São inúmeras as doenças oculares que envolvem alterações genéticas, várias delas hereditárias. E na oftalmologia os testes genéticos e as terapias gênicas têm avançado bastante, permitindo identificar as mutações genéticas responsáveis por essas condições e atuar justamente na falha que provocou essas alterações.
"Existe grande heterogeneidade genética nas doenças da retina. Por exemplo: vários genes podem causar uma mesma doença. Além disso, um gene pode causar mais de uma doença. Por isso, os testes genéticos podem auxiliar muito o diagnóstico das doenças hereditárias da retina", afirma Dra. Juliana Sallum, head de oftalmogenética da Dasa Genômica e professora afiliada do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Dra. Juliana Sallum foi uma das palestrantes do painel de oftalmologia do Genomic Summit, que contou com especialistas do Brasil e do exterior para falar dos últimos avanços em genética do segmento anterior (doenças da córnea, cristalino e glaucoma), tema da palestra do Dr. Eduardo Silva, diretor do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, em Portugal. Dentre os temas também estavam distrofias de retina (o tecido no fundo do olho que capta os estÃmulos que serão convertidos em imagens) e retinoblastoma (tipo raro de câncer ocular originado na retina, mais comum em crianças), doença abordada pelo Dr. Luiz Fernando Teixeira, médico oftalmologista do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo.
Os testes, ressalta a especialista, auxiliamn o aconselhamento genético para famÃlias que têm indivÃduos com doenças oculares de origem genética, além de direcionar o médico a analisar com mais clareza o risco de progressão da doença e outras manifestações, além da visão.
Os avanços também têm sido significativos em relação às distrofias hereditárias de retina (IRD), afirma o oftalmologista Dr. René Moya, professor adjunto de Oftalmologia na Universidade do Chile e diretor do Departamento de Retina e Genética Ocular no Hospital del Salvador em Santiago, no Chile, que também participou do painel.
Essas doenças, que provocam a degeneração progressiva da retina e a diminuição significativa ou perda total de visão, são uma das principais causas de baixa visão e cegueira na população jovem. Dr. Moya explica que mais de 80% das distrofias retinianas têm origem genética e que foram identificados mais de 300 genes associados a essas distrofias.
"Há situações em que uma grande quantidade de genes se apresenta com apenas um fenótipo (manifestação clÃnica). Por outro lado, há casos de heterogeneidade fenotÃpica, em que um gene tem diferentes apresentações clÃnicas. Ou seja, uma doença pode ser causada por vários genes ou vários genes podem causar doenças diferentes. Daà a importância dos testes genéticos", ressalta.
Os testes genéticos, como os painéis NGS (Sequenciamento de Nova Geração), analisam a sequência de genes envolvidos em cada grupo dessas doenças. O portfólio da Dasa Genômica abrange testes para problemas de retina e mácula, para doenças do nervo óptico e da córnea, catarata, glaucoma e retinoblastoma (veja quadro).
"Além da precisão do diagnóstico, o conhecimento das mutações oculares e dos mecanismos moleculares das doenças é muito importante para o estudo de novos tratamentos para as doenças degenerativas da retina", afirma Dr. Moya.
O diagnóstico etiológico, ou seja, a causa das distrofias retinianas e de outras doenças oculares, é alcançado através de testes moleculares.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou recentemente o uso de uma terapia gênica para tratar retinose pigmentar e Amaurose congênita de Leber em pacientes com mutações no gene RPE65. Além disso, outras terapias estão sendo desenvolvidas e testadas. No entanto, para que um paciente seja incluÃdo em ensaios clÃnicos ou tenha o acesso à terapia aprovada é necessário o diagnóstico etiológico com o exame molecular conclusivo.
Os testes genéticos fornecem um diagnóstico preciso. Existem vários genes relacionados a quadros oftalmológicos, e a identificação certeira é essencial
Dra. Juliana Sallum explica que, na terapia gênica, a identificação da mutação genética possibilita restaurar a função afetada. O tratamento consiste na inserção de material genético (DNA) dentro das células com finalidade terapêutica. Essas células passam a expressar a proteÃna codificada pelo DNA inserido, restituindo a função que estava alterada.
A retinose pigmentar é uma alteração genética que causa diminuição progressiva do campo visual, chegando à cegueira na adolescência. Com a terapia gênica, uma paciente brasileira que já foi submetida ao tratamento apresentou resultados positivos no primeiro mês. "É a medicina de precisão na prática", afirma a médica.