Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, todos os anos, entre 5% e 10% da população mundial adulta é acometida pela gripe. No caso das crianças, esse percentual varia entre 20% e 30%1. O vírus influenza, causador da gripe, é altamente contagioso e, por se disseminar rapidamente, é praticamente impossível evitar o contágio 2.
Na maioria das vezes, pessoas saudáveis sentem alguns dos sintomas mais comuns - como tosse, febre, mal-estar e dor de cabeça – pelo período de sete dias. Mas há casos em que a doença, principalmente em pacientes com condições de risco ou comorbidade (cardiopatas, diabéticos, por exemplo), pode evoluir para casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), pneumonia ou agravamento de doenças crônicas, como a diabetes e hipertensão 3.
Apesar de as pessoas subestimarem, a gripe pode matar", afirma Melissa Palmieri, médica especialista em Vigilância em Saúde pelo Ministério da Saúde e diretora regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Ela alerta para a importância de as pessoas, de todas as idades, se vacinarem contra o vírus. “Já está muito bem estabelecido o benefício da vacina contra a gripe para todas as pessoas acima de seis meses de vida, sem limite de idade”, diz.
O pediatra e infectologista Daniel Jarovsky, secretário do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo, concorda. “Há um entendimento de que a vacina contra a gripe seja para idosos, mas isso é um conceito incompleto. Claro que o idoso tem o maior ônus da doença e faz todo o sentido o esforço para vaciná-lo. Mas as crianças podem ser alvo de doença grave, sim. É o segundo grupo etário mais acometido, após os idosos", afirma.
Jarovsky explica que as crianças são as principais transmissoras da doença. "Elas transmitem o vírus, em média, por 10 a 14 dias, enquanto os adultos, por cinco a sete dias. A vacinação das crianças não é só uma proteção para elas, mas proporciona também uma proteção indireta, ou seja, ao vaciná-las, beneficiamos toda a população", completa. Ele lembra ainda que, diferentemente de outras doenças, a vacinação contra a gripe deve ser feita anualmente, já que a composição da vacina é produzida de acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), com base nas cepas circulantes naquele ano.
O especialista também lembra que o vírus influenza pode agravar doenças preexistentes. A gripe funciona como gatilho para várias doenças, podendo causar um efeito dominó.
"O impacto no curso de doenças não respiratórias, muitas vezes, é negligenciado, mas o vírus da gripe é um dos mais importantes para desencadear infarto em pessoas propensas a isso. Ele descompensa também problemas pulmonares, como asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), além de doenças endocrinológicas e neurológicas", destaca.
Pesquisa da University of New South Wales, na Austrália, e da Arizona State University, nos EUA, mostrou que a vacina contra a gripe também é eficaz na prevenção de infarto e comparou a imunização feita pela vacina à interrupção do tabagismo e ao uso de medicamentos anti-hipertensivos e de estatinas, que controlam o colesterol 4.
Saúde pública
"O que as pessoas precisam entender é que, via de regra, em torno de 85% das vezes as doenças respiratórias têm poucos sintomas, uma dor de cabeça ou um mal-estar de poucos dias. Muita gente acredita que não pega gripe e, na verdade, pega, não sabe, e fica transmitindo", afirma Jarovsky.
A imunização, além de impedir que as doenças infecciosas se disseminem entre os círculos de pessoas próximas, também é essencial na diminuição da procura por atendimento médico, que neste momento é crítico tendo em conta a situação da pandemia provocada pela Covid-19.
1 - Organização Mundial da Saúde https://www.who.int/biologicals/vaccines/influenza/en/
2 - Campanha contra a gripehttps://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vacinagripe2017/o-que-e.html
4 - https://heart.bmj.com/content/heartjnl/102/24/1953.full.pdf
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/setembro/05/BE-21-influenza-04set19.pdf
MAT-BR-2100302