Espaços de trabalho metaversos, robôs humanóides, humanos digitais, inteligência artificial ainda mais presente (em todo lugar e o tempo todo), gêmeos digitais e impressão 3D habilitando o ambiente figital. O que podemos esperar a partir do próximo ano em termos de tecnologia?
Segundo o estudo The Impact of Technology in 2023 and Beyond: an IEEE Global Study, do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), organização mundial dedicada ao estudo do avanço da tecnologia em benefício da humanidade, que ouviu líderes globais de tecnologia dos EUA, Reino Unido, China, Índia e Brasil, as cinco áreas da tecnologia que devem ganhar mais importância a partir do próximo ano são computação em nuvem (apontada por 40% dos entrevistados), 5G (38%), metaverso (37%), veículos elétricos (EVs) (35%) e a Internet Industrial das Coisas (IIoT) (33%).
O metaverso também é destacado em estudo da consultoria Gartner, que o define como o próximo nível de interação no mundo virtual e físico. Marty Resnick, analista vice-presidente da empresa, declarou que embora a adoção em larga escala de tecnologias metaversas esteja a mais de dez anos de distância, já há maneiras práticas de elas serem aproveitadas pelas organizações, como no "onboarding" de funcionários, capacitação de vendas, e experiências de compras imersivas. "Hoje, os metaversos emergentes estão em sua infância", afirma, lembrando que as apostas de longo prazo são os verdadeiros diferenciais que podem provocar a disrupção em toda uma indústria. "E o metaverso é uma dessas aposta", diz.
Confira a seguir algumas das principais tendências apontadas por estudos e especialistas e entenda o que vem por aí – e a diferença que isso tudo deve fazer no dia a dia dos cidadãos e nos negócios.
1) Rede 5G deve alavancar outras tecnologias no Brasil
O 5G será o grande destaque do próximo ano, contribuindo para alavancar tecnologias como metaverso, internet das coisas (IoT), gêmeos digitais (digital twins), realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR). É isso o que acreditam 66% dos brasileiros entrevistados no estudo global The Impact of Technology in 2023 and Beyond: an IEEE Global Study, do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE).
Além disso, globalmente, 95% dos pesquisados concordam que os satélites espaciais para conectividade móvel em áreas remotas devem ser um divisor de águas em 2023 por habilitarem conexões de dispositivos 5G em qualquer lugar, 24 horas por dia, 7 dias por semana, superando a infraestrutura terrestre. Outra expectativa captada na pesquisa diz respeito ao 6G: quase nove em cada dez dos entrevistados (88%) afirmam que a tecnologia deve ser padronizada já nos próximos cinco anos.
2) Espaços de trabalho serão totalmente reinventados
Os espaços de trabalho devem passar por uma profunda transformação nos próximos anos. Essa tendência é apontada pelo Gartner – empresa especializada em análise de tendências tecnológicas –, que aposta que ambientes do metaverso possam oferecer novas experiências profissionais imersivas. Segundo consultoria, esse novo ambiente, que ela define como "espaço virtual" ou "mundo virtual", será criado por meio do computador para que grupos de pessoas possam se reunir usando avatares pessoais ou hologramas. Eles podem ser utilizados, por exemplo, para aumentar o alcance a clientes que não podem ou não querem participar de compromissos pessoais, para fornecer alternativas de viagem ou para permitir a colaboração entre funcionários que estão fisicamente distantes. O Gartner prevê que até 2025, 10% dos trabalhadores utilizarão regularmente esses espaços virtuais em atividades como vendas, onboarding e equipes remotas. Só para comparar, em 2022, a estimativa é de que eles sejam utilizados por apenas 1% dos profissionais.
O estudo do IEEE também aponta que as tecnologias relacionadas ao metaverso devem ser implementadas de várias maneiras. Entre seus entrevistados, 91% afirmam que suas empresas estão adotando esse tipo de estratégia para reunir funcionários para treinamentos corporativos entre escritórios, conferências e reuniões híbridas. Além disso, mais de três quartos dos participantes (76%) declararam que entre 25% e 75% de suas interações com colegas, clientes e a administração da empresa serão conduzidas de forma virtual em 2023.
3) Humanos digitais farão atendimento em ambientes metaversos
Seres humanos digitais (ou digital humans, no termo original) são representações interativas, orientadas por inteligência artificial que têm algumas das características de um humano, como personalidade, conhecimento e mentalidade, tipicamente apresentados como gêmeos digitais, avatares, robôs humanóides ou interfaces de usuário conversacionais. Esses humanos digitais são capazes de interpretar falas, gestos e imagens e ainda gerar sua própria fala, tom de voz e linguagem corporal. Segundo o Gartner, muitas empresas planejam usar humanos digitais para atuar em atendimento ao cliente, suporte, vendas e outras interações com clientes atuais e potenciais em ambientes metaversos. A previsão é de que, até 2027, a maioria das CMOs de empresas B2C tenha um orçamento inteiramente dedicado a humanos digitais em experiências metaversivas.
A consultoria de gestão norte-americana Bain vai na mesma linha e aponta a tendência de máquinas terem cada vez mais capacidade de interagir umas com as outras. E não apenas das formas pré-programadas já conhecidas, mas de uma maneira mais contextual e criativa, possibilitando a tomada de decisões em tempo real com base em variados parâmetros. Com isso, a IA conversacional poderá sustentar interações humano-digitais, com agentes virtuais cada vez mais capazes de gerenciar interações.
