Para ampliar acesso da população, é preciso oferecer mais opções, dizem especialistas

A impossibilidade de ofertar planos de saúde mais acessíveis e a incorporação crescente de tecnologias de alto custo estão excluindo uma importante parcela da população brasileira do sistema de saúde suplementar.

Os caminhos para mitigar essa situação passam, sobretudo, por parar de tratar de maneira igual os desiguais, como afirma Sergio Vieira, diretor do Sinamge (Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo) e presidente da Abramge do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

Ao participar da mesa "Panorama da saúde suplementar", ele explica que as pequenas e médias operadoras enfrentam dificuldades cada vez maiores. "Em regiões mais distantes, não há operador oferecendo o serviço porque seria um risco. Imagine uma operadora no interior do Pará oferecer um plano de saúde com esse rol de procedimentos?".

Ele lembra, por exemplo, que o tratamento para atrofia muscular espinhal (AME), no valor de R$ 6 milhões, foi incorporado ao rol de procedimentos da saúde suplementar neste ano. "Enxergamos que doenças raras também são importantes, não negamos isso. Os casos de AME são todos importantes, mas simbolizam meu raciocínio: na medida em que vamos sofisticando as incorporações tecnológicas, que obviamente têm maiores custos, estamos excluindo os mais necessitados."

SERGIO VIEIRA, DIRETOR DO SINAMGE E PRESIDENTE DA ABRAMGE RJ/ES
SERGIO VIEIRA, DIRETOR DO SINAMGE E PRESIDENTE DA ABRAMGE RJ/ES - Masao Goto Filho/Estúdio Folha

Se a gente quiser incorporar tudo o que existe de avanço tecnológico, de terapias, chega a um valor que precisará ser subsidiado pelo governo

Sergio Vieira

Diretor do Sinamge e presidente da Abramge RJ/ES

Ao excluir os que mais precisam, o Brasil segue tendo um aumento de mortes por doenças cardiovasculares e de casos de câncer. "O câncer de pele, por exemplo: o começo da prevenção, do tratamento, é uma consulta. Não tem nada sofisticado. Assim como pneumonia e outras doenças respiratórias, nas quais há um relevante número de mortes de crianças, que poderia ser evitado, inicialmente, com uma consulta."

Lenise Secchin, secretária-executiva da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), também presente à mesa, lembra que outra dificuldade é fazer com que os principais integrantes do sistema entendam que as soluções dependem de todos.

Secchin ressalta o fato de que a prevenção ainda é muitas vezes subestimada pelo setor. "Temos quase 51 milhões de beneficiários, mas apenas 2 milhões têm acesso ao Promoprev (Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças). Desse jeito, vamos deixar de ser um setor de saúde para sermos um setor de doença", diz.

LENISE SECCHIN, SECRETÁRIA-EXECUTIVA DA ANS
LENISE SECCHIN, SECRETÁRIA-EXECUTIVA DA ANS - Masao Goto Filho/Estúdio Folha

A ANS tem o desafio de fazer uma regulação econômica e social, adequar todos os requisitos financeiros com o bem-estar das pessoas, a qualidade de vida, e a sustentabilidade

Lenise Secchin

Secretária-executiva da ANS

A secretária executiva da ANS diz que é preciso retomar o sentido da "coletividade" e entender que a sustentabilidade da saúde suplementar é relevante para toda a sociedade. "A ANS tem o desafio de fazer uma regulação econômica e uma regulação social, adequar todos os requisitos financeiros com o bem-estar das pessoas, a qualidade de vida, e a sustentabilidade. Não é fácil nem é uma tarefa apenas da agência, é de todos que participam desse setor, por isso que esse debate é tão importante."

Gustavo Ribeiro, vice-presidente do grupo Hapvida NotreDame Intermédica, ressalta a importância vital dos planos de saúde para o sistema público. "O SUS não conseguiria ser o que é hoje, em termos geográficos, de orçamento e de parque hospitalar, se o nosso setor não estivesse aqui."

GUSTAVO RIBEIRO, VICE-PRESIDENTE DO GRUPO HAPVIDA NOTREDAME INTERMÉDICA
GUSTAVO RIBEIRO, VICE-PRESIDENTE DO GRUPO HAPVIDA NOTREDAME INTERMÉDICA - Masao Goto Filho/Estúdio Folha

O SUS não conseguiria ser o que é hoje, em termos geográficos, de orçamento e de parque hospitalar, se o nosso setor não estivesse aqui

Gustavo Ribeiro

Vice-presidente do Grupo Hapvida NotreDame Intermédica

Como exemplo, Ribeiro cita a Fundação Zerbini, que administra o Incor, Instituto do Coração, em São Paulo, onde ele foi vice-presidente. "A Fundação Zerbini/Incor tem 80% de pacientes do SUS e 20%, de plano de saúde. Os planos de saúde representavam – e acredito que isso não tenha mudado – mais de 50% da receita do hospital. É uma verdadeira repartição de riqueza que vem dos planos de saúde, possibilitando que o Incor continue atendendo 80% da sua massa no SUS."

Ribeiro e Vieira defendem que a subsegmentação é uma das saídas para ampliar o acesso da população ao sistema de saúde suplementar. Mas não só. "Também precisamos fazer a nossa parte", diz Vieira. Ele defende a necessidade de uma carteira de saúde, para reunir todos os dados do paciente, e evitar o desperdício em exames e consultas.

*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha