Saúde inteligente: inovações transformam tratamentos

Novas tecnologias prometem melhorar o atendimento e ampliar a eficácia no combate a diversos tipos de doenças

Foto para estúdio Folha / Pauta Embratel

Na comunidade médica, o termo "metaverso médico" vem ganhando relevância e conquistando espaço Shutterstock / everything possible

Tecnologias como realidade virtual (VR), realidade estendida (XR), realidade aumentada (AR), inteligência artificial (IA) e internet das coisas (IoT) estão transformando procedimentos médicos e cirúrgicos de forma acelerada e irreversível.

Na comunidade médica, o termo "metaverso médico" vem ganhando relevância e conquistando espaço. Nesse ambiente, construído a partir dessas tecnologias, é possível simular a realidade por meio da representação virtual do corpo ou de órgãos de pacientes para que equipes interdisciplinares em diferentes lugares do planeta possam discutir casos complexos, realizar treinamentos, simular cirurgias e planejar tratamentos de forma colaborativa.

Pouco a pouco, isso já vem acontecendo e a expectativa é que seu uso seja ampliado, transformando assim o atual paradigma do sistema de saúde, melhorando tanto a precisão cirúrgica quanto o uso terapêutico.

Um estudo do Market Research Future (MRFR) traduz esse potencial em cifras. Em 2020, o mercado de saúde no metaverso representava US$ 505 milhões, podendo alcançar R$ 5,4 bilhões em 2030. E, entre 2024 e 2030, o estudo aponta uma taxa de crescimento anual de 48,3%.

De acordo com o MRFR, o mercado deve ser impulsionado sobretudo pelo uso crescente de gêmeos digitais na saúde ­– "digital twins" no termo original – capazes de proporcionar a representação virtual de uma pessoa ou de um órgão real. Esses gêmeos não são modelos de computador em 3D, mas uma representação bem mais elaborada que utiliza uma combinação de internet das coisas e inteligência artificial.

"No campo da medicina, os gêmeos digitais podem reunir enormes quantidades de dados de escaneamento de pacientes (como ressonância magnética, tomografia computadorizada e ultrassom, por exemplo) ao longo do tempo e combiná-los a uma perspectiva que pode planejar procedimentos e monitorar a progressão das doenças e seu tratamento" afirma o estudo.

Como exemplo, o MRFR cita os pesquisadores da EMPA (Laboratórios Federais Suíços para Ciência e Tecnologia de Materiais) que já construíram centenas de avatares de pacientes reais com dor crônica que estão sendo utilizados para prever e otimizar os efeitos dos medicamentos. "Através do rastreamento digital e da modelagem do corpo humano, o uso de gêmeos digitais na saúde está revolucionando as operações clínicas e a administração hospitalar", afirma.

Essa tendência já se faz presente no Brasil, onde profissionais têm utilizado o metaverso para discutir casos de pacientes e planejar cirurgias personalizadas. O Biodesign Lab, laboratório criado em parceria pela Dasa e a PUC-Rio, é exemplo disso. Projetado para avançar em pesquisas em tecnologias 3D e simulação em realidade virtual, ele já realiza experiências com hospitais parceiros.

Nessas experiências, quadros complexos enviados pelos médicos são reproduzidos no metaverso de forma detalhada para que as equipes possam se conectar a esse ambiente e, utilizando óculos de realidade aumentada, discutir o caso.

O metaverso médico viabiliza assim caminhos para cirurgias complexas que não admitem erro no mundo real. Mas essa não é a sua única utilização. Espera-se também que ele seja amplamente empregado em procedimentos mais corriqueiros, como realização de consultas e atendimentos personalizados, além do monitoramento de pacientes que precisam de cuidados intensivos e realização de diagnósticos remotamente.

Nesse sentido é possível imaginar, por exemplo, uma situação em que o mundo físico e o mundo digital se sobreponham, proporcionando a interação em tempo real entre o médico e o paciente como se fosse ao vivo. Não se trata de teleconsulta, mas de uma nova ideia de interação – feita por meio de avatares – que torna esse tipo de experiência muito similar à visita ao consultório ou ao hospital que conhecemos por tantos anos.

O uso de tecnologias de realidade aumentada e realidade virtual, por exemplo, vai permitir ainda que o médico se coloque no lugar do paciente e assim observe em detalhes o que o paciente vê ao mesmo tempo que pode consultar a representação 3D do órgão que deve ser examinado. Do seu lado, o paciente também vai poder visualizar o resultado da sua cirurgia, acompanhar a evolução do tratamento e receber orientações médicas mais específicas.

Toda essa evolução, aliada ao uso de inteligência artificial para aprimorar e agilizar os diagnósticos, deve multiplicar a qualidade e a quantidade de informações que as equipes médicas terão para realizar procedimentos cirúrgicos, obter diagnósticos preditivos e conduzir os mais variados tipos de tratamentos.

Consequentemente, a eficiência das cirurgias e dos tratamentos deve aumentar, o que diminui o risco de complicações e reduz custos.

Outro efeito bem-vindo que a utilização massiva desse conjunto de tecnologias deve trazer é a possibilidade de atender e acompanhar um número muito maior de pacientes, independentemente da sua localização geográfica, o que significa dizer que será possível utilizar a expertise dos maiores especialistas do mundo para resolver os casos mais complexos da medicina, independentemente de onde eles estiverem.