4) Inteligência conectada vai gerar altos níveis de personalização
A Bain também aponta a inteligência conectada como forte tendência em tecnologia para os próximos anos. Segundo a empresa, agentes de inteligência artificial devem ser incorporados a cada interação ou processo comercial do consumidor, conectando informações estruturadas e não estruturadas sobre clientes e eventos para personalizar serviços ou otimizar o uso de recursos da empresa. "Essas experiências hiperpersonalizadas refletirão a capacidade não apenas de compreender um cliente com base em quem ele é, mas também de servi-lo melhor por meio da compreensão do contexto do momento, ou seja, onde ele está, como ele se sente, o que ele está tentando realizar", afirma a consultoria.
Como exemplo, cita o caso da fabricante de calçados Asics, que utiliza um agente de inteligência artificial construído pela Crobox em seu processo de venda guiada. "O agente usa fontes de dados demográficos, comportamentais e transacionais para criar perfis psicográficos de consumidores e faz experimentos com IA enquanto o cliente utiliza o serviço digital do localizador de calçados da Asics", diz a Bain. "O resultado da experiência auxiliada pelo agente IA em comparação com uma transação padrão de comércio eletrônico é uma recomendação de sapatos que permite aos clientes encontrar o melhor ajuste para suas metas de corrida junto com uma melhoria de 52% na taxa de conversão e um aumento de 15% no valor médio do pedido", conclui.
5) Corrida pela segurança cibernética será intensificada
No mesmo ritmo que evoluem, as empresas também devem ser atacadas com mais frequência e de formas ainda inimagináveis. É o que aponta a Bain, ressaltando que o aumento de 485% nos ataques de ransomware (tipo de malware de sequestro de dados) nos EUA em 2020 é um sinal claro de que as ameaças cibernéticas crescem em ritmo alarmante e tornam-se mais sofisticadas. "Conforme os ataques se tornam mais avançados, as empresas precisarão se defender de formas mais robustas, resilientes e capazes de resistir e se recuperar de ataques", afirma a consultoria.
Segundo a empresa, não basta utilizar ferramentas que ofereçam proteção contra ameaças já conhecidas e específicas. "A guerra contra o cibercrime será jogada em múltiplos níveis e com um portfólio de ferramentas, abordagens e recursos qualificados." Para a Bain, será preciso desenvolver uma cultura consciente da segurança e avançar no processamento do serviço de acesso seguro (SASE), tecnologia baseada em nuvem e identidade digital que combina controles cada vez mais sofisticados para proteger o tráfego de dados no ponto de entrada e além dos limites da empresa.
Além disso, estratégias de confiança zero, pela qual toda pessoa, dispositivo ou transação são considerados suspeitos até que possa ser devidamente autorizado, devem se tornar padrão. E, para completar, a inteligência artificial deve ter papel maior no reconhecimento de padrões anormais de comportamento entre usuários, dados e códigos, gerando alertas e determinando o melhor curso de ação para a resolução.
6) Inteligência artificial estará por todos os lados
Bernard Marr, futurista conhecido mundialmente e autor de 21 best-sellers, afirma que a inteligência artificial (IA) deve finalmente se tornar realidade nas organizações em 2023. "A IA sem código, com suas interfaces fáceis de arrastar e soltar, permitirá que qualquer empresa aproveite o poder da tecnologia para criar produtos e serviços mais inteligentes", diz ele. Como exemplo, Marr cita o mercado varejista. A Stitch Fix, que oferece serviço de estilo pessoal, já usa algoritmos habilitados para IA para recomendar roupas para seus clientes que correspondam a seus tamanhos e gostos. "Compras e entregas autônomas e sem contato também serão uma tendência para 2023." E a IA estará por trás de tudo isso, tanto de pagamentos e recebimentos de bens e serviços, quanto do gerenciamento e automatização de estoque e até da possibilidade de como comprar online e retirar ou devolver na loja (e vice-versa), entre outras iniciativas.
7) Gêmeos digitais e impressão 3D viabilizarão mundo figital
Muito já se fala do figital, que une o mundo físico e o digital. Bernard Marr, porém, reforça que essa tendência deve se intensificar em 2023, com a utilização de dois componentes fundamentais para essa fusão: a tecnologia digital gêmea (ou gêmeos digitais) e impressão 3D. "Gêmeos digitais são simulações virtuais de processos, operações ou produtos do mundo real que podem ser usados para testar novas ideias em um ambiente digital seguro", explica, lembrando que designers e engenheiros já utilizam a tecnologia para recriar objetos em mundos virtuais e realizar testes sem os altos custos da vida real. Depois de conduzir essas experiências, eles realizam ajustes e criam os componentes no mundo real usando a tecnologia de impressão 3D. "Em 2023, veremos ainda mais gêmeos digitais, de fábricas a máquinas, carros e assistência médica de precisão", aposta.
8) Robôs se tornarão cada vez mais humanos
Outra previsão de Bernard Marr é que, a partir de 2023, os robôs devem se tornar ainda mais parecidos com os humanos – tanto em aparência quanto em capacidade – e serão usados no mundo real como recepcionistas de eventos, bartenders, concierges e acompanhantes de idosos. "Eles também realizarão tarefas complexas em armazéns e fábricas trabalhando com humanos na linha de produção e na logística", afirma. Ele cita como exemplo os dois protótipos de robôs humanoides Optimus que Elon Musk apresentou em setembro de 2022 – e que devem estar prontos entre três e cinco anos. É esperar para ver até onde eles poderão chegar.