A professora de teatro Betania Gonçalves fala com amor sobre os sábados que passou com a bailarina Larissa Araújo e a musicista Cristiane Rodrigues. Encontros em que as três amigas gestaram a Em Cena Arte e Cidadania, há 20 anos, no Recife (PE). Dedicada à comunidade dos Coelhos, ela oferece curso profissionalizante de dança.
Em 2013, um incêndio na sede quase pôs fim aos trabalhos. "Pensamos em acabar. Ficamos três anos como nômades. Foi quando a comunidade nos pediu para que continuássemos", conta a coordenadora Betania.
Com o espaço recuperado, em 2017 foi criado o "Projeto Criação", que atende 40 crianças de quatro a 12 anos. Além de dança, oferece aulas de humanidades e criatividade. No Laboratório de Ideias Coletivas, educadores e mães se encontram para, enquanto elas fazem artesanato, dialogar sobre a comunidade.
Fortalecer os vínculos familiar e comunitário é também ferramenta do "Educagente", em Vicente de Carvalho, zona oeste do Rio de Janeiro, que oferece cultura, esporte, educação e lazer.
No lixão de Campo Grande (MS), foi da busca de uma mãe por lazer para o filho que surgiu o "Asas do Futuro", que já atendeu cerca de 5.000 crianças no bairro Dom Antônio Barbosa nos últimos 20 anos. Em 2017, o projeto gerou fruto. Para combater o tráfico de drogas na frente da sede da entidade e ajudar a criar uma nova relação das crianças com a comunidade, nasceu o "Olhar do Futuro". A construção de um playground foi o início. A partir daí, atividades artísticas e esportivas têm ajudado a unir população, escolas e outros atores sociais.
Tiago Calazans/Estúdio Folha | ||
Aula de dança do 'Criação' |
Dividir os saberes e o lar
Márcio Carvalho, 42, formou-se em teologia e serviço social, é pastor presbiteriano e presidente-fundador da Associação Refúgio. Define-se, porém, de outra forma. "O rato come queijo, o gato bebe leite e eu sou palhaço", afirma, emprestando a frase da personagem do ator e diretor Selton Mello no filme "O Palhaço" (2011).
Na sede da organização, no bairro Ana Rosa, em Cambé (PR), são atendidas 250 crianças e adolescentes entre seis e 15 anos. Dentre as atividades estão aulas de taekwondo, jiu-jitsu, capoeira, música, dança e circo, além de grupos de diálogo e convivência.
Conhecer o espaço da organização não dá a dimensão da jornada de Márcio pela comunidade em que também foi criado. Aos 24 anos, ele alugou uma casa de 68 m2 e chamou algumas pessoas para dividir o espaço. "Dependente químico, travesti, prostituta, gente que eu achava na rua e queria ajudar."
Fez isso por cinco anos, tempo suficiente para estudar, conhecer sua futura esposa e outras pessoas com objetivos em comum, e fundar a instituição. Ele e a mulher focaram as crianças.
Em 2006, alugaram o espaço que hoje sedia a organização e formaram uma casa-família, com quatro crianças em risco social.
No ano seguinte, iniciaram os trabalhos que uma década depois resultaram no projeto finalista "Construindo um Mundo Melhor".