Hábitos do adolescente e baixa cobertura vacinal aumentam risco de meningite

Adolescentes são os principais transmissores da doença; Ministério da Saúde disponibiliza a vacina ACWY para os que têm entre 11 e 12 anos

No combate à doença meningocócica, uma das enfermidades imunopreveníveis mais temidas do mundo, o Ministério da Saúde incorporou, em junho do ano passado, a vacina MenACWY para ser distribuída aos adolescentes de 11 e 12 anos no Programa Nacional de Imunização1.

A medida segue uma tendência adotada em outros países, como o Reino Unido, já que pesquisas comprovam que o adolescente é o principal transmissor da bactéria que causa a doença3, a qual pode levar a óbito em aproximadamente 15% dos casos tratados e em 50% dos casos não tratados2.

Cerca de 20% dos jovens podem ser portadores temporários da bactéria e, mesmo que não adoeçam, podem transmitir para outras pessoas pela saliva, compartilhamento de copos, talheres, canudos, beijos e tosse3,4.

A vacina combate os quatro sorogrupos mais comuns da doença: A,C,W e Y5. Dados preliminares do Ministério da Saúde mostram que, em 2020, ano da incorporação da vacina ACWY no PNI, o percentual dos adolescentes de 11 e 12 anos que foram vacinados foi muito abaixo do esperado. Os dados ainda estão sendo atualizados e podem ser maiores, mas apontam uma dificuldade em cumprir a meta do próprio Ministério da Saúde, de imunizar ao menos 80% do público-alvo.7,8

“O adolescente tem comportamentos que, naturalmente, aumentam os riscos de transmissão da meningite. Entre eles a constante convivência em grupo – a aglomeração, o hábito de compartilhar o mesmo canudinho ou o mesmo copo. Esses hábitos facilitam a transmissão de algumas doenças, como a meningite, a gripe e a mononucleose infecciosa, conhecida como a doença do beijo, entre outras”, diz a médica pediatra especialista em adolescentes, Márcia Faria Rodrigues.

A especialista acredita que, para melhorar o índice da imunização contra a meningite entre adolescentes, é necessário melhorar a vacinação em geral nessa faixa etária, que está abaixo da meta contra várias doenças. É o caso, por exemplo, da vacina quadrivalente contra o papilomavírus humano (HPV). Em 2020, a primeira dose da vacina HPV, cuja meta é de 80%, foi aplicada em cerca de 70% das meninas de 9 a 15 anos e em pouco mais de 40% dos meninos de 11 a 14 anos. Na segunda dose, os índices foram de aproximadamente 40% e 30%6.

Rodrigues afirma que o ideal seria conciliar a vacinação: ao se imunizar contra o HPV, o adolescente já poderia também tomar a vacina contra a meningite. “O ideal seria fazer uma busca ativa e ir onde o adolescente está. Porque ele, em geral, não vai ao médico. Há um estudo feito no Paraná que mostra que, a partir dos 8 anos, esse público fica até mais de dois anos sem ir ao médico”.

Além do médico, a escola, ressalta a médica, também tem um importante papel no combate a doença. Além de esclarecer sobre prevenção, a escola pode alertar os pais sobre as vacinas que estão em falta “É preciso que tenha alguém especializado na escola com a função de verificar, anualmente, se falta alguma vacina ao estudante”, sugere.

Com a retomada das aulas regulares por conta do avanço da vacinação contra a Covid-19, é preciso priorizar a imunização contra a meningite, diz a médica, já que o convívio social entre os adolescentes aumentará e os riscos de contágio também.

Pessoas de todas as faixas etárias são suscetíveis à doença meningocócica, lembra a especialista, e a vacinação em larga escala na adolescência é a melhor forma de garantir a imunidade coletiva.

A meningite é uma inflamação das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal. Em poucas horas pode haver o agravamento da meningite e também outras complicações como a meningococcemia, infecção generalizada, e levar a óbito em menos de 24 horas.4

Uma a cada cinco pessoas com a doença meningocócica morre, mesmo sendo tratada adequadamente e em tempo hábil. Cerca de 20% dos que sobrevivem ficam com sequelas graves, que vão de complicações neurológicas, surdez, cegueira até a amputação de membros5.

Referências

1- Calendário Nacional de Vacinação - https://bit.ly/3pywNNr

2- WHO. Meningococcal meningitis. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/meningococcal-meningitis.

3- Christensen H, May M, Bowen L, Hickman M, Trotter CL. Meningococcal carriage by age: a systematic review and meta-analysis. Lancet Infect Dis. 2010;10(12):853-61.

4- World Health Organization (WHO). Meningococcal meningitis. In: Transmission. [Internet] Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/meningitis/en/

5- https://familia.sbim.org.br/vacinas/perguntas-e-respostas/meningite

6- https://sbim.org.br/noticias/1359-coberturas-vacinais-no-brasil-sao-baixas-e-heterogeneas-mostram-informacoes-do-pni

7- SIPNI. Disponível em: http://sipni.datasus.gov.br/si-pni-web/faces/relatorio/consolidado/dosesAplicadas-Mensal.jsf Dados extraídos em: 18/02/2021.

8- Estimativa da população de 11 e 12 anos de idade, para a vacinação com a vacina meningocócica ACWY (conjugada). Disponível em: http://vigilancia.saude.mg.gov.br/index.php/download/informe-tecnico-orientacoes-tecnico-operacionais-para-a-vacinacao-dos-adolescentes-com-a-vacina-meningococica-acwy-conjugada/?wpdmdl=7604

MAT-BR-2103742 – Junho, 2021