Lenço na cabeça, laço cor de rosa, acima dos 50 anos: quantos estereótipos vêm à cabeça ao pensar em câncer de mama avançado? Essa não é mais a realidade atual, e o perfil de pacientes da doença vem mudando no decorrer dos anos. Dados demonstram que mais de 40%1 dos casos atingem mulheres jovens, ainda em fase pré-menopausa, com tendência de que essa curva se acentue nos próximos anos. Cada vez mais o diagnóstico acomete pessoas economicamente ativas, ou seja, que estão tomando importantes decisões de carreira, em fase de planejamento familiar e com intenção de ter filhos, buscando equilíbrio entre mercado de trabalho, vida social e família, além de terem sonhos e projetos para o futuro.
Pesquisas já apontam que o câncer de mama tende a ser mais agressivo ao atingir mulheres com menos de 50 anos1. Além disso, ao procurar o sistema público de saúde, atualmente cerca de 35%1 das pacientes foram diagnosticadas já em estágio avançado. Em contrapartida, para as que contam com plano de saúde, o número cai para 14%1.
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Muito além de tratamento, o diagnóstico de câncer de mama vira a vida dessas mulheres de cabeça para baixo. A rotina delas pode passar a funcionar em torno de clínicas e centros de saúde, ocorrer o afastamento do mercado de trabalho, sem contar o impacto na saúde mental.
Historicamente, mulheres são o grupo mais impactado pelo desemprego. Um estudo assinado pela oncologista e pesquisadora brasileira Luciana Landeiro revelou que, após o diagnóstico, mesmo com a doença em remissão, as oportunidades no mercado de trabalho diminuem.
A pesquisa mostra que, antes do câncer de mama, 81%2 das pacientes tinham emprego em tempo integral, e cerca de 60%2 eram responsáveis pela renda familiar. 30%2 relataram ter recebido apoio ou ajuste em suas funções, condição importante para lidar com os efeitos adversos do tratamento. Seis meses após o diagnóstico, a taxa de retorno ao trabalho foi de 21%2.
“Já fiz diferentes tipos de tratamento e sei o impacto disso na nossa autopercepção. Quando é necessário ir constantemente ao hospital, nos vemos como enfermos, a vida gira em torno da unidade de saúde”, afirma a paciente Bruna Brüner, 33 anos. “Claro que cada caso é um caso e muitas vezes isso é o protocolo mais adequado, mas não podemos esquecer o apoio que essas mulheres precisam receber.”.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os índices de depressão em mulheres com diagnóstico de câncer de mama saltaram de 7% para 25%3, o que também impacta o tratamento da doença, uma vez que a saúde mental da paciente está também conectada com a adesão a ele.
“Desde o início do nosso trabalho, não é incomum encontrar relatos de preocupação exacerbada, tristeza acentuada e insistente, crises de ansiedade, falta de ânimo, dentre outros sintomas”, afirma Antônio Carlos Buzaid, oncologista do Instituto Vencer o Câncer. “Quando pensamos em mulher, na nossa sociedade, existe já uma série de questões que tocam a autoestima delas e que aumentam após o diagnóstico. O trato psico-oncológico é fundamental nesse momento, sobretudo quando pensamos na forma avançada da doença”, complementa.
O câncer de mama é considerado atualmente o mais comum do mundo, tendo superado o de pulmão em 20214. A cada hora, sete5 pacientes novos são diagnosticados no Brasil, e é o que mais mata6 mulheres no país. De acordo com o Inca, são esperados cerca de 66 mil5 novos casos até 2022.
“O cenário é preocupante. Com o pós-pandemia, ficamos preocupados de ter uma onda de diagnósticos em fase avançada. Contudo, hoje já existem terapias eficazes que garantem uma crescente qualidade de vida às pacientes, o que também tem um impacto positivo na saúde mental”, afirma Buzaid. “Com o tratamento apropriado, hoje já podemos falar de uma paciente que consegue levar uma vida considerada normal, com carreira, estudos, família e o que mais ela desejar”, completa.
REFERÊNCIAS: