REVOLUÇÕES NO VAREJO

Tecnologia nunca parou de evoluir ao longo das últimas décadas, transformando as relações comerciais e aprimorando cada vez mais a dinâmica entre lojistas e consumidores

Tecnologia nunca parou de evoluir ao longo das últimas décadas, transformando as relações comerciais e aprimorando cada vez mais a dinâmica entre lojistas e consumidores

Tecnologia nunca parou de evoluir ao longo das últimas décadas, transformando as relações comerciais e aprimorando cada vez mais a dinâmica entre lojistas e consumidores Henrique Assale/Estúdio Folha

No início, o varejo era feito de prateleiras, dinheiro e um livro de anotações que ficava no caixa. Hoje, podemos fazer compras sem sair de casa ou deixar a loja com os mais diversos produtos sem sequer precisar colocar a mão no bolso ou no celular. Nossa forma de comprar mudou completamente nas últimas décadas e é inegável o papel da tecnologia como principal combustível dessa transformação. Por meio de soluções tecnológicas, os varejistas puderam melhorar operações, aumentar vendas, entregar experiências cada vez melhores para os seus clientes e assim continuar a crescer.

Apenas em 2021, o varejo aumentou 18% no Brasil – quase quatro vezes o crescimento do PIB, que foi de 4,6% – e movimentou R$ 2,41 trilhões, representando 27,7% do PIB nacional, segundo dados da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). Mundialmente, o setor gerou vendas de mais de US$ 26 trilhões e a previsão da Statista, consultoria alemã especializada em dados de mercado e consumidores, é de que alcance mais de US$ 30 trilhões até 2024.

Essa parceria entre varejo e tecnologia que ajuda a impulsionar esses números não é recente e tampouco dá sinais de que vá parar de evoluir. Confira a seguir algumas das principais inovações que revolucionaram o segmento e transformaram o simples ato de comprar em uma experiência cada vez mais simples, rápida e eficiente.

CAIXA REGISTRADORA: DOS "SALOONS" ATÉ AS PADARIAS

Esse objeto que muita gente só conheceu em museus já foi uma grande inovação. Criada em 1879, a caixa registradora substituiu o registro de vendas em livros. Seu inventor foi James Ritty, dono de alguns bares ("saloons") nos Estados Unidos, que sabia que estava perdendo dinheiro com vendas que os empregados não registravam. E, sem os registros, não havia controle algum. A ideia de criar a caixa registradora surgiu em uma viagem de barco a vapor para a Europa. Ritty observou um mecanismo que rastreava o número de rotações da hélice do navio e não descansou até descobrir uma forma de adaptar a ideia para uma máquina capaz de registrar tudo o que fosse vendido. Com a novidade, os comerciantes passaram a ter registros mais precisos de seus controles de vendas, estoques e perdas. Na época, claro, todo o pagamento era feito em dinheiro.

CARTÃO DE CRÉDITO: O PLÁSTICO QUE RESOLVE

Você até pode achar que o cartão de crédito de plástico está ultrapassado, mas ele (que originalmente era feito de papel) também já foi símbolo de uma grande transformação. Os primeiros cartões desse tipo foram criados por determinadas lojas para uso exclusivo dos seus clientes, sendo aceito apenas naquele estabelecimento. O cartão de crédito como conhecemos hoje – que pode ser utilizado como meio de pagamento em uma variedade de locais e serviços – só veio em 1950. Era o Diners Club, criado pelos empresários Frank McNamara e Ralph Schneider. A ideia surgiu depois de McNamara passar por um constrangimento na hora de pagar a conta em um restaurante de Nova York, pois tinha esquecido a carteira. Um ano depois, os dois sócios voltaram ao local com um pequeno cartão de papelão. Originalmente utilizado em restaurantes, ele inaugurou a nova era dos meios de pagamento. Em linhas gerais, funcionava como o cartão hoje, mas tudo com recibo de papel. A Diners pagava a conta, recebia uma porcentagem do estabelecimento, dava 60 dias para o titular pagar e cobrava do dono do cartão uma taxa anual. Mas a evolução não parou por aí. Em 1958, o Bank of America criou o primeiro cartão de crédito de uso geral com suporte bancário.

UPC, CÓDIGOS DE BARRAS E SKUS: OS ACELERADORES DE FILAS

Registrar pagamentos manualmente na máquina registradora começou a se tornar um problema quando a quantidade de mercadorias e clientes aumentou consideravelmente nas lojas e supermercados. As longas filas – e a péssima experiência do cliente – foram fatores determinantes para que Joe Woodland inventasse uma forma de atribuir a cada produto um código único contendo preço e informações que pudesse ser escaneado diretamente na caixa registradora. A ideia partiu do Código Morse e foi em 1974 que o primeiro código UPC (Código Universal de Produtos, em português) foi escaneado, mudando para sempre a forma como as pessoas faziam compras. Nascia o código de barras, que agilizou o checkout e otimizou os métodos de rastreamento de estoque.

COMÉRCIO ELETRÔNICO: TUDO (MAS TUDO MESMO) SEM SAIR DE CASA

Já imaginou o que era o mundo antes das vendas on-line? Pois vale lembrar que a Amazon, que se tornou sinônimo de comércio eletrônico, foi criada por Jeff Bezos apenas em 1994 e inicialmente era exclusivamente uma livraria on-line. No ano seguinte, surgiu o eBay (que inicialmente chamava AuctionWeb), criado para reunir compradores e vendedores em um mercado aberto, atualmente uma das maiores plataformas de e-commerce do mundo. Não é segredo que, com a pandemia, o comércio eletrônico impulsionou – e até mesmo salvou – diversos segmentos do varejo como alimentação, vestuário e supermercados. Esses novos hábitos de compra já foram incorporados à rotina pós-pandemia, com o volume de vendas do varejo on-line superando US$ 5,2 trilhões no mundo todo. E a previsão da Statista é que elas continuem aumentando, tendo o Brasil na liderança desse movimento. A estimativa é que, entre 2022 e 2025, as compras on-line alcancem por aqui um crescimento anual de 20,73%, enquanto a média mundial deve ser de 11,35%.

PAGAMENTO"CONTACTLESS": TÃO LONGE E AO MESMO TEMPO TÃO PERTO

O pagamento sem contato (ou "contactless") também se expandiu durante a pandemia, exatamente por evitar que as pessoas tivessem de tocar em qualquer coisa para pagar suas contas. O que nem todo mundo sabe é que essa tecnologia já não era uma novidade nessa época. Em 1995, a Associação de Transporte de Ônibus de Seul, na Coreia do Sul, lançou para seus usuários o primeiro cartão de pagamento sem contato do mundo, o UPass. Em 2004, os primeiros cartões "contactless" foram utilizados nos Estados Unidos. Quatro anos depois, Visa, American Express e MasterCard passaram o oferecer cartões de crédito desse tipo. Celulares, relógios e pulseiras inteligentes também podem ser utilizados para fazer pagamentos por aproximação, principalmente para quem nunca larga o celular, mas frequentemente esquece a carteira em casa. As tecnologias utilizadas em pagamentos sem contato são a RFID (Radio Frequency Identification), também bastante usada na área de logística para identificar e localizar produtos, e a NFC (Near Field Communication). A principal diferença entre as duas é que a primeira pode ler dados a dezenas de metros enquanto a segunda depende da aproximação a poucos centímetros.

CAIXAS DE "SELF CHECKOUT": FAÇA TUDO VOCÊ MESMO

A evolução da antiga caixa registradora são os terminais de "self checkout", nas quais o cliente sozinho pode registrar e pagar a sua conta. O primeiro terminal desse tipo surgiu em 1986 como parte da transferência do trabalho de empregados remunerados para clientes não remunerados. A tendência, porém, só se espalhou nos supermercados no início dos anos 2000, quando o Walmart decidiu testar a solução. A evolução dessa tecnologia são os terminais de autoatendimento, nos quais é possível colocar todas as compras no cesto do caixa e o leitor identifica todos os itens de uma vez só automaticamente. E aí, você só precisa pagar, juntar as compras e sair da loja. Por trás dessa praticidade está novamente a tecnologia de RFID.

REALIDADE VIRTUAL: NÃO É FEITIÇARIA, É TECNOLOGIA

Facilitar a vida na hora do pagamento não é a única inovação que vem movendo o varejo para um outro nível – de realidade, inclusive. Um exemplo é o da Sephora, que há alguns anos oferece "espelhos mágicos" em lojas e aplicativos móveis para ajudar os consumidores a visualizar seu rosto com diferentes cores e tratamentos de maquiagem. Em uma loja de Madri, por exemplo, a rede instalou um espelho digital que utiliza inteligência artificial para entregar recomendações para os clientes. Funciona assim: quando o consumidor olha para o espelho, o equipamento detecta informações como sexo, idade, aparência e roupas usadas e, a partir daí, recomenda maquiagem, cuidados com a pele e fragrâncias mais adequadas para ela. O espelho inteligente ainda considera informações atualizadas sobre clima local, estação do ano e tendências em alta.

RECONHECIMENTO FACIAL: BASTA APENAS OLHAR PARA CÂMERA

Em 2019, consumidores chineses passaram a poder pagar contas no varejo por meio de reconhecimento facial. Para isso, eles precisam apenas se posicionar em frente a máquinas de ponto de venda equipadas com câmeras. E nem é preciso estar com o celular ou com a carteira. Essa tecnologia de pagamento por reconhecimento facial – a Smile-to-Pay - foi lançada pelo Alipay, braço financeiro do gigante Alibaba. No Brasil, a Mastercard realiza o piloto do Programa de Checkout Biométrico em cinco unidades dos supermercados St Marche na cidade de São Paulo. Para "pagar com o rosto", o consumidor precisa já ter baixado o aplicativo Payface, preenchido alguns dados pessoais e enviado uma selfie. A partir daí, basta olhar para uma tela localizada no caixa que o sistema identifica o cliente como participante do programa de fidelidade da rede e efetua a cobrança. E nem precisa estar com um cartão ou celular por perto nessa hora.

JUST WALK OUT: ENTRE, PEGUE E SAIA. A CONTA VAI DEPOIS

E por falar em evolução, a Amazon Go vai além e permite que os clientes simplesmente peguem o que querem e saiam da loja sem passar pelo caixa, sem sequer abrir a carteira, sem nem ao menos precisar sorrir para a câmera. É a chamada tecnologia Just Walk Out. Para isso, o consumidor precisa estar com o app da loja logado no celular e escanear um código de barras ("In-Store-Code") ao entrar na loja. A partir daí quem trabalha são centenas de câmeras com visão computacional, fusão de sensores e deep learning que monitoram os movimentos dos visitantes e, claro, registram o que eles pegam das prateleiras. Detalhe: se mudar de ideia, basta devolver o produto e ele não será cobrado. Depois de pegar tudo o que quer, é só ir embora. O recibo vai mais tarde a cobrança cai diretamente na sua conta Amazon.