FINANÇAS EM TRANSFORMAÇÃO

Novas tecnologias e produtos deixam papel e filas no passado, facilitando o acesso e incentivando cada vez mais a inclusão de novos consumidores no sistema bancário

Novas tecnologias deixam papel e filas no passado

Novas tecnologias deixam papel e filas no passado Estúdio Folha

Banco já foi sinônimo de papel, fila, conversas na boca do caixa e um cafezinho na saída. Ao longo de décadas, grandes instituições financeiras deixaram suas marcas na paisagem das metrópoles com seus logotipos gigantescos e iluminados acomodados no topo de edifícios nas principais avenidas e centos financeiros. Pouco a pouco, ambas as situações vão ficando no passado. Hoje, o cliente pode resolver praticamente tudo por aplicativo, sem precisar pisar em uma agência física, que, por sinal, também está em extinção.

Impulsionada pelos avanços tecnológicos, essa verdadeira transformação na maneira como nos relacionamos com os bancos, no entanto, não significa que eles simplesmente deixaram de fazer parte da nossa vida. Em 2021, os brasileiros realizaram quase 120 bilhões de transações bancárias, segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos). E existem no país 909,7 milhões de usuários bancários de acordo com levantamento da UBS, empresa global especializada em serviços financeiros, feito com dados do Banco Central.

Não por acaso, as mudanças pelas quais o segmento passa acabam transformando a nossa rotina e a forma como lidamos com as nossas finanças. Da mesma forma, o surgimento de novas prioridades e necessidades por parte dos clientes acaba obrigando o segmento a investir em inovações que tornem a experiência do cliente mais agradável, sem deixar de lado a segurança e eficiência dos serviços em um mercado cada vez mais competitivo e em permanente revolução. Confira a seguir os principais avanços do sistema bancário impulsionados pela tecnologia ao longo das décadas.

Agências bancárias: pagamentos, saques, depósitos e um cafezinho

O primeiro banco moderno – mais ou menos equivalente à nossa ideia de banco tradicional – foi criado em 1406, em Gênova, na Itália. Era o Banco di San Giorgio, que teve uma vida longa, de quase 400 anos, até fechar as portas em 1805. Por muito tempo em todo o mundo, as agências foram totalmente físicas e analógicas. Para pagar contas, saber o saldo, sacar ou depositar dinheiro não tinha outro jeito: era preciso encontrar uma agência do seu banco (aberta) e encarar uma fila (muitas vezes demorada) para falar com o atendente do caixa. No Brasil, a quantidade de agências bancárias atingiu o ápice em março de 2015, quando havia 23.154 delas pelo país. De lá para cá, no entanto, esse número vem caindo. Dados do Banco Central de julho indicam que existam hoje 17.348 agências no país. Ou seja, menos 5.806 agências desde o pico, o que significa um recuo de 25,1%. Isso acontece, em parte, devido ao uso massivo da tecnologia na digitalização dos serviços financeiros e a expansão das fintechs, bancos 100% digitais, que diminuíram a necessidade de atendimento presencial e, consequentemente, levaram ao fechamento de agências para reduzir gastos.

Caixa eletrônico: dinheiro vivo em todo lugar a qualquer hora

A primeira grande evolução do segmento bancário foi a criação do caixa eletrônico, que transformou a maneira como as pessoas obtinham dinheiro até então. Criado pelo escocês Shepherd-Barron, o primeiro caixa eletrônico foi inaugurado em 1967 e ficava em uma agência do banco Barclays, em Enfield, no norte de Londres. Era um dos seis equipamentos encomendados pela instituição. Em 2017, no seu 50º aniversário, o primeiro caixa eletrônico foi transformado em ouro pelo Barclays, que ainda acrescentou uma placa comemorativa e um tapete vermelho à sua frente para os usuários. Ao longo dos anos os caixas eletrônicos se proliferaram pelo mundo. Deixaram de estar restritos às agências bancárias e passaram a marcar presença em lugares como supermercados, postos de gasolina, lojas de suvenires, entre outros. Essa realidade, no entanto, começou a mudar a partir de 2018, quando a quantidade de ATMs (como são chamados os caixas eletrônicos internacionalmente) começou a regredir. Na época, mais da metade dos caixas eletrônicos do mundo estavam localizados em apenas cinco países: China, Estados Unidos, Japão, Brasil e Índia. Somados, esses quatro países tinham 1,72 milhões de ATMs contra um total de 3,24 milhões no mundo todo. Segundo a empresa de pesquisa britânica RBR, esses números devem recuar para 1,62 milhões e 3,22 milhões, respectivamente, até 2024. Só para comparação, a base instalada de ATMs no mundo em 2015 era de 3,2 milhões.

Banco pelo telefone: tecle a opção desejada e aguarde para ser atendido

Antes de existir internet, uma grande inovação do segmento financeiro foi o acesso a uma série de transações financeiras pelo telefone. Ainda que as opções não fossem muito amplas – nem a experiência tão boa – a facilidade de resolver algumas questões sem precisar sair de casa ou do escritório se mostrou uma transformação e tanto. Essa novidade foi apresentada pelo Girobank, no Reino Unido, que disponibilizou em 1984 um serviço bancário por telefone dedicado. Mas, bom lembrar, ainda não havia celular ou smartphones e telefone era sinônimo de linha fixa. As interações ocorriam por voz e, no máximo, pela escolha da opção do menu por meio do teclado numérico do aparelho. Apesar de já ter sido popular, o uso de serviços bancários pelo telefone (diga-se por voz) hoje em dia é incipiente. Apenas 2,1 bilhões das 119,5 bilhões de transações bancárias realizadas em 2021 no Brasil foram realizadas por meio de call center. Ou seja, o canal responde por apenas 2% segundo dados da Febraban.

Home banking: e o banco foi parar dentro do computador

As primeiras iniciativas de home banking surgiram ainda na década de 1980, mas a moda pegou mesmo com o surgimento da internet, em meados da década de 1990. O pioneiro do assunto foi o Bank of Scotland, que estreou o serviço de home banking eletrônico em 1985. O primeiro site para serviços bancários, porém, só seria lançado pela Stanford Credit Union em 1994. Desde então, o uso do banco pela internet se disseminou pelo mundo todo. Dados da American Bankers Association indicam que os serviços bancários on-line passaram a ser majoritários em 2011, quando a maioria dos norte-americanos com 55 anos ou mais já preferia esse canal em detrimento das visitas às agências físicas. No Brasil, o home banking respondeu por 16,9 bilhões (14%) das 119,5 bilhões de transações bancárias realizadas em 2021 (dados da Febraban). O número representa 6% de aumento em relação a 2020, mas vale considerar que, em 2018, ele era ainda maior. Há quatro anos, foram realizadas 18 bilhões de transações pelo home banking, que representavam 22% do total.

Mobile banking: tudo na palma da mão

No início, o banco pelo celular era limitado a mensagens de SMS. Em seguida, os serviços passaram a ser disponibilizados por meio de um navegador móvel ou de aplicativos em fases iniciais que aproveitavam as possibilidades da rede móvel 3G. Com o avanço de smartphones com sistemas operacionais iOS e Android, os aplicativos começaram a evoluir. E, com o 4G, muitos novos recursos foram habilitados para que o serviço bancário pelo celular se transformasse no mobile banking que conhecemos hoje. Em 2011, o Royal Bank of Scotland lançou o primeiro app de banco totalmente funcional. No início, ele estava disponível apenas para dispositivos da Apple, mas logo foi lançado para usuários de BlackBerry e Android. Hoje, o mobile banking é o canal que concentra a maior parte das transações bancárias do Brasil, registrando um aumento de 28% em um ano, saltando de 52,6 bilhões para 67,1 bilhões. Nada menos do que 56% das transações bancárias realizadas no país. Só para comparar, em 2017, o canal respondia por 35% do total. A chegada da tecnologia 5G, que vai aumentar a velocidade e permitir novas aplicações nos smartphones, deve impulsionar ainda mais esses números.

Bancos digitais: sem agência, 100% on-line

Com tantas possibilidades tecnológicas, não seria surpresa que logo surgisse um banco totalmente digital, sem nenhuma agência física. E isso aconteceu em 2009, quando começaram a funcionar o Simple e o Ally Bank, ambos dos Estados Unidos. Atualmente, são centenas espalhados pelo mundo. No Brasil, um estudo realizado pela idwall, plataforma gerenciadora de risco, indica que 480 milhões de contas digitais foram abertas desde 2016. E o movimento não para. Até o final desse ano, devemos ter 4,5 contas digitais abertas para cada pessoa economicamente ativa do país. Apenas em 2022, a previsão é de que sejam abertas 184 milhões de contas digitais, um aumento de 15% em relação a 2021.

Pix: uma preferência nacional

Que brasileiro nunca fez um Pix? O sistema de pagamento instantâneo lançado pelo Banco Central em novembro de 2020 que traz opções de transferência sem custos, diretamente no celular, é cada vez mais popular entre os brasileiros. Dados da Febraban indicam inclusive que o salto de 75% das transações com movimentação financeira por mobile banking foi puxado pela forte adesão de clientes ao Pix. Só para dar uma ideia da sua popularidade, números da Febraban mostram que foram realizados mais de 4,5 bilhões de pagamentos instantâneos em 2021 e o número de usuários que realizam mais de 30 Pix por mês chegou, em março de 2022, a quase 3,9 milhões – um incremento de 809% em relação aos 12 meses anteriores.

Open finance: informações compartilhadas e crédito mais barato

O open finance, inicialmente chamado de open banking, é um projeto que começou a ser implementado pelo Banco Central em 2021. Na prática, é um tipo de sistema que permite que as instituições financeiras compartilhem informações de seus clientes, incluindo o seu histórico de relacionamento com a instituição. Para que isso aconteça, porém, o consumidor precisa autorizar o compartilhamento de suas informações e especificar quais dados serão compartilhados, por quanto tempo e quais bancos e fintechs terão acesso a eles. Antes dessa inovação, o acesso ao histórico bancário do cliente era uma exclusividade da instituição financeira onde ele tinha a sua conta. Dados da Febraban indicam que atualmente 644 mil pessoas físicas têm consentimento para doação de dados. A expectativa é que esse número aumente à medida que o ecossistema proporcione uma experiência bancária com mais conveniência, simplicidade e usabilidade aos consumidores, já que a concessão de crédito deixa de ser uma exclusividade dos bancos. Pelo sistema, empresas do segmento do comércio, por exemplo, podem, com base nas informações de seus clientes, oferecer crédito a juros mais vantajosos que os bancos. Caberá, assim, ao consumidor escolher qual a opção lhe é mais conveniente.

Segurança: arsenal de defesa não para de evoluir

A segurança é uma constante preocupação das instituições financeiras que precisam correr contra o tempo para vencer a criatividade e a ousadia de hackers e golpistas que provocam fraudes e violações de dados. Ao longo dos anos, os bancos incrementaram suas ferramentas. Aquelas senhas simples de quatro dígitos do mundo analógico evoluíram para tokens, perguntas de segurança, autenticação em duas etapas e biometria. Há tempos, caixas eletrônicos utilizam impressão digital para validação dos clientes no Brasil, mas a novidade agora são os caixas equipados com câmeras para verificar e validar a identidade dos clientes por meio de biometria facial. Na Espanha, por exemplo, o CaixaBank já oferece essa alternativa. E os correntistas nem precisam lembrar da senha do cartão para fazer saques de dinheiro. O reconhecimento facial também já está sendo usado em aplicativos bancários para validar operações solicitadas pelos correntistas.