Algumas cidades brasileiras já vêm utilizando dados em conjunto com ferramentas como Internet das Coisas (IoT), videomonitoramento, inteligência artificial (IA) e analytics para resolver problemas e apoiar o planejamento de políticas públicas. "O projeto City Câmeras, de São Paulo, é um exemplo dessa utilização para melhorar a segurança pública", afirma Maria Teresa de Azevedo Lima, diretora-executiva da vertical Governo na Embratel.
Para a executiva, o céu – ou a criatividade, mais especificamente – é o limite para o uso de dados por municípios que queiram conhecer com mais precisão as demandas dos cidadãos e, consequentemente, melhorar a segurança pública, o trânsito, a qualidade da educação, as condições ambientais e até a zeladoria das cidades, entre outros quesitos.
Com 23 anos de casa, Maria Teresa é responsável pelo relacionamento comercial da Embratel com os governos Federal, estaduais e municipais e com estatais e sociedades de economia mista, incluindo bancos públicos. Nesta entrevista, ela relata como as cidades vão se tornando mais inteligentes com uso de tecnologias.
A senhora observa uma tendência de os governos buscarem analytics para melhorar a dinâmica das cidades, a prestação de serviços e a qualidade de vida dos cidadãos?
Sim, trata-se de uma tendência mundial. No Brasil, inclusive, alguns governos já percebem a importância de apoiar planos e políticas públicas em dados, colocando o cidadão no centro das decisões. Prova disso é que, no último grande evento de turismo realizado em São Paulo, quando tivemos oportunidade de apresentar nossa solução Claro GeoData, muitos municípios imediatamente nos procuraram com interesse em conhecer e testar a solução. Ou seja, eles perceberam o potencial da aplicação para aumentar o turismo e impulsionar a economia local.
Quais são as principais ferramentas que podem ser usadas pelo setor público para tornar as cidades mais inteligentes?
Cidades inteligentes e humanas pressupõem cidadãos conectados e engajados. E como engajá-los? Um exemplo é o omnichannel, que amplia e facilita a comunicação do governo com a sociedade, favorecendo a participação mais ativa das pessoas nas decisões e na destinação de recursos públicos. Outras ferramentas, tais como Internet das Coisas (IoT), videomonitoramento, inteligência artificial (IA) e analytics ajudam as cidades a garantir, por exemplo, mais segurança, redução de tempos perdidos no trânsito, destinação correta de resíduos e melhor gestão de recursos como água e energia. Após dois anos de pandemia, as cidades também perceberam a importância de usar ferramentas tecnológicas na educação e na saúde. No fim, o que se obtém é melhor qualidade de vida para os cidadãos.
Quais são os maiores exemplos de governos que vêm investindo em dados para tornar o funcionamento da cidade mais eficiente? O que eles já fizeram?
Um ótimo exemplo foi o uso de dados durante a fase mais aguda da Covid-19. Estados e municípios utilizaram plataforma de mapa de calor disponibilizada, sem custos, pelas operadoras móveis. Com isso, foi possível atuar para evitar aglomerações e aumento de contágio.
A mobilidade é um grande problema mesmo nas cidades médias. Quais dispositivos e tecnologias podem ser utilizados para otimizar o trânsito e reduzir tempos de deslocamento nas cidades?
Internet das Coisas, videomonitoramento e analytics permitem coletar e analisar, em tempo real, dados sobre a condição de trânsito nas cidades e alterar tempos de abertura e fechamento de semáforos, tornando o tráfego mais fluido. Nós, aqui na Embratel, em parceria com a Escola Politécnica da USP e a Ericsson, iniciamos provas de conceito (PoC) de uso de IoT para aplicações em diversas áreas de cidades inteligentes, incluindo soluções para mobilidade urbana. Com o mesmo propósito, e também em parceria com a Ericsson, estamos presentes no laboratório de cidades inteligentes do Centro Universitário Facens, de Sorocaba, denominado de 5G Smart Campus Facens.
De que forma os governos podem utilizar dados para melhorar a segurança pública, outra grande preocupação no Brasil?
No Brasil, muitas cidades utilizam soluções de videomonitoramento e analytics na área de segurança pública com resultados positivos nos indicadores dessa área. Esses projetos se multiplicaram após os grandes eventos realizados no país, especificamente Copa do Mundo e Olimpíadas.
Há algum exemplo?
Uma abordagem interessante e diferenciada é a da cidade de São Paulo, que utiliza uma plataforma de videomonitoramento de segurança e zeladoria – City Câmeras – que integra, além dos equipamentos da Prefeitura, imagens de câmeras particulares conectadas ao sistema. É um ótimo exemplo de engajamento dos cidadãos. Mais recentemente, temos demonstrado às áreas de segurança pública uma plataforma que permite conectar os cidadãos às centrais de operação e controle, com geolocalização, compartilhamento de imagens e analytics. A novidade tem gerado grande interesse das secretarias.
A análise de dados também pode ser utilizada para melhorar as políticas públicas voltadas para saúde?
A Internet das Coisas aplicada à saúde tem enorme potencial e deve ser fortemente impactada com o 5G. Um exemplo é o monitoramento sistemático de pacientes com doenças crônicas por meio de dispositivos vestíveis. A coleta e a análise de dados também oferecem muitas possibilidades como desenvolvimento de programas educativos específicos por região e por faixas etárias, controle de endemias, acompanhamento de cobertura vacinal e de gestantes, crianças e idosos, entre outros. Um aspecto importante é que a coleta de dados da população precisa considerar aspectos éticos, de segurança e privacidade. É um tema que, com certeza, caminhará lado a lado com a evolução da tecnologia e suscitará discussões profundas.
Em que outras áreas a análise de dados pode ser utilizada para apoiar a elaboração de projetos e políticas públicas?
Entendo que a análise de dados pode contribuir para melhorar a qualidade da educação, reduzir poluição, agilizar e melhorar a zeladoria das cidades, conhecer com mais precisão as demandas da população, entre outras. Por isso investimos em parcerias com os diversos atores do ecossistema de inovação. A inovação é uma construção colaborativa em que o todo será, sem a menor dúvida, maior do que as partes.