Caminho planejado em direção a sonhos e necessidades

Modalidade genuinamente brasileira consiste na arte de poupar em grupo e registrou o maior crescimento em 10 anos

Há exatos 60 anos, em 1962, o Brasil lançou, de forma pioneira no mundo, o consórcio, que se popularizou e hoje se relaciona diretamente com o acesso de milhões de pessoas a produtos e serviços que configuram sonhos e/ou necessidades, e com o aquecimento de diversos setores da economia do País. Segundo o Banco Central, responsável pela regulação e fiscalização da modalidade, "consórcio é a reunião de pessoas naturais e jurídicas em grupo, com prazo de duração e número de cotas previamente determinados, promovida por administradora de consórcio, com a finalidade de propiciar a seus integrantes, de forma isonômica, a aquisição de bens ou serviços, por meio de autofinanciamento". Em um consórcio, portanto, o valor de um bem ou serviço é diluído em um prazo, e todos os integrantes do grupo contribuem neste intervalo com quantias necessárias para viabilizar o objeto ou serviço desejados, e a administradora contempla gradualmente os participantes, por sorteio ou lance, até que todos sejam atendidos.

Indicadores da Associação Brasileira de Administradores de Consórcios (Abac) mostram o vigor da modalidade, que atrai por diversos diferenciais (veja mais à página 2). Entre setembro de 2021 e setembro de 2022, os participantes ativos, ou seja, pessoas em grupos em andamento, contemplados ou não, cresceram 9,1%, superando um total de 9,1 milhões. O número de cotas comercializadas (ou seja, o total de adesões aos consórcios) subiu, no mesmo intervalo, 34,5%, acumulando 2,6 milhões de adesões apenas nos primeiros nove meses deste ano. O tíquete médio (valor médio das cotas) também avançou 10,8% entre setembro de 2021 e de 2022, e chegou a R$ 70,9 mil. Só entre janeiro e setembro deste ano, mais de 1,1 milhão de pessoas (físicas ou jurídicas) – 8,7% mais que no mesmo período de 2021 – foram contempladas.

Sistema de Consórcios em geral

Segundo o Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da Abac, os bons resultados apoiam-se, principalmente, no maior conhecimento sobre educação financeira dos participantes. "É na essência do consórcio e na boa gestão das finanças pessoais que está o sucesso do sistema. A postura de evitar o imediatismo no consumo ou a compra por impulso é cada vez mais assimilada pelo brasileiro", avalia. Ele ressalta que a expectativa de crescimento do PIB brasileiro, bem como a entrada gradativa de bilhões de reais em benefícios sociais e a injeção de R$ 250 bilhões do 13º salário, aliados à redução do índice de desemprego, sinalizam uma perspectiva de crescimento do sistema de consórcios. "Passadas seis décadas, é possível afirmar que os consórcios evoluíram, se aprimoraram e são relevantes tanto para a economia nacional, como para conquistas de milhões de brasileiros. De uma participação de 1,9% no PIB de 2002, quando os ativos administrados somavam R$ 29 bilhões, o sistema passou a representar 4,7% em 2021, com 404 bilhões.", complementa Edna Maria Honorato, presidente do conselho nacional da Abac.

O diretor comercial do Consórcio Scania, Rodrigo Clemente, ressalta os fatos de o consórcio ser fruto da criatividade brasileira e de que ao longo dos anos o sistema se desenvolveu, convertendo-se, hoje, numa opção bemestruturada, com governança e segurança para quem opta por essa modalidade. "No consórcio o dinheiro fica protegido das variações da economia, permitindo um custo financeiro sempre menor que os financiamentos", sintetiza. Jorge Freire, CEO e cofundador do BomConsórcio, principal referência no mercado secundário de consórcios no Brasil, reforça que a modalidade traz produtos competitivos e oferece condições diferenciadas. "Há consórcio para quase todo tipo de produtos, por exemplo. Então, para algumas opções, quando você não encontra uma alternativa de financiamento, ele ocupa esse papel. Além disso, consórcio não tem juros. O custo de um consórcio, basicamente, é a taxa de administração, um valor equivalente ao seguro e um fundo de reserva, que é uma provisão para uma eventual dificuldade que o grupo passe. Esses custos somados são competitivos em relação aos juros de mercado de um financiamento bancário, por exemplo", avalia.

Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da Abac
Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da Abac - Divulgação

Luis Toscano, vice-presidente Comercial da Embracon, corrobora as perspectivas apresentadas. Segundo ele, o comportamento dos consumidores e a conjuntura explicam o crescimento da modalidade. "Em relação ao primeiro ponto, sabemos que o consumidor está mais exigente e pesquisa muito antes de optar pela forma com que pretende realizar seus objetivos. Ele já identificou no consórcio um mecanismo seguro e o mais econômico. Esse comportamento atrelado ao nível da taxa Selic, de 13,75%, que encarece os financiamentos, deixa claro que o panejamento financeiro para adquirir produtos ou serviços torna o consórcio a modalidade mais vantajosa e atrativa sob diversos aspectos", diz Luis.

O presidente da Honda Serviços Financeiros, Marcos Zaven Fermanian, lembra que o mercado de consórcios apresenta números positivos há alguns anos e alcançou, no primeiro semestre de 2022, o maior volume de vendas da última década. "Para a Honda, há um crescimento importante, especialmente no segmento de motocicletas, que está ligado ao setor de entregas em domicílio, bastante aquecido nos meses mais agudos da pandemia de covid-19 e que se mantém consolidado. Assim, mesmo nos meses iniciais da pandemia no país, com intensas restrições à mobilidade e à atividade econômica em todo o mundo, o consórcio se manteve relevante como uma opção para aquisição de motocicletas", exemplifica. Ele ressalta, ainda, que o crescimento do mercado de consórcios é de suma importância e que, quando ligado à modalidade de veículos, por exemplo, relaciona-se à democratização da mobilidade no país. "Quando falamos sobre a oportunidade de acesso a um bem como um automóvel ou motocicleta, isso diz muito, pois trata-se da oportunidade de mobilidade e muitas vezes de trabalho para muitas famílias brasileiras", complementa.