A incorporação de novas tecnologias é um dos grandes desafios da saúde pública e privada. Segundo os especialistas, por gerar impactos financeiros e operacionais, a decisão de adotar inovações precisa contar com processos de validação baseados em critérios objetivos. Para isso, existe a metodologia cientÃfica Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS), que fornece diferentes parâmetros para analisar os benefÃcios e os custos de novos tratamentos, exames, medicamentos, terapias ou equipamentos de saúde.
O tema foi discutido no painel "ATS na qualificação do acesso e sustentabilidade", que reuniu Cassio Ide Alves, superintendente médico da Abramge; Vanessa Teich, diretoria de economia da saúde do Hospital Israelita Albert Einstein; e Alexandre Fioranelli, diretor da Dipro (Diretoria de Normas e Habilitação dos Produtos) da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
"Estamos vivendo mais e as demandas relacionadas principalmente às doenças crônicas aumentaram. Mas já existe uma série de bons tratamentos e isso traz o desafio de analisar quais realmente agregam valor à saúde e satisfazem as reais necessidades dos pacientes e do setor de saúde", afirma o médico Cassio Alves. "É uma decisão complexa, mas o uso de ATS permite aos gestores fazerem as melhores escolhas."
Temos hoje uma série de bons tratamentos e o desafio é analisar quais realmente agregam valor à saúde e satisfazem as necessidades dos pacientes. É uma decisão complexa, mas o uso de ATS permite fazer as melhores escolhas
Nos últimos dois anos, a ANS incorporou 65 novas tecnologias ao sistema de saúde suplementar. Dessas inovações, cerca de 23 foram analisadas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), órgão responsável por auxiliar o Ministério da Saúde no processo de inclusão, exclusão ou modificação de tecnologias na saúde.
Quando uma tecnologia é aprovada pela Conitec, a saúde suplementar tem um prazo legal de 60 dias para incorporá-la. "No SUS, essa incorporação pode levar de 2 a 3 anos, mas as operadoras precisam cumprir esse prazo menor", afirma Alves.
Avaliação e incorporação
Como as novas tecnologias são avaliadas pela ANS? Alexandre Fioranelli explica que o rol, lista de procedimentos, exames e medicamentos que fazem parte da saúde suplementar, é dinâmico e a agência recebe de forma contÃnua propostas de atualização, que por lei precisam ser avaliadas em um espaço de seis meses, prorrogáveis por mais 90 dias.
Toda nova tecnologia passa então por um processo de ATS que inclui análise se é ou não elegÃvel, se oferece segurança ao paciente e se é eficaz para o que propõe. "Outro ponto importante é a avaliação de sustentabilidade econômico-financeira, ou seja, quanto custa essa nova tecnologia em relação ao benefÃcio que traz para o paciente", afirma Fioranelli.
A ATS existe porque temos limitação de recursos. Se o dinheiro fosse infinito, a preocupação seria só com a segurança e a eficácia das novas tecnologias, mas temos que nos preocupar também com seu custo
Respondidas essas questões por parte da equipe técnica da ANS, faz-se então uma consulta ou audiência pública. No ano passado, a agência recebeu quase 25 mil contribuições. Depois disso, a ANS decide sobre a incorporação ou não da nova tecnologia.
Para Vanessa Teich, que estuda ATS há 17 anos, essa ainda é a melhor ferramenta disponÃvel. "A ATS existe porque temos limitação de recursos financeiros. Se o dinheiro fosse infinito, a preocupação seria só com a segurança e a eficácia das novas tecnologias, que já é bastante coisa, mas temos que nos preocupar também com o custo", afirma.
Os modelos de ATS são focados em condições clÃnicas especÃficas, explica Teich. A avaliação compara a nova tecnologia com o que já existe para tratar ou diagnosticar determinada doença e leva em conta também seu custo adicional. "A pergunta é: vale a pena gastar mais para ter essa nova tecnologia frente aos benefÃcios que trará para os pacientes?".
Outra questão a ser estudada, segundo ela, é a dificuldade para definir quais tratamentos devem ser priorizados na implantação de novas tecnologias.
Limiar custo x efetividade
Cassio Alves defende a implantação de um limiar de custo-efetividade em ATS que equalize a incorporação de novas tecnologias para a saúde suplementar, como já acontece no SUS. "Esse é um instrumento de gestão poderoso que vem do SUS e não é aproveitado pelo setor privado", afirma Alves.
Um ponto importante é a avaliação da sustentabilidade econômico-financeira das novas tecnologias, ou seja, quanto custa essa tecnologia em relação ao benefÃcio que traz para o paciente
Segundo Fioranelli, o limiar custo-efetividade foi discutido por mais de três anos no Ministério da Saúde. "Como o SUS tem um único pagador, pode-se discutir os valores das tecnologias e conseguir adaptar o preço ao limiar estabelecido. Entretanto, na saúde suplementar, existem 700 fontes pagadoras, o que dificulta a discussão do real valor que está sendo pago pela tecnologia bem como qual o limiar a ser estabelecido", afirma o diretor da ANS. "Na saúde suplementar, ainda temos um longo caminho a percorrer para discutir a formação de preço."
Segundo Alves, para que a metodologia ATS seja bem usada, é preciso discutir preço. "Infelizmente, por força de lei, as incorporações de tecnologia que são feitas na saúde suplementar utilizam o preço CMED, que é o preço máximo ao consumidor, como referência obrigatória", diz. A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) é o órgão do governo responsável pela regulação econômica do mercado de medicamentos no paÃs.
Alexandre Fioranelli disse que a ANS trabalha em um projeto que permitirá identificar de forma mais precisa o valor que está sendo pago por tecnologias na saúde suplementar. "Vamos conseguir fazer uma avaliação melhor do ponto de vista econômico-financeiro e aprimorar essa etapa da ATS que envolve preço", afirma o diretor da ANS.
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha