Investimento sustentável vira prioridade nos negócios

Engajamento aos chamados fatores ESG é cobrado por investidores e mandatório para empresas que pretendam alavancar suas atividades; evento gratuito discute o tema

O mundo empresarial tem sido alertado há anos que não basta registrar lucro, ser competitivo e ter capacidade de honrar suas dívidas para garantir o sucesso de seus negócios. O engajamento às políticas de sustentabilidade, de igualdade de gêneros e de ética, entre outras, deixou de ser iniciativa voluntária para se tornar mandatória.

Fundos de investimentos, instituições financeiras e potenciais acionistas já levam em conta nos cálculos de risco das empresas o quão afinadas estão ao conteúdo da sigla inglesa ESG, que, em português, significa compromissos com o ambiental, o social e a governança.

Já não há mais como ignorar, driblar ou camuflar essas três letras. “Os investimentos e os produtos financeiros cada vez mais incorporam os fatores ESG na lógica de risco”, afirmou Marta Pinheiro, diretora ESG da XP Inc. “Temos convicção de que não se trata de mais um modismo mas de uma transformação sem retorno. As empresas que não se prepararem ficarão em desvantagem.”

Com o objetivo de mergulhar fundo no que essa sigla significará para o futuro das empresas e em como elas podem se adequar, a XP Investimentos organiza o evento Expert ESG, entre os dias 2 e 5 março, por meio virtual e gratuito (veja no quadro abaixo).

Nos seus painéis estarão presentes executivos de companhias que já se alinharam a esses compromissos, expoentes do mercado financeiro e figuras de renome que têm muito a dizer sobre essa mudança. Entre elas, o historiador Yuval Harari, autor de “Sapiens - Uma Breve História da Humanidade”.

A sigla ESG já está associada, mundo afora, ao investimento responsável e à avaliação abrangente das empresas. Deixando de lado a visão conceitual, o principal dado a ser encarado é o volume de US$ 30 trilhões gerido por fundos de investimentos com estratégias de sustentabilidade - ou seja, os que não injetam capital em companhias pouco ou nada engajadas aos fatores ESG. Gestores internacionais gigantes, como o Blackrock, em cujas mãos estão pelo menos US$ 7 trilhões, se mostram 100% integrados ao ESG.

“A tendência é de mais fundos abraçarem esses compromissos, assim como instituições financeiras”, declarou Marta, ao alertar para a gradual contabilização dos fatores ESG também pelos bancos quando analisarem pedidos de crédito e de financiamento, emissão de bônus e operações de fusão e aquisição.

Para a diretora da XP Inc., é importante para a empresa não reagir como se fosse abrir mão de sua rentabilidade e de parte de seus investimentos para atender a essa exigência. Ao contrário, ao se engajarem ao ESG, as decisões empresariais estarão naturalmente mais afinadas aos anseios de investidores, da sociedade e dos consumidores - esses últimos, igualmente mais exigentes sobre esses critérios. “A perspectiva é de entrarem em um círculo virtuoso, valorizarem-se e trazerem mais retorno aos acionistas.”

A executiva explica que alinhar-se ao ESG não significa apenas comprar papel reciclado para o escritório nem nomear uma única mulher para figurar na diretoria. As mudanças requeridas serão mais profundas, certamente graduais, e dirão respeito ao dia a dia do negócio.

Para se tornar sustentável, a empresa terá de rever seus processos de descarte de lixo e rejeitos, de uso de energia, de emissão de poluentes e treinamento de funcionários. Em uma expressão: reduzir sua emissão de gases do efeito estufa. Eventualmente, apoiar projetos ambientais que igualmente repercutirão em sua imagem.

Na esfera do “S”, a relação entre a empresa e a comunidade se torna mais relevante. A adoção de políticas em prol da diversidade, de melhoria das condições de trabalho, de engajamento dos funcionários certamente refletirá uma nova atitude da área de Recursos Humanos. Nesse campo, também estão as ações filantrópicas, tradicionalmente magras no Brasil. A pandemia de Covid-19, porém, já começou a mudar esse quesito. Em 2020, as doações de empresas superaram R$ 6 bilhões.

Sobre a governança, a ampliação e maior visibilidade no número de ações judiciais deixaram claro que as portas estão se fechando às atitudes antiéticas e à falta de transparência das empresas. Mas há outros fatores a serem trabalhados, como a ascensão de mulheres e pessoas LGBT+ nas suas carreiras, com base em seus méritos, e a equidade de gêneros e a diversidade nas instâncias de comando.

Adoção do ESG traz ganhos nas Bolsas

Os fatores ESG prometem ganhos reais que já podem ser mensurados, como mostra a performance de companhias engajadas nas bolsas de valores. Na de Nova York, o conjunto de empresas que aderiram ao ESG obteve 345% de valorização entre 2009 e 2020, enquanto as não afinadas registraram 295%, segundo relatório da XP Investimentos.

“A valorização das empresas comprometidas aos fatores ESG é resultado da própria repercussão de suas políticas ambiental, social e de governança nas tomadas de decisão e na condução dos negócios”, diz Marta Pinheiro, diretora ESG da XP Inc.

A adoção do ESG ainda é tímida no Brasil. Apenas 62 companhias do país são signatárias dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI), iniciativa global que concentra mais de 3.000 empresas e instituições financeiras compromissadas com o ESG.

Mas a comparação entre o índice Ibovespa e o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) dá uma mostra de como as empresas ESG tenderão a abrir vantagem sobre as que ignoram esses fatores. Desde 2006, a valorização do Ibovespa foi de 202%. Do ISE, de 269%.