A importância do investimento sustentável no pós-pandemia

Expert ESG, promovida pela XP Investimentos de 2 a 5 de março, mostrou que compromissos sérios com a inclusão social, a governança corporativa e a preservação do ambiente são um caminho irreversível nos investimentos. Especialistas concluíram que os cidadãos querem mais engajamento das empresas com que se relacionam

E

(environmental – meio ambiente) - O primeiro dia da Expert ESG tratou de mudanças climáticas e seus efeitos, de uma economia verde e inclusiva, da importância e do potencial da Amazônia e da necessidade de práticas reais de sustentabilidade nos negócios. Para o cientista Carlos Nobre, o aquecimento global já afeta o planeta, com o aumento do número de desastres naturais, como furacões, inundações e incêndios florestais fora de controle. Para ele, governantes e empresas precisam adotar ações concretas, como cumprir o Acordo de Paris, que prevê a redução das emissões de gases que causam o efeito estufa, responsável pelo aumento da temperatura global. E o Brasil, para Nobre, pode ter protagonismo. “A economia do século 21 é verde. É preciso manter a floresta e, também, olhar para o lado econômico, pois há um potencial gigantesco. É possível conservar a floresta em pé e industrializar a riqueza da biodiversidade, com tecnologias modernas”, disse Nobre.

Já John Elkington, considerado o pai do conceito de sustentabilidade, questionou a preparação das empresas para lidar com o tema. O britânico também destacou a importância do papel dos governos e de regras claras em relação às mudanças climáticas. Para Elkington, o conceito ESG é excelente. Porém é preciso estar atento para o que chamou de “maquiagem verde”, que é quando uma empresa tem atitudes de fachada para se dizer sustentável, enquanto pratica um negócio danoso ao meio ambiente. Elkington avaliou que “daqui a 100 anos, a sustentabilidade será um conceito como a liberdade e a democracia”.

"Daqui a 100 anos, a sustentabilidade será um conceito como a liberdade e a democracia"

John Elkington, considerado o “pai da sustentabilidade”

S

(social) – O segundo dia da Expert ESG foi dedicado ao tema social e tratou da importância da diversidade e da inclusão para os negócios. Também foi realizado um debate sobre a “Força da Liderança Feminina” (leia texto). Marta Pinheiro, diretora ESG da XP Inc., disse que, por causa do cenário da pandemia, a questão social tem mais importância ainda na agenda das empresas e dos investidores. “É estratégico para os negócios uma agenda mais inclusiva e diversa, com gestão de gênero e étnica”, disse. Jean Case, presidente da National Geographic, avaliou que, apesar de o caminho para um mundo mais inclusivo e responsável ainda ser longo, o cenário começa a mudar. Uma das causas da mudança são os millennials – pessoas que têm entre 18 e 35 anos. Essa nova geração pressiona o sistema, exige mudanças e é mais preocupada com a questão da sustentabilidade ao investir.

Porém, apesar dessa exigência, ainda há desigualdade enorme quando se fala em gênero. Segundo Jean, no ano passado, as mulheres que começaram empresas nos EUA ficaram com apenas 2,2% do total de valor de venture capital. A situação dos negros empreendedores é ainda pior: no ano passado, eles ficaram com menos de 1% de investimentos vindos de venture capital, segundo a executiva. “As mulheres e os negros estão sendo deixados de lado. A distribuição do capital deveria ser sobre a qualidade da ideia e o potencial que o empreendedor tem para liderar a empresa”, afirmou.

G

(governança) – Foram debatidos temas como a cultura das empresas focada em um capitalismo consciente e como os negócios e as lideranças devem integrar sustentabilidade à governança. Para o fundador do movimento Capitalismo Consciente, Raj Sisodia, muito mais do que só dar lucro, a empresa precisa ter propósito e significado, e também tem que gerar valor para todos os stakeholders. Deve-se agir de forma responsável. Pensar em todos, atualmente, não é mais optativo, é uma questão de sobrevivência de uma empresa. “A mentalidade antiga de focar a entrega de resultados não é mais aceita. É preciso saber a que custo esses resultados foram conseguidos”, disse Sisodia, apontando que, com isso, pode-se ter significativos ganhos de produtividade e de redução de custos. “Está tudo interconectado. Os funcionários que são mais bem cuidados pelas empresas têm um desempenho melhor, tratam melhor os clientes, que por sua vez fazem uma boa propaganda dos produtos e da corporação. Os custos jurídicos, administrativos e de marketing dessas empresas são menores.” Halla Tómasdóttir, ex-candidata à Presidência da Islândia, reforçou a tese de Sisodia quanto à conexão de vários fatores para uma boa governança corporativa. Para ela, alguns itens são fundamentais às empresas que querem se manter no mercado: falar de forma honesta sobre os riscos dos negócios, ter uma equipe diversa, ter foco na sustentabilidade e superar o conformismo. “ESG não é só algo legal, está se tornando fundamental no mundo dos negócios”, concluiu Halla.

Presença de mulheres no comando é mandatória

Compromisso de aumentar a presença feminina e de afrodescendentes em cargos de alto escalão das empresas. Essa foi uma das conclusões do debate “A Força da Liderança Feminina”, promovido pela Expert ESG.

Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, afirmou no painel que essa questão deve integrar o planejamento estratégico. “E ainda ser acompanhada pelo conselho da empresa, como uma meta a ser cumprida.”

Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza
Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza

Já Tania Cosentino, CEO da Microsoft Brasil, considerou importante que a governança de uma empresa garanta a remuneração de seus profissionais por resultado apresentado, e não por questão de gênero.

Outro ponto discutido foi a adoção de cotas para mulheres em conselhos administrativos. Hoje, no Brasil, segundo dados da Spencer Stuart Board Index, o sexo feminino representa 11,5% dos membros dos conselhos de administração.

Tania Cosentino, CEO da Microsoft Brasil
Tania Cosentino, CEO da Microsoft Brasil

“É importante adotar cotas, pois elas ajudam muito na inserção e também impulsionam a inovação”, disse Rachel Maia, conselheira do Unicef e fundadora da RM Consulting.

Tania, da Microsoft, também é favorável às cotas. “Estamos num momento de transição, e as cotas são uma forma de ajudar nessa transformação”, disse.

Rachel Maia, conselheira do Unicef e fundadora da RM Consulting
Rachel Maia, conselheira do Unicef e fundadora da RM Consulting

Luiza contou que a sua meta é conseguir 40% de mulheres no conselho da empresa e que, recentemente, o Magazine Luiza lançou um programa de trainees exclusivo para negros. “Minha ambição agora é lançar um programa focado em mulheres acima dos 50 anos. Para ser realmente inclusivo é preciso ter ações concretas.”

Escritor pede cooperação para vencer a pandemia

O escritor Yuval Harari afirmou na Expert ESG que só a cooperação e mais união entre os países podem acabar com a pandemia de Covid-19.

Como exemplo, citou a sinergia dos cientistas no desenvolvimento das vacinas. Mas, quanto à distribuição do imunizante, o autor de “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade” criticou a competição.

Yuval Harari, autor de “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”
Yuval Harari, autor de “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”

“É preocupante, pois, enquanto o vírus continuar a circular no mundo, nenhum país estará seguro. Falta a sabedoria política. Estamos tomando más decisões”, disse Harari. “Se não estamos conseguindo superar a pandemia, como vamos conseguir combater as mudanças climáticas?”, questionou.

Harari ainda destacou o papel fundamental da imprensa livre nas democracias. E alertou: “As fake news têm uma vantagem sobre a verdade científica. A verdade é sempre complicada e dolorida. As pessoas não querem saber a verdade”.

TODOS OS DEBATES DA EXPERT ESG ESTÃO DISPONÍVEIS NO LINK ABAIXO

https://eventoexpert.xpi.com.br/event/expert-esg-2021