Não é novidade para ninguém que a paisagem montanhosa de Minas Gerais é o cenário perfeito para ser explorado por ecoturistas, trilheiros, ciclistas e amantes da natureza em geral. Agora, uma curiosidade traz um componente adicional para a viagem: a de que alguns dos melhores destinos verdes do estado estão conectados pela única cordilheira do país, a Cordilheira do Espinhaço, uma formação montanhosa tão especial a ponto de ser reconhecida como Reserva da Biosfera pela Unesco. Cordilheira é o nome que se dá a uma vasta cadeia de altas montanhas.
A única cordilheira brasileira segue por nada menos que 1.200 quilômetros na direção sul-norte, começando na região de Ouro Branco, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, para terminar na Chapada Diamantina, no norte da Bahia. Uma área total de impressionantes 10.218.895,20 hectares que abrangem, apenas dentro de Minas Gerais, 172 municípios. Entre 700 e 800 quilômetros da cadeia montanhosa atravessam o território mineiro, conectando importantes serras como a do Cipó, do Caraça, do Itacolomi e a do Ouro Branco.
O reconhecimento como Biosfera da Unesco não é à toa. A rica biodiversidade é fruto do encontro da Mata Atlântica com Cerrado, Campos Rupestres em altitudes acima de 900 metros e a Caatinga, já na Bahia. Apenas dentro de Minas Gerais, ao menos 13 unidades de conservação repletas de cachoeiras e vistas inacreditáveis fazem parte da área da Cordilheira. E, se isso já é motivo para atrair o turista aventureiro, aqui a natureza se mescla com cidades históricas, estâncias hidrominerais, cultura preservada, aquela famosa hospitalidade local e a amada cozinha mineira. E o melhor de tudo: a Cordilheira é tão extensa que não se trata de apenas uma viagem, mas várias.
O destino Cordilheira do Espinhaço
Nos últimos anos, o nome Cordilheira do Espinhaço passou a ser relacionado a diversas antes quase desconhecidas cidadezinhas do Norte de Minas. Grão Mogol, Turmalina, Itacambira, Cristália e Botumirim já haviam descoberto o potencial imenso para o turismo ecológico, dada a beleza natural desse pedacinho do Vale do Jequitinhonha, repleto de trilhas e cachoeiras lindíssimas, combinadas com cidades históricas de casario preservado da época da mineração de diamantes. Mas o grande salto foi terem juntado forças para trabalhar o destino em conjunto.
Quando, em 2021, os gestores de turismo desses municípios se reuniram, chegaram à conclusão de que sua identidade em comum era compartilhar a região do Espinhaço. "Naquela época, a gente chamava de ‘serra’ e citava se tratar da única cordilheira do Brasil, aí deu o estalo, por que não chamar assim?", lembra Poliana Caldeira, presidente da Associação Fundo para o Desenvolvimento Turístico da Cordilheira do Espinhaço.
A partir daí, a Cordilheira do Espinhaço passou a ser um destino ecoturístico. Trabalhado juntamente com o Sebrae Minas e a Reserva da Biosfera e promovido com o apoio do Governo de Minas por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG) em feiras de turismo no Brasil e no mundo. Em seguida, mais três cidades da região – Montes Claros, que tem um aeroporto, Olhos d’Água e Bocaiúva – também passaram a fazer parte do circuito.
"Um ecoturista é aquele turista que busca novidade, né? E a cordilheira é um destino de ecoturismo que está totalmente dentro do Brasil, diferentemente do Pantanal ou da Amazônia, que dividimos com outros países. Há também o fato de pensarmos que nós também temos uma cordilheira. Todo mundo já ouviu falar da Cordilheira dos Andes. Aí vem a gente falando da Cordilheira do Espinhaço, no Brasil, que também é uma cordilheira. Isso tudo tem um apelo muito forte", diz Poliana.
Tese confirmada em outubro de 2023, quando o Abeta Summit, o principal evento de ecoturismo e turismo de aventura do Brasil, cada ano celebrado num destino diferente, escolheu a Cordilheira do Espinhaço para sua 20ª edição. Mais precisamente Grão Mogol, que, com seu centro histórico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), é a base mais escolhida para dias de muitas atividades na natureza da região. Ali, a Trilha do Barão, um caminho de pedra de 14 km construída pelos escravizados, revela paisagens exuberantes para quem se aventura de bike ou trekking. O Parque Estadual Grão Mogol também tem trilhas para trekking e cachoeiras.
Já Botumirim é um ímã para observadores de pássaros graças às espécies de aves endêmicas, sobretudo a Rolinha do Planalto, que foi considerada extinta por mais de 70 anos e, hoje, conta precisamente com 16 aves. Mesmo que poucas, é possível vê-las já que há um parque inteiro criado para sua preservação, a Reserva Natural Rolinha do Planalto. A área abriga também outras 213 espécies, motivo de sobra para pessoas de 36 nacionalidades diferentes já terem aparecido por lá. Botumirim é também famosa pelos campos de sempre-vivas.
Outra paisagem de tirar o fôlego é o Cânion da Lapa do Veado, em Caçaratiba, distrito de Turmalina. A formação rochosa de 11 quilômetros repleta de cavernas, túneis e desfiladeiros margeia o rio Jequitinhonha, navegável em boa parte do trajeto. É uma aventura e tanto.
Para quem quer lavar a alma em cachoeiras, o cardápio é farto. Em Botumirim, a Cachoeira do Bananal tem mais de 200 metros de queda. Já em Grão Mogol, a cachoeira Véu da Noiva, acessível por um trekking de um quilômetro, tem uma queda de 34 metros e um delicioso poço de águas escuras para nadar.
Mas quem quer, de fato, entender toda a grandiosidade da região deve ir ao Morro do Chapéu, em Cristália. A montanha em forma de chapéu pode ser avistada de algumas dessas cidades, portanto, um trekking ao alto é uma aventura que descortina os arredores e dá a dimensão de fazer parte desse acidente geográfico grandioso que é a Cordilheira do Espinhaço. E se isso já é muito, saiba que todas essas cidades representam apenas uma das viagens para se explorar a Cordilheira.
O Espinhaço no Circuito dos Diamantes
Pouco mais de 300 quilômetros ao sul de Grão Mogol está outra cidade-base para ecoturistas explorarem mais um trecho exuberante da Cordilheira do Espinhaço. Mas, diferentemente das cidades mais ao Norte, essa é uma velha conhecida do turismo tradicional. Diamantina, ela mesma, está no centro geográfico de outras 15 cidades menores dessa microrregião conhecida como Circuito dos Diamantes. A grande maioria delas está na Cordilheira, que as abastece com exuberante natureza, perfeita para uma boa aventura.
"Nosso slogan é natureza e cultura em um único destino", define Ethany Cunha, gestor da IGR Diamantes. "Da parte de cultura, temos história, arquitetura colonial, personalidades como JK e Chica da Silva; de gastronomia, duas regiões queijeiras que são o Queijo Diamantina e o Queijo Serro; e da parte de natureza, temos todo esse aspecto de estarmos enfiados no Espinhaço e com todas essas possibilidades de esportes de aventura, como das caminhadas e circuitos de bike", diz.
Prova disso é que Diamantina recebe há 10 anos, sempre em julho, o Sertão Diamante, uma das mais desafiadoras ultramaratonas de Mountain Bike do Brasil. Um circuito de dois dias, que passa por trilhas dificílimas e cenários incríveis. A competição recebe atletas nacionais e internacionais e para completamente a cidade, que vive dias intensos em que bike é o único assunto.
Tanto Diamantina quanto a também histórica Serro costumam ser a base para quem explora a Cordilheira do Espinhaço nesse trecho, até por oferecerem mais estrutura de hospedagem e gastronomia, mas é nos arredores que estão as maiores atrações ecoturísticas, a começar pelo Parque Estadual do Biribiri, colado na cidade e com sua famosa cachoeira da Sentinela. A lista de unidades de conservação na região recheadas de cachoeiras segue com o Parque Estadual Pico do Itambé, em Santo Antônio do Itambé; o Parque Estadual do Rio Preto, em São Gonçalo do Rio Preto; o Parque Nacional das Sempre-Vivas, em Buenópolis, apenas para citar as principais.
Com todos estes santuários naturais, a região tem se especializado em oferecer trilhas de longa duração, que são travessias entre parques com todo o apoio logístico de guias e hospedagem em povoados do entorno. O exemplo clássico é a Travessia Rio Preto X Pico do Itambé, jornada de quatro dias de um parque ao outro passando por cachoeiras, piscinas naturais, campos de sempre-vivas e culminando, literalmente, no Pico do Itambé, com seus 2.052 metros de altitude. "Tem gente que faz travessias de 30 dias e passa por todos os parques", conta Ethany.
Outra atividade imperdível na região é a Trilha Verde da Maria Fumaça. Trata-se de um antigo ramal ferroviário que ligava Diamantina a Corinto, caminho que se tornou uma rota para cavaleiros, ciclistas e caminhantes também. "Você tem a oportunidade de passar pelos antigos pontilhões, por comunidades onde ainda há estações preservadas da época da Maria Fumaça. Hoje, por ser uma trilha um pouco mais plana e muito segura, tem recebido muitos grupos femininos de ciclistas", diz o gestor da IGR Diamantes.
Outras viagens na Cordilheira
Quanto mais ao Sul e consequentemente mais perto de Belo Horizonte, a Cordilheira do Espinhaço segue coincidindo com destinos muito conhecidos, como, por exemplo, a Serra do Cipó, esse clássico do ecoturismo que guarda recordes importantes como a Cachoeira do Tabuleiro, cujos 273 metros de altura a colocam como a mais alta de Minas e a terceira maior do Brasil. Ela também foi eleita como uma das Sete Maravilhas da Estrada Real, cujo traçado também se confunde com os caminhos da Cordilheira.
O Parque Nacional do Tabuleiro, onde está a cachoeira, é apenas um dos parques da região. O mais famoso, o Parque Nacional da Serra do Cipó, foi apelidado por Burle Marx de "jardim do Brasil", tamanha a variedade de espécies botânicas. A região também é considerada a meca da escalada brasileira, com paredões perfeitos, além de cânions e cachoeiras. Conceição do Mato Dentro, Santana do Riacho e Itambé do Mato Dentro são as cidades base para acessar as belezas deste pedaço de Cordilheira.
Mais ao Sul, já a 100 quilômetros de BH, chega-se ao lugar onde a Cordilheira do Brasil nasce. Mais precisamente na Serra do Ouro Branco, região ao lado de Ouro Preto e Mariana, onde história e natureza caminham lado a lado. Entre as duas cidades, o Parque Estadual do Itacolomi guarda o Pico do Itacolomi com seus 1.772 metros de elevação, que é acessível por um hiking de 12 quilômetros.
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha