Como serão os shows e o mundo do entretenimento no futuro? A consultora de estratégia musical e co-fundadora dos festivais Popload e Grls!, Paola Wescher imagina que, no futuro, a barreira entre o real e o virtual seja quase imperceptível, mudando radicalmente como os eventos serão produzidos e consumidos.
“A realidade virtual não será apenas uma ideia, um sonho. Uma banda tocando no Japão ou na Coréia do Sul poderá ser vista em tempo real por alguém que esteja aqui no Brasil”, prevê.
Dos pontos de vista econômico e ambiental, será uma mudança que fará todo o sentido. Viagens cansativas, que custam caro, serão algo do passado. “Uma banda não vai mais precisar fazer cinco shows em cinco dias, gastando muito dinheiro e tendo uma qualidade de vida ruim. Para a indústria, será melhor, vai baratear custos, produzir menos lixo, menos poluição.”
Se hoje existe a sensação de que a música é ubíqua, no futuro ela estará não apenas em todos os lugares, mas também dentro da gente. “Imagino ainda que teremos pequenos aparelhos implantados na orelha ou mesmo no cérebro. A música poderá ser acionada com um toque, com um estalo de dedo.”
Tudo isso será possível porque a internet será como o ar, estará em todos os lugares. “Ainda vamos passar por tecnologias como óculos virtuais, mas no futuro viveremos como se estivéssemos dentro de um game. Será um híbrido entre a realidade como a conhecemos hoje e uma realidade que estará misturada com o mundo virtual.”
Além da música, outras áreas do entretenimento também passarão por uma revolução. Segundo especialistas como Lucas Shaw, que edita a newsletter Screentime, da Bloomberg, os podcasts, por exemplo, vão ganhar ainda mais espaço, graças ao investimento de grandes empresas de tecnologia. Plataformas de streaming de filmes e séries de TV vão diversificar suas operações, investindo em áreas como negócios, entretenimento ao vivo e games. As redes sociais serão uma fonte consistente de receitas para empresas, criadores e celebridades.
Mas acessível, a tecnologia ampliará consideravelmente a produção de conteúdo, mas isso apenas não será suficiente para conquistar o público. Para Marcelo Aliche, diretor artístico do festival de documentários In-Edit, o barateamento da tecnologia não garante talento. “Algumas coisas menores, sofisticadas, arriscadas, aparecerão, claro, e até podem ganhar notoriedade. Mas o talento continuará sendo muito importante.”
As produções audiovisuais terão ainda ferramentas narrativas que, atualmente, estão apenas no campo das ideias. “A realidade aumentada, a realidade virtual, por exemplo, tenho certeza de que vão ser coisas comuns. Vão surgir novas maneiras de contar histórias, até com hologramas. Também vamos ter uma sensação de imersão total, como passear pelo lugar em que está ocorrendo determinada cena de um filme.’