida fará com que conselheiros, inspetores e fiscais sirvam como agentes de transformação em seus municípios de origem. Os profissionais e suas associações de classe podem ajudar na sensibilização do poder público.

De acordo com Marchese, iniciativa inédita nos 88 anos do Crea-SP, a capacitação dos profissionais irá resultar no "desenvolvimento de iniciativas para impactar positivamente a vida das pessoas".

Em sua avaliação, a discussão de temas como saneamento, monitoramento ambiental, iluminação inteligente, segurança, mobilidade e conectividade vai "auxiliar os municípios no desenvolvimento de projetos que solucionem seus principais desafios".

Marchese afirmou que o relatório fez com que os profissionais levantassem os problemas de suas cidades e, ao mesmo tempo, formulassem soluções adequadas para realidades específicas. "Iniciativas inovadoras não saem de um gabinete. Pelo contrário, foram idealizadas por quem está na ponta da atividade."

Para Marchese, o estudo trouxe propostas bastante elaboradas e revelou também que há muita desigualdade entre os municípios paulistas no que diz respeito a práticas de cidades inteligentes. "Há bons projetos espalhados por aí, mas há também precariedades na prestação de serviços básicos."

Algumas das propostas apresentadas demonstram isso, pois sugerem ações simples, como construção de ciclovia, iluminação de ruas, coleta seletiva e saneamento básico, indicando que esses serviços nem sequer existem em determinadas cidades. A esperança agora é que conceitos de cidades inteligentes sejam utilizados nesses municípios

Formação

Educar e capacitar são essenciais ao desenvolvimento dos municípios

Painel "Cidades Inteligentes na Prática", no simpósio promovido pelo Crea-SP
Painel "Cidades Inteligentes na Prática", no simpósio promovido pelo Crea-SP - Divulgação

Educação e capacitação de profissionais são essenciais para o desenvolvimento de cidades inteligentes, segundo os participantes do painel "Cidades Inteligentes na Prática", parte do simpósio promovido pelo Crea-SP, em São José dos Campos. "Educação tem que ser prioridade", disse Felício Ramuth (PSD), prefeito do município e participante do evento.

Dados exibidos no painel mostram que o Brasil vai precisar de mais um milhão de profissionais das áreas de tecnologia até 2030, incluindo engenheiros, mas apenas um é formado atualmente para cada dez advogados e administradores de empresas. Ou seja, haverá muita oportunidade de trabalho para o segmento.

Felipe Peixoto, coordenador de Cidades Inteligentes da Prefeitura do Rio de Janeiro, destacou que a pandemia de Covid-19 e o aumento da demanda por serviços tecnológicos evidenciaram um "grande apagão na capacitação de mão de obra". "Precisamos formar pessoas para suprir a demanda de empregos tecnológicos."

Gerente do Centro de Tecnologias Abertas do Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), Willbur Souza acrescentou que tecnologia e inovação "têm que ser trabalhadas desde a base", e reforçou a importância da formação de profissionais nas áreas Stem, sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Ramuth contou que entre as iniciativas que levaram à certificação de São José dos Campos como a primeira cidade inteligente do Brasil estão a adoção do ensino de empreendedorismo nas escolas e a criação do Parque Tecnológico, que reúne estudantes universitários com empresas e centros de pesquisa.

Outro desafio, segundo o prefeito, é que os marcos legais no Brasil não têm a mesma velocidade do desenvolvimento de tecnologias e soluções inovadoras, obrigando o gestor público a correr certos riscos. "É importante ter vontade política", afirmou.

Sobre esse tema, Souza relatou que a Prefeitura de Foz do Iguaçu criou por decreto um "sandbox", área do município onde as leis municipais são flexibilizadas para que funcione como campo de testes para iniciativas ligadas aos conceitos de cidades inteligentes.

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