Reduzir os custos, racionalizar o uso de recursos, aumentar a produtividade, viabilizar a personalização em massa, melhorar a precisão das previsões, oferecer mais segurança às equipes e conectar as cadeias de fornecimento. Esses são alguns dos principais benefícios da chamada indústria 4.0, que integra automação, máquinas inteligentes e dados para produzir o que quer que seja de forma mais eficiente.
O termo indústria 4.0 ganha ainda mais destaque quando a rede móvel 5G sai do plano das ideias e passa a fazer parte da realidade, destravando a utilização e o desempenho de tecnologias que já estavam disponíveis para essa nova transformação.
Um estudo da McKinsey feito em conjunto com o Fórum Econômico Mundial indica que a criação de valor potencial de manufaturas e fornecedores que implementam a indústria 4.0 em suas operações deve alcançar US$ 3,7 trilhões em 2025. O levantamento mostra ainda que 68% das empresas têm a implementação da indústria 4.0 entre as suas principais prioridades estratégicas e que 70% delas já começaram a adotar soluções industriais desse novo patamar.
Nessa quarta revolução industrial tudo é orientado por softwares e dados. Pessoas e robôs trabalham colaborativamente e as fábricas se tornam inteligentes por meio de sensores que coletam, enviam e recebem informações o tempo todo. Elas fornecem insights precisos para gerenciar desempenho, monitorar equipamento e prevenir acidentes e falhas.
Em seminário na Folha, Ronald Delfino, gerente-executivo de operações e transformação digital na Nestlé Brasil, definiu a indústria 4.0 como uma forma de facilitar o que já está no cotidiano das fábricas. "É como ter um Waze que nos ajuda a chegar mais rapidamente ao destino, sem passar por zonas vermelhas, que levariam muito mais tempo", afirmou.
Análise de dados e planejamento
As instalações da indústria 4.0 são altamente digitalizadas e, em grande parte, também autônomas. Isso permite a entrega de produtos personalizados produzidos com custos eficientes e em escala.
Por trás desse processo, existe um conjunto robusto de tecnologias, a começar por big data e analytics, que fazem a coleta massiva e análise de dados que vêm de todos os lados, incluindo equipamentos da linha de produção, câmeras, dispositivos com IoT, sistemas ERP e CRM e até de aplicativos que trazem condições meteorológicas e de tráfego.
Inteligência artificial e machine learning também apoiam essa transformação gerando insights em tempo real para tomada de decisões mais acertadas.
Essas soluções não estão relacionadas apenas à produção, mas também ao planejamento da cadeia de fornecimento, da logística, do gerenciamento de ativos, da área de pesquisa e desenvolvimento e até de aquisições. Isso porque a análise histórica de todos os dados com camadas de IA e algoritmos de aprendizado de máquina ajuda a indústria a entender e antecipar tendências e padrões de avarias, produção e consumo, por exemplo.
Esse volume de dados é armazenado e processado na nuvem, bem como a comunicação entre dispositivos e softwares. Para demandas mais críticas, que envolvam segurança, entra em campo o edge computing. Com a computação de borda, dados críticos não precisam viajar até a nuvem, sendo processados onde são gerados.
E não poderia haver indústria 4.0 sem Internet das Coisas (IoT) ou, mais especificamente, Industrial Internet das Coisas (IIoT), termo técnico que define o conjunto de sensores e dispositivos autônomos conectados pela internet a aplicações industriais. Essa tecnologia é tão essencial que muitas vezes é utilizada como sinônimo da quarta revolução industrial.
Realidade aumentada e os novos robôs
A transformação da indústria também passa pelo uso da realidade aumentada (AR). Ela permite, por exemplo, que funcionários realizem manutenção em equipamentos de forma remota, o que otimiza recursos e reduz a exposição a situações de risco. A AR também permite que pessoas com óculos inteligentes recebam determinados treinamentos.
Programados para trabalhar com o mínimo possível de intervenção humana, os robôs autônomos são os grandes aliados da nova indústria. De pequenos drones até os mais humanizados, são capazes tanto de atuar em tarefas simples, como no transporte de mercadorias na fábrica, como na execução de procedimentos mais arriscados.
Por meio de digital twins (gêmeo digital), espécie de réplica virtual de uma máquina, processo, sistema ou produto criada com base nos dados de IoT, é possível ainda identificar uma peça com defeito, prever problemas e, com isso, otimizar sua manutenção para evitar paradas.
A quarta revolução industrial, no entanto, não diz respeito apenas ao mundo dos negócios e às novas tecnologias. Para Jochen Apel, vice presidente global de Indústria Digital da Nokia, também há um ganho humano.
"A Indústria 4.0 impulsiona a eficiência e a lucratividade ao mesmo tempo que garante que os funcionários sejam mais felizes e produtivos, independentemente de setor ou área de atuação. A automação e a robótica não visam substituir a força de trabalho, mas sim aprimorá-la, proporcionando benefícios de trabalho, vida e negócios a todos os envolvidos", afirma.