O sistema financeiro brasileiro já passou por várias ondas de inovação. Agora, com a chegada do open banking, vai permitir que o consumidor compartilhe seus dados financeiros com diferentes instituições, para receber ofertas de produtos e serviços mais competitivos e adequados ao seu perfil.

Além de dar ao cliente o controle sobre seus dados, o open banking estimula a concorrência, ao abrir a outras empresas e fintechs a possibilidade de disputar esse mercado, especialmente na área de crédito.

Mas para que isso aconteça de forma eficiente será preciso ter parceiros que ofereçam infraestrutura tecnológica e serviços relacionados a conectividade, segurança, atendimento ao cliente e computação em nuvem.

A forma como isso pode ser feito foi discutida no evento ao vivo Open Banking e as Tecnologias por Trás dessa Inovação, que abriu a série de debates A Tecnologia no Próximo Nível.

O encontro reuniu Antonio João Filho, diretor executivo da Embratel, Carlos Netto, CEO e cofundador da Matera, empresa que desenvolve soluções de tecnologia para o mercado financeiro, e Marcelo França, fundador e CEO da Celcoin, fintech que conecta empresas de várias áreas ao sistema financeiro.

“Com o open banking, os consumidores vão se beneficiar com mais competição entre os agentes financeiros, que poderão oferecer taxas mais atraentes. Pelo lado das empresas, há desafios, como os cuidados com a segurança, que precisam ser intensificados, e o bom atendimento ao cliente”

Antonio João Filho, diretor executivo da Embratel

Segundo o diretor executivo da Embratel, uma das formas de aprimorar o atendimento ao cliente é com o conceito de omnicanalidade¹, ou seja, o atendimento por todos os meios pelos quais o cliente se conecta com a empresa. Esses canais precisam estar integrados para oferecer uma experiência contínua e fluída. “Um bom atendimento faz parte dessa transformação que estamos vendo agora, com a chegada do open banking”, disse Antonio João.

GESTÃO DA IDENTIDADE

Para Carlos Netto, CEO da Matera, um dos grandes desafios com o open banking será a gestão da identidade digital, para a confirmação de que o correntista é mesmo quem diz ser.

“Existem muitas formas de usar uma conta de forma indevida, e os bancos têm que ter políticas de checagem de identidade. Mas hoje isso é uma guerra de gato e rato. Criam-se cada vez mais mecanismos de proteção ao mesmo tempo que surgem novos meios de burlar esses mecanismos”

Carlos Netto, CEO e cofundador da Matera

“O melhor para o banco é trabalhar com uma empresa especializada em identidade digital e ter uma gestão de risco operacional para limitar os prejuízos”, afirmou Netto.

OPORTUNIDADE PARA FINTECHS

Segundo Marcelo França, o open banking é uma oportunidade para as fintechs, que podem se tornar o centro da vida financeira de seus clientes. “Hoje muitas fintechs já têm milhões de contas, mas a grande maioria das pessoas ainda usa os grandes bancos como primeira conta. O open banking pode estimular as fintechs a criarem experiências novas e a ancorar o cliente”, disse França.

Para que o open banking funcione de forma eficiente e segura é preciso que diversos sistemas conversem entre si com segurança. Isso vai acontecer por meio de APIs ², conjuntos de protocolos que permitem a um sistema se conectar a outro para consumir dados de forma padronizada.

“O grande desafio para os bancos que têm sistemas legados será fazer com que todos eles sejam síncronos e se conectem às APIs no momento das consultas”, afirmou Antonio João.

No caso das fintechs, que hoje não têm legado, por serem empresas novas, muitas já desenharam seus sistemas para o open banking e estão mais bem preparadas. “O que deve ser comum a esses dois grupos é o cuidado com a segurança³. É preciso que as empresas detectem as ameaças antes que aconteçam”, disse Antonio João.

A Embratel opera um centro de prevenção de ataques, com produtos e serviços para evitar ameaças e impedir que ataques massivos interfiram nas funcionalidades, especialmente na dos aplicativos usados pelos consumidores.

COMPUTAÇÃO EM NUVEM

Além de segurança, bancos, fintechs e empresas que querem aproveitar as oportunidades geradas pelo open banking terão que ter agilidade para lançar novos produtos.

A computação em nuvem⁴ ajuda a ganhar essa agilidade ao permitir que as empresas armazenem e compartilhem arquivos com praticidade e custos sob medida. “No início, os bancos tradicionais eram resistentes ao uso de nuvem, mas essa fase já foi superada e hoje temos bancos inteiros na nuvem”, afirmou Carlos Netto.

“No início, os bancos tradicionais eram resistentes ao uso de nuvem, mas essa fase já foi superada e hoje temos bancos inteiros na nuvem”, afirmou Carlos Netto.

Para Marcelo França, as fintechs, que já nasceram na nuvem, têm mais rapidez para fazer lançamentos e oferecer produtos inovadores e personalizados.

“Vamos ver que é perfeitamente possível para as fintechs começarem no open banking e serem competitivas, usando parcerias até mesmo com os bancos, para colocar projetos no ar com poucos recursos, escolhendo as peças certas”

Marcelo França, fundador e CEO da Celcoin

Segundo Antonio João, o open banking deve gerar uma transformação profunda na vida financeira das pessoas. “Um dos objetivos do Banco Central é estabelecer uma democratização maior dos meios financeiros. Mas como isso vai acontecer? Com a oferta de novos produtos e serviços que vão gerar mais inclusão financeira”, afirmou.

A segunda fase do open banking foi adiada para 13 de agosto. Com ela, os clientes poderão solicitar, junto às instituições participantes do sistema, o compartilhamento de seus dados cadastrais e informações sobre transações em contas, cartão de crédito e produtos de crédito contratados.

GLOSSÁRIO

• 1 Omnichannel - Ferramenta inteligente que integra todos os canais de atendimento da empresa (email, telefone, aplicativos etc.) em nuvem para oferecer ao usuário uma experiência contínua em todos os contatos
• 2 API - Do inglês Application Programming Interface (Interface de Programação de Aplicativos. Canal de compartilhamento de dados entre instituições. São conjuntos de protocolos que permitem a um sistema se conectar com outro para trabalhar dados de maneira padronizada
• 3 Cibersegurança - Conjunto de soluções que inclui análise de vulnerabilidade e testes de invasão, equipe de especialistas preparados para prever possíveis ameaças, identificação e correção de brechas, para manter a integridade, a confiabilidade e a disponibilidade de dados e aplicações
• 4 Cloud - Ambiente remoto, seguro e estável para empresas armazenarem e compartilharem arquivos com custos sob medida, sem precisar arcar com uma estrutura física própria de armazenamento