Crea-SP realiza ações para ampliar presença e relevância das mulheres

Mais mulheres ocupam cargos na direção do Conselho, que investe em iniciativas para aumentar a participação feminina na área tecnológica

Profissão historicamente de predominância masculina, a engenharia vê o número de mulheres na área crescer e seu futuro promete ser ainda mais feminino. Hoje elas já são maioria em ao menos seis cursos de graduação de engenharia, como de bioprocessos e biotecnologia e química, segundo o último Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação.

Ao menos em uma engenharia, a de alimentos, já há mais mulheres atuando no estado de São Paulo, de acordo com o Crea-SP, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia. O registro no Conselho é obrigatório para exercer a engenharia em todas as suas modalidades. Nos mais de cem títulos de graduação que estão subordinados ao conselho paulista, 80 têm mulheres registradas.

"A realidade de hoje é bem diferente de quando eu entrei na faculdade, por exemplo. Os dados do Censo já apontam isso, e a tendência para os próximos anos é de um verdadeiro ‘boom’ de engenheiras. A demanda por tecnologia só cresce e isso possibilita que mais meninas e mulheres tenham a chance de se desenvolver profissionalmente na área tecnológica", afirma a engenheira civil Lígia Marta Mackey, vice-presidente do Crea-SP e que ocupa interinamente a presidência da entidade desde abril deste ano.​

Ligia Marta Mackey, presidente do Crea-SP
Ligia Marta Mackey, vice-presidente do Crea-SP - Divulgação

As mulheres são primordiais para que possamos construir soluções para os problemas sociais de moradia, transporte, trabalho, infraestrutura, saneamento e tantos outros

Lígia Marta Mackey

Vice-presidente do Crea-SP

Apesar de avanços, ainda há um longo caminho a percorrer. Atualmente, elas são apenas 15% do total de profissionais das engenharias, agronomia e geociências inscritos em todo o Brasil. Esse quadro é ruim não só para as mulheres, mas para toda a sociedade. A participação feminina na formulação de políticas públicas é considerada requisito básico para a criação de cidades sustentáveis e inteligentes.

"As mulheres são primordiais para que possamos construir soluções para os problemas sociais de moradia, transporte, trabalho, infraestrutura, saneamento e tantos outros, oferecendo segurança e uma melhor qualidade de vida para pessoas, sem qualquer distinção", diz a dirigente.

O Crea-SP está comprometido com a igualdade de gênero, uma das 17 metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para que todos tenham uma vida digna, próspera e pacífica até 2030. Para isso, o conselho promove iniciativas que fortalecem a presença feminina.

A instauração do Comitê Programa Mulher e o lançamento de uma cartilha sobre o tema, no ano passado, foram as primeiras de uma série de ações formais. A representação feminina na direção do Conselho demonstra, na prática, a relevância e o espaço que as mulheres vêm conquistando. Mackey destaca outras mulheres em cargos-chave dentro do Crea-SP, uma delas é a engenheira Maria Edith dos Santos, superintendente de Fiscalização. "A nossa função é fiscalizar o exercício da profissão e quem comanda toda essa parte em São Paulo é uma engenheira, funcionária de carreira do Crea-SP, com 35 anos de casa."

Foi na gestão de Maria Edith à frente da Fiscalização que o Crea-SP bateu o recorde de ações fiscalizatórias em 2021 - foram mais de 190 mil.

Mackey é a segunda mulher a ocupar a presidência interinamente nos 88 anos do Crea-SP. "Nossa cultura e nossa sociedade ainda são machistas. Antigamente era bem mais difícil, a gente tinha que ficar provando nossa capacidade. Porém, com a participação feminina crescendo, isso está mudando", lembra.

A presidente interina do Crea-SP conta que a primeira mulher a se formar na área só conseguiu ingressar na universidade em 1940, quase 150 anos depois da fundação da primeira faculdade de engenharia do Brasil, em 1792. "Ter mais mulheres no exercício da engenharia é uma questão de reparação histórica. Afinal, o que faz com que um profissional seja bom não é o gênero, é seu comprometimento, dedicação, capacidade técnica e responsabilidade."

As mulheres que já estão estabelecidas na carreira podem contribuir de forma crucial nesse processo. "É preciso que elas assumam papéis de liderança. O que as engenheiras podem fazer é ingressar na entidade de classe de sua região, ajudando na promoção da capacitação profissional de outras mulheres, e se envolvendo no ecossistema com participação efetiva nas atividades das associações e do conselho", afirma Mackey.

Quanto mais mulheres se envolvem na área, mais portas se abrem. "É assim que outras poderão vislumbrar os diversos campos de atuação da engenharia como possibilidade. É identificação, reconhecimento e aquele sentimento de ‘Se ela conseguiu, eu também posso’."

Para mais informações, acesse http://creasp.org.br/programamulher.