Descrição de chapéu câncer

Evento discute equidade, empatia e justiça para pacientes de câncer

11º Fórum Oncoguia reuniu especialistas e representantes da sociedade para discutir políticas de saúde em oncologia

Uma em cada três pessoas que estão lendo essa reportagem desenvolverá câncer ao longo da vida. A boa notícia é que a maioria terá chance de ser curada. “O diagnóstico de câncer não é mais uma sentença de morte. Ele significa uma fase na vida da pessoa. E hoje existem inúmeras ferramentas para que o paciente enfrente essa fase e essa doença da melhor forma possível”, afirma Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, ONG de informação, apoio e defesa dos direitos dos pacientes com câncer. ​

Segundo Luciana, entre as ferramentas que farão a diferença no enfrentamento de um câncer estão a informação de qualidade, a relação médico-paciente, a postura da pessoa diante da doença, o acesso rápido ao tratamento certo para aquele tipo de câncer, o apoio de uma equipe multidisciplinar e também de uma ONG e, muito importante, a garantia de que o diagnóstico seja precoce.

As chances de superar um câncer dependem da fase em que a doença é diagnosticada: quase 9 em cada 10 pacientes terão um bom prognóstico se o tumor for detectado nos estágios iniciais. Mas esse número cai para apenas 1 em cada 4 se o diagnóstico ocorrer em estágios avançados.

A demora no diagnóstico e o atraso para iniciar o tratamento estão entre os principais problemas enfrentados pelos pacientes de câncer no Brasil. Daí a importância do tema do 11º Fórum Oncoguia — Fórum Nacional de Políticas de Saúde em Oncologia On-line: Equidade, Empatia e Justiça.

Luciana conta que o tema nasceu quando analisavam a programação do fórum. “Tínhamos uma lista dos principais problemas enfrentados pelos pacientes e dos temas discutidos pela oncologia moderna. Saltaram aos olhos a importância de falarmos das desigualdades, da necessidade de um cuidado mais empático e de políticas que valorizem o paciente, sua história, seus valores.”

Jarbas Barbosa, subdiretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), afirma que “o câncer é a doença das diferenças”. Diferenças não apenas biológicas (de localização, tipos de células, origens moleculares, genéticas e epigenéticas e respostas aos tratamentos), mas sociais.

“A incidência e a mortalidade dos cânceres refletem a situação social, econômica e de acesso. Daí a importância de identificar as barreiras e os grupos mais vulneráveis, implementar estratégias adequadas e integrar a prevenção e as ações de diagnóstico precoce na Atenção Primária à Saúde”

Jarbas Barbosa, subdiretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS)

Esse cenário oncológico, que já era complicado, piorou durante a pandemia. “Não dá para enfrentar uma situação dessas sem eficiência prévia. A crise sanitária mostra a fraqueza e a ineficiência do sistema de saúde”, disse o ex-ministro da Saúde Nelson Teich. “A eficiência é um processo ativo, que tem que ser conquistado.”

Teich citou sete pontos fundamentais para atingir a eficiência em saúde: estratégia, planejamento, liderança, coordenação, capacidade de execução, boa comunicação e boa qualidade de informação.

AVANÇOS NA ONCOLOGIA

O fórum destacou também os tratamentos de ponta para o câncer e a necessidade de incorporação de novas tecnologias em saúde.​

A oncologia passou por uma verdadeira revolução nas últimas décadas. A ciência mostrou que não se trata de uma doença única, mas de várias, complexas e com muitas facetas, que requerem cuidado especializado e personalizado.

“Sabemos que os cânceres têm nome, sobrenome e apelido, daí a importância da medicina personalizada. Não basta o diagnóstico patológico: precisamos do diagnóstico molecular para saber qual o detalhe do tipo de câncer. E isso é um divisor de águas importantíssimo na vida do paciente: é o que vai definir o melhor tratamento”

Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia

Hoje, os especialistas falam cada vez mais em cura para alguns tipos de câncer e na possibilidade de transformar o câncer em uma doença crônica, em que o paciente vive mais e com qualidade. Mas quais as chances de isso ser uma realidade no Brasil? Essa e outras discussões deram a tônica do evento.

“O fórum é um evento público e gratuito, uma forma que o Oncoguia criou para dar visibilidade e discutir, com especialistas e com a sociedade, os principais problemas enfrentados pelos pacientes com câncer. E buscar, em conjunto, soluções sustentáveis” , afirma Luciana. Acesse em oncoguiaeventos.org.br

Segundo ela, as pessoas ainda têm uma visão muito estigmatizada do câncer. “Elas pensam na doença como algo distante, que não vai acontecer. Mas a estimativa é que os casos aumentem muito e que a doença se aproxime ainda mais de todos nós. E, quanto mais preparados, melhor a enfrentaremos. O acesso à informação de qualidade é uma ferramenta importante diante de um diagnóstico de câncer”, conclui.

SOBRE O ONCOGUIA

O Oncoguia apoia, ouve e acolhe individualmente os pacientes com câncer e seus familiares. A ONG reúne as histórias dessas pessoas (suas necessidades, dificuldades e desafios) para entender melhor os problemas dos sistemas de saúde público e privado e, dessa forma, organizar e liderar iniciativas que representem a voz dos pacientes e defendam seus direitos, focando e buscando melhorias para as políticas públicas de oncologia.