Baixa procura por vacinas contra diversas doenças acende alerta entre médicos

Para assegurar a saúde de todos, imunização deve atingir as metas definidas

As vacinas proporcionaram o controle de epidemias e a erradicação de doença e são consideradas grandes vitórias da medicina e da ciência1. "Foi através de extensos programas de vacinação que erradicamos do planeta a varíola, eliminamos de vários continentes a pólio, controlamos o sarampo, a difteria, a coqueluche e o tétano", afirma o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Celebrado em 9 de junho, o Dia Nacional da Imunização tem por objetivo conscientizar as pessoas sobre a importância das vacinas para o bem de toda a coletividade. E, neste ano, com o avanço da Covid-19 e a queda na cobertura vacinal contra inúmeras doenças, ressaltar a importância da imunização é ainda mais urgente.

Isso porque o próprio sucesso das vacinas, afirma Kfouri, pode levar a perda da percepção do quanto elas são necessárias em termos de saúde individual e coletiva. "A lista de doenças controladas ou erradicadas é enorme. Não vemos mais essas doenças acontecendo, e esse é o pano de fundo atrás do medo de se vacinar e das 'fake news'. Esse é um desafio que a vacinação enfrenta: continuar vacinando mesmo sem casos das doenças", diz.

Considerada a mais séria de todas as doenças infecciosas2, a varíola matava de 25% a 30% das pessoas infectadas e, para combatê-la, foi desenvolvida a primeira vacina da história, em 17963. No entanto, na década de 1960, a varíola ainda era responsável por 3 milhões de mortes anuais no mundo. No Brasil, a imunização começou em 1804, mas a doença só foi erradicada em 1971, após uma campanha massiva realizada a partir de 19662.

Os dois séculos entre a invenção da vacina e a erradicação da varíola têm relação direta com o aumento da cobertura vacinal. Segundo Kfouri, quanto mais indivíduos vacinados, mais difícil fica para um vírus ou uma bactéria continuar circulando. É isso que faz com que as doenças acabem sendo controladas e até mesmo erradicadas.

Não é de hoje que a cobertura vacinal no país desenha uma preocupante curva descendente4. "Obviamente a população não compreendeu que a vacinação é um serviço essencial e não é para ser deixada de lado", alerta Kfouri.

Dados doSistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações da base DataSus4, do Ministério da Saúde, apontam queda acentuada na vacinação indicada para combater a Hepatite B, Outro dado que chama a atenção é a taxa de abandono, quando a pessoa não toma todas as doses necessárias previstas no calendário nacional de vacinação1.

"Há queda de procura por vacina nos postos de saúde e nas clínicas privadas. Da mesma forma que, quando se imuniza bastante gente, a doença desaparece, porque já não tem mais quem a transmita, quando você tem muita gente desprotegida, o cenário é inverso. Quanto mais pessoas suscetíveis, maior a chance de disseminação”, diz Kfouri.

Marco Aurélio Sáfadi, diretor do Departamento de Pediatria da Santa Casa de São Paulo, concorda: "Temos que ter nossa população com a proteção lá em cima. No caso da pólio, por exemplo, como é um vírus que não foi totalmente erradicado, ou seja, ainda há casos no mundo, se a nossa cobertura cai, corremos o risco de alguém ingressar no país com o vírus, ele novamente passar a circular e acometer nossa população".

Sáfadi alerta ainda para a reabertura das escolas ocorrendo em meio à baixa adesão ao calendário de vacinação. "Difteria, coqueluche, sarampo, meningite e paralisia infantil são doenças muito dramáticas para as nossas crianças."

Os especialistas reforçam que é preciso manter o calendário de vacinação atualizado mesmo durante a pandemia de Covid-19. Com o uso de máscaras, distanciamento social e cuidados com a higiene, a vacinação é segura e essencial para a saúde de todos5.

Referências:

1- Interfarma. Como as vacinas mudaram um país. Disponível em: https://www.interfarma.org.br/public/files/biblioteca/como-as-vacinas-mudaram-um-pais-interfarma.pdf.

2- Guia de Vigilância Epidemiológica

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/funasa/guia_vig_epi_vol_ll.pdf

3- Fiocruz. Artigo Conheça a História das Vacinas.

https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1738-conheca-a-historia-das-vacinas

4- Sistema Nacional de Imunização da base DataSus

http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/webtabx.exe?bd_pni/cpnibr.def

5- Cartilha SBIM/SBP/Unicef. Pandemia da COVID-19. O que muda na rