“Uma das sensações mais marcantes que eu tinha era a de quanto eu sentia falta das pessoas que conhecia e amava e, também, das pequenas coisas. Eu estava lá, no alto, distante, e queria compartilhar toda a minha experiência: o que eu via, as minhas sensações. Mas a minha família e os meus amigos não estavam ali. Estavam bem longe, na Terra.”
O norte-americano Danny Olivas sabe muito bem o que é estar isolado. Ex-astronauta da Nasa (agência espacial norte-americana), ele foi duas vezes à Estação Espacial Internacional. Passou 26 dias lá, a 408 km de distância do nosso planeta. Comunicava-se apenas por rádio, com os cientistas da Nasa e com um ou outro astronauta que também estava na estação.
“Você passa por muitos anos de treinamento para ir ao espaço e fica focado naquilo, porque é o que quer fazer”, conta Danny. “Entretanto, quando você realmente está no espaço, com o universo chegando aos seus olhos, os cheiros, as sensações… O que eu mais queria era compartilhar tudo aquilo. Queria que o meu pai estivesse comigo, a minha mulher, os meus filhos. Por mais que você deseje ir para o espaço, no final das contas vai sempre querer voltar para casa.”
E quando Danny afirma que no isolamento do espaço sentia falta das pequenas coisas, ele não está exagerando. Sabe do que ele sentia falta quando estava trabalhando na Estação Internacional ou quando dava alguma caminhada pelo espaço? De tomates.
“Ficava pensando no sabor de um tomate fresco. No ato de cortar o tomate, de sentir o cheiro, de colocar sal e, depois, o tomate na boca. Sempre pensava nisso. Claro, eu me alimentava no espaço, havia comida, mas não era a mesma coisa. Quando você sente falta das coisas pequenas, passa a valorizá-las muito mais.”
Atualmente Danny mora em Los Angeles. Como todos, está em isolamento. E torcendo para que a vacina contra a Covid-19 seja distribuída à população mundial. Mais cedo ou um pouco mais tarde, a normalidade voltará, e ele poderá reencontrar a mãe, que mora em Dallas.
“Quero muito voltar a abraçá-la”, diz, esperançoso. “Temos uma tradição na família de sempre fazer uma festa durante a Páscoa. Reunimos vários amigos. Em 2020 não conseguimos fazê-la. Se neste ano não der, em 2022 ela será novamente organizada.
Olivas faz parte da nova campanha de Johnnie Walker, marca que completa 200 anos de histórias. No filme promocional, Olivas fala um pouco de suas experiências, enquanto imagens mostram vários módulos que trazem astronautas de volta à Terra. São homens e mulheres ávidos por se reconectar presencialmente com as outras pessoas, como acontece agora após quase um ano de isolamento social.
"Voltar a viver tudo de novo como se fosse a primeira vez… As pequenas coisas que você nem percebia mais passam a ser saboreadas. A vida vai se encher de possibilidades outra vez", ele afirma.
Nesses 200 anos, a humanidade passou por inúmeras situações de dificuldade extrema. Foi preciso perseverança, criatividade e empatia para superar pandemias, guerras, desastres naturais. Mas os avanços foram imensos, e Danny faz um exercício de imaginação para contar como deverão ser os próximos 200 anos na Terra.
“Se pensarmos em todo o desenvolvimento tecnológico que tivemos nos últimos 200 anos, imagino que os próximos 200 serão fenomenais. O futuro tem a ver com possibilidades. A sociedade, as nossas interações e o nosso planeta serão incrivelmente diferentes de tudo o que temos hoje”, prevê o ex-astronauta
“Estamos começando a entender como somos conectados uns aos outros. A minha esperança é que nos próximos 200 anos vamos estar mais juntos, como um único planeta, como uma única espécie, e não como entidades separadas.”
Danny Olivas, astronauta da Nasa que esteve duas vezes no espaço
Para Danny, o desafio maior será “entender e valorizar a tolerância”.
“Temos de ser capazes de nos colocarmos no lugar do outro. Testemunhamos devastações no planeta e, às vezes, é fácil pensar que isso está ocorrendo em um lugar muito distante, que não tem a ver conosco. Mas está ocorrendo com a gente, com o nosso planeta. A pandemia, de uma certa forma, nos fez perceber como estamos juntos e como precisamos uns dos outros."
NAS MONTANHAS
A valorização das pequenas coisas, que Danny sentia quando estava isolado no espaço, é semelhante à do jornalista e guia de viagem de aventura Caio Vilela.
Sozinho ou em pequenos grupos, Caio já passou dias isolado em alguns dos cantos mais inóspitos do planeta, como as cordilheiras do Himalaia e dos Andes.
“A maior experiência de isolamento que tive foi em 2015, na Sierra de Aliste, na região de Puna do Atacama”, conta. Ali, entre Chile e Argentina, há diversas montanhas que alcançam entre 5.000 e 6.000 metros de altura.
“É uma localização bem remota. Estávamos em cinco pessoas e tivemos de dirigir mais de 200 km fora da estrada, em cima de pedras, até chegar à base dessas montanhas. É preciso levar até a água que você vai consumir. Não tínhamos contato com outras pessoas. Se algo desse errado, não daria para avisar ninguém”, relembra.
Foram 15 dias totalmente isolados. Na volta, depois de dias calçando botas pesadas, Caio se emocionou até ao vestir um chinelo de dedo. “Depois de vários dias em uma situação extrema, privado das coisas mais básicas, a sensação da volta é maravilhosa. Eu quase delirei ao tomar um refrigerante, de tão gostoso que foi sentir aquilo. Qualquer refeição, qualquer noite dormida em uma cama, qualquer papo com qualquer pessoa é uma experiência especial. Nós valorizamos mais essas coisas.”
E como será o pós-pandemia? Como reagiremos à liberdade de poder reencontrar familiares e amigos, de poder aglomerar em bares e restaurantes, de poder fazer festas?
Para a psicóloga e professora da Unip Marizilda Fleury Donatelli, a reação será diferente para cada um. “Ao longo do tempo, as pessoas vão voltar a ter o contato social, até porque isso é da nossa natureza, somos seres sociais”, diz.
Marizilda também acredita que o isolamento causado pela pandemia pode ter tido um efeito positivo nas relações.
“Muita gente aprendeu a valorizar mais as relações familiares, os amigos. Esse período serviu para sentirmos como é importante a proximidade com os outros. Aprendemos a valorizar o que está ao nosso redor."
Marizilda Fleury Donatelli, psicóloga
SOBRE O FILME
O filme "Astronauta", que marca os 200 anos de história de Johnnie Walker, usa a mesma tecnologia utilizada em produções como "Gravidade" para as cenas do espaço. Na volta à terra, são mostradas cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Após o pouso, os astronautas experimentam momentos que havia muito sentiam falta. Como o contato com as pessoas, os carinhos, as confraternizações com amigos, a praia. E termina com a mensagem: Os próximos 200 anos estão apenas começando.
Assista ao filme