Combater as mudanças climáticas inclui não apenas conter o avanço do desmatamento, mas também investir em meios de transporte que utilizem energias limpas, ou seja, aquelas que não emitem gases poluentes.
Foi isso que São Paulo decidiu fazer ao apostar nos ônibus elétricos. Esse modal dispensa o uso do diesel, combustÃvel cuja fumaça pode causar problemas de saúde ao ser inalada, além de prejudicar o meio ambiente. A capital paulista estabeleceu como meta ter 20% de ônibus elétricos em sua frota até o fim de 2024.
"Diferentemente dos estados da Amazônia, em que o grande componente das metas de descarbonização é justamente o controle do desmatamento, em São Paulo o fundamental vai ser controlar o transporte e as energias", afirma Eduardo Trani, subsecretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
Trani foi um dos participantes do seminário Desafios da Mobilidade no Estado de São Paulo, uma parceria entre Estúdio Folha e Governo do Estado de São Paulo, na segunda (12). O evento aconteceu no auditório da Folha de S.Paulo, com transmissão ao vivo pela internet.
De acordo com o subsecretário, os ônibus elétricos são importantes para São Paulo diminuir a emissão
de gases poluentes. Ele acrescenta que automóveis leves e motocicletas também deveriam incorporar
essa tecnologia limpa.
"O conjunto dos transportes da cidade deverá ser cada vez mais elétrico. Até o ano de 2050, nós queremos diminuir em 50% todo o impacto [no meio ambiente] desses modais", afirma.
Trani acrescenta que as bicicletas também podem ser aliadas da luta contra a crise climática. Isso porque, de acordo com ele, a instalação de ciclovias e a recuperação de áreas verdes andam lado a lado.
Os transportes devem ser cada vez mais elétricos. Até 2050, queremos reduzir o impacto em 50%
O subsecretário usa como exemplo o rio Pinheiros, curso d’água em processo de despoluição, que teve o seu entorno revitalizado, inclusive com a instalação de uma ciclovia. Para Trani, as pistas de uso exclusivo de bicicletas trazem à cidade qualidade de vida.
Na opinião de Rovena Negreiros, doutora em economia do setor público, as bicicletas não podem ser vistas como uma panaceia. Pessoas idosas ou sedentárias, por exemplo, teriam dificuldade para usá-las como meio de locomoção, diz a especialista.
"Por isso que o transporte público de alta e média capacidade é fundamental para a mobilidade e para o acesso a serviços de cultura, saúde e educação."
Negreiros afirma ainda que é um desafio executar polÃticas voltadas à mobilidade urbana em uma cidade que tem as dimensões de São Paulo, metrópole de 12,3 milhões de habitantes. "Quando se pensa em um projeto de mobilidade para São Paulo e região metropolitana, ele precisa ter articulações muito mais amplas, o que torna mais difÃcil fazer planejamentos", diz.
Nesses últimos anos, a gente conseguiu reduzir o tempo de viagem de quase todas as linhas
O Pitu (Plano Integrado de Transportes Urbanos) é um dos documentos usados para planejar a expansão e a modernização do transporte público de São Paulo.
Negreiros diz, porém, que o adiamento do Censo demográfico, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica), impõe desafios à elaboração de iniciativas voltadas ao transporte. A dificuldade acontece porque polÃticas públicas precisam levar em conta o perfil da sociedade, o que não é possÃvel de ser obtido sem dados atualizados.
"A gente está planejando, mas não conhecemos nem a estrutura etária de São Paulo. Números são muito importantes, por isso o Censo é fundamental", diz a pesquisadora.
A pandemia representa outro desafio à mobilidade urbana. Dados dos sistemas de transporte reunidos pela Folha mostram que menos gente viaja neste ano nos trens e ônibus do que em 2019, ano que antecedeu a pandemia.
Transporte público de alta e média capacidade é essencial para mobilidade e acesso a serviços
Em abril de 2022, o número de passageiros que embarcaram nas linhas do Metrô era 34% menor do que em abril de 2019. Nos ônibus municipais, o número de passageiros transportados era 26% menor. Nos trens da CPTM, que atravessam a região metropolitana, 11,6% menor.
Pedro Moro, diretor-presidente da CPTM, explica que esse cenário acontece porque parte dos passageiros passou a se deslocar de carro, o que aumenta o congestionamento. Além disso, serviços públicos passaram a ser realizados de forma digital.
Esse processo fez com que as pessoas não precisassem mais sair de casa para fazer uma perÃcia no
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), por exemplo.
No entanto, ele diz que a CPTM conseguiu recuperar os passageiros mais rapidamente do que o metrô. Segundo Moro, isso aconteceu porque as linhas de trem cobrem uma área mais ampla.
"O passageiro da CPTM se desloca 18 km para chegar ao seu destino, enquanto o do Metrô percorre cerca de 7 km", diz ele, acrescentando que a recuperação do sistema acontecerá de forma gradativa.
"O trânsito da região metropolitana está cada vez pior. Essa situação vai trazer de volta as pessoas
para um sistema rápido e eficiente."
Ele acrescenta que a infraestrutura da CPTM passa por um processo de modernização para levar mais conforto aos passageiros. Moro cita como exemplo a estação Francisco Morato, que foi inaugurada em 2020 trazendo soluções para evitar alagamentos durante temporais.
"Nesses últimos anos, a gente conseguiu reduzir o tempo de viagem de quase todas as linhas e melhorar a regularidade dos trens. É importante levar qualidade às estações, mas o mais importante é o tempo de deslocamento", diz Moro.