As vacinas são a melhor arma contra o novo coronavÃrus. Salvaram quase 20 milhões de vidas apenas no primeiro ano dos programas de imunização, iniciados em dezembro de 20201. Um grupo de pacientes, porém, sempre preocupou os especialistas. De 2% a 3% da população global seguem altamente suscetÃveis à infecção pelo SARS-CoV-2. Com as defesas do organismo debilitadas, os imunocomprometidos não respondem com tanta eficiência aos imunizantes –de qualquer tipo, não apenas contra o novo coronavÃrus.
Em linhas gerais, há dois tipos de imunodeficiência. As primárias, também chamadas de erros inatos de imunidade, são caracterizadas por mutações genéticas associadas ao enfraquecimento do sistema de defesa do organismo, tornando seu portador mais suscetÃvel a infecções. Com um caso em 2 mil a 10 mil nascidos, compõem um conjunto de cerca de 400 doenças2,3. Entre elas, estão as sÃndromes de DiGeorge e Wiskott-Aldrich. A imunossupressão secundária, por sua vez, decorre de outras enfermidades ou tratamentos. Portadores do HIV, o vÃrus da Aids, pacientes em quimioterapia ou submetidos a transplantes integram esse segundo grupo de imunocomprometidos.
A imunodepressão não torna ninguém mais suscetÃvel à infecção pelo novo coronavÃrus. O risco segue o mesmo padrão da população em geral. Quando contaminados, porém, esses pacientes costumam desenvolver a forma mais grave da doença. Dos vulneráveis, os mais fragilizados são os transplantados de órgão sólido –cerca de 100 mil a 120 mil pessoas, no Brasil, informa a infectologista Ligia Pierrotti, do Grupo de Infecção em Imunodeprimidos, do Hospital das ClÃnicas (HC), de São Paulo. "No HC, a mortalidade de pacientes internados em decorrência da Covid-19 é de cerca de 25%", diz ela. "Na fase da variante ômicron, essa taxa chegou a 60%." Na virada de 2021 para 2022, poucos já haviam recebido o reforço vacinal contra o novo coronavÃrus. Quanto mais imunizantes os imunodeprimidos recebem, mais aptos eles ficam para enfrentar a infecção pelo novo coronavÃrus. "Alguns pacientes só começam a produzir anticorpos a partir da segunda, terceira dose", lembra Ligia.
Se para a população em geral é importante seguir à risca o cronograma de imunização, para esses pacientes é imprescindÃvel manter as vacinas em dia. Segundo um estudo do CDC (Centers for Disease Control and Prevention, dos Estados Unidos), as doses de reforço foram fundamentais para diminuir os riscos de morte e de internações. O trabalho dos pesquisadores americanos mostrou que, durante o surto da variante ômicron, as taxas de hospitalização e de mortalidade foram 7 e 21 vezes menores, respectivamente, entre os imunodeprimidos vacinados, em comparação aos não imunizados.
Os especialistas também recomendam que esses pacientes mantenham o uso de máscara em locais públicos, mesmo que as medidas contra o SARS-CoV-2 tenham afrouxado, e consultem o médico com regularidade. O mesmo vale para todas as pessoas que moram na mesma casa e/ou são responsáveis pelo cuidado dos imunocomprometidos2.