A tecnologia está tornando as cidades mais eficientes. E a expansão da rede 5G vai amplificar e destravar esse potencial em todo o Brasil. É isso o que afirma Maria Teresa de Azevedo Lima, diretora executiva para governo da Embratel. Responsável pelo relacionamento comercial da empresa com os governos em níveis federal, estadual e municipal, além de estatais e sociedades de economia mista – incluindo bancos públicos –, a executiva acredita que, no caso das "smart cities", inteligência é sobretudo maior eficiência na prestação e gestão de serviços. Nessa entrevista, ela explica por que seu conceito de cidades inteligentes vai além do uso de inteligência artificial e cita casos de municípios brasileiros que já deram os primeiros passos para essa nova era. Confira.
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Por que as chamadas "cidades inteligentes" são consideradas "inteligentes"?
As cidades "inteligentes" são aquelas que "pensam" na qualidade de vida dos seus cidadãos. Para mim, a inteligência das cidades está relacionada ao fato de elas serem eficientes. As "smart cities" atendem ao cidadão fornecendo melhores serviços, analisando e melhorando o tráfego urbano constantemente, digitalizando e desburocratizando processos, melhorando a segurança pública, entre outros aspectos. Não dá para melhorar a eficiência usando métodos arcaicos. É preciso usar a tecnologia. Por isso digo que ser eficiente é ser inteligente.
Quais os principais benefícios que as cidades inteligentes entregam para os governos?
A tecnologia a ser adotada para tornar a cidade inteligente entrega vários benefícios. Um deles é a redução da criminalidade por meio da adoção de medidas de segurança pública. Outra é a diminuição dos custos de transporte, que o governo alcança quando adota medidas que melhorem o tráfego urbano. Há também a redução do custo da máquina pública por meio da digitalização de processos. Sem falar dos projetos de iluminação pública e de saneamento que melhoram a eficiência do fornecimento e reduzem custos e desperdícios. Uma cidade inteligente é, sem dúvida, mais sustentável.
E para os cidadãos, quais as vantagens de viver em uma cidade inteligente?
Além de reduzir os custos da máquina pública, permitindo bom uso dos impostos, os cidadãos passam a ter uma cidade mais segura, com transporte público mais eficiente, sem custos agregados em suas contas de água e luz. E ainda ganhando tempo em todas as demandas que precisam de ação da prefeitura, com 100% dos processos digitalizados.
Na prática, quais as principais soluções que podem ser usadas pelo setor público para tornar as cidades mais inteligentes quando falamos de mobilidade e segurança?
Em mobilidade urbana, podemos falar de avaliação do fluxo de pessoas utilizando analytics associado à geolocalização, ajudando a planejar o fluxo das vias, as rotas e integrações dos modais de transportes públicos. A Embratel, por exemplo, tem um produto chamado Claro Geodata, que ajuda exatamente nesse ponto. Podemos também falar de gestão de semáforos, que passam a ser inteligentes, pois controlam o tráfego não por um tempo pré-programado, mas pelo fluxo real de momento. Em segurança pública temos uma infinidade de possibilidades, como câmeras corporais e equipamentos de vigilância que facilitam a ronda policial e detecções de ruídos (estampidos) que acionam diretamente a polícia. Temos também sistemas integrados com as operadoras para acionamento dos centros de monitoramento via celular. Podemos ainda colher exatamente a localização da vítima em tempo real, por meio de conversa via chat (caso a pessoa não possa falar) e até compartilhar imagens em tempo real do que está ocorrendo. Tudo isso deixa a polícia muito bem preparada para as ocorrências e ainda evita os famosos "trotes" nos serviços de emergência.
E como a tecnologia ajuda a reduzir ou até mesmo acabar com o desperdício de energia e de água?
Uma cidade inteligente é também uma cidade sustentável, que usa os recursos de forma eficiente e responsável. Podemos citar, como exemplo, as soluções de eficiência energética em prédios e o controle das luminárias públicas, associando as luminárias às soluções de segurança e até conectividade com wi-fi. Em relação ao desperdício de água, dá para melhorar a eficiência do sistema com a medição automática do consumo e implementar a gestão de perdas, sem necessidade de visitar todas as residências para colher a medição.
Quais os avanços em relação à prestação de serviços remotos de saúde e educação?
Na área da saúde, podemos destacar as soluções para telemedicina e para o transporte rápido de pacientes, interoperabilidade de dados dos pacientes, além da possibilidade de uma melhor gestão da armazenagem e logística dos medicamentos. Os governos podem ainda usar as soluções digitais, plataformas de educação para complementar a carga horária de estudo das crianças e jovens, tornando-os mais capacitados para competir no mercado de trabalho no futuro.
Já existem cidades que utilizam soluções desse tipo?
As cidades e as empresas brasileiras estão ganhando cada vez mais maturidade nesse tema. Nós vencemos recentemente a licitação de Eficiência Energética da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, por exemplo. Ainda falando de eletricidade, estamos com provas de conceito em desenvolvimento em prédios próprios em São Paulo, onde está sendo implantada iluminação inteligente com sensores que aumentam a eficiência operacional reduzindo custos e tempo de reparo na rede de fornecimento, além de melhorar a segurança pública, porque está comprovado que locais com melhor iluminação têm menor taxa de criminalidade. Um caso interessante é o de Gramado (RS), onde implementamos a solução Claro Geodata. Ela utiliza analytics com dados geolocalizados para gerar informações sobre a mobilidade urbana. Estamos também testando uma solução de semáforos inteligentes em outra cidade do Sul do país para controlar, monitorar e coletar dados do trânsito que, em casos de congestionamento, conseguem fazer uma melhor gestão dos tempos de abertura e fechamento, priorizando o tráfego de veículos de emergência. Outra iniciativa, dessa vez voltada para a saúde, é o Smart Monitoring da Embratel, cujo objetivo é melhorar a gestão da temperatura de armazenamento e transporte de vacinas e medicamentos, reduzindo perdas causas pela má acomodação e controle da temperatura.
A tendência é buscar cada vez mais analytics para apoiar a elaboração de projetos e de políticas públicas?
Sim. Quando olhamos o Mapa do Governo Digital, publicado em março, observamos que os municípios desejam implantar serviços preditivos, usar dados de forma estratégica, melhorar a experiência do cidadão. Tudo isso só é possível com o uso de analytics, machine learning e computação em nuvem.
E tudo já está disponível atualmente?
Parte disso já pode ser utilizado. Mas muitas potencialidades serão acrescentadas com a ampliação do 5G, que abrirá espaço para diversas automações e soluções.
Como a Embratel pode apoiar a criação de cidades inteligentes?
De diversas formas. A Embratel se coloca hoje como grande habilitador de soluções que podem ser implementadas nos municípios, nos estados e nas empresas. Temos 48 soluções em portfólio, mais as opções de projetos especiais que podem ser customizados conforme necessidade do município. Nossos produtos passam pela tradicional conectividade, tanto fixa, com serviços de redes de dados, internet e voz, quanto móvel, em soluções de voz e dados, M2M, IOT, CAT-M e NB. Além disso, temos uma gama de serviços digitais com serviços em nuvem, desenvolvimento de software e soluções de segurança digital, que é um tema super sensível hoje para estados e municípios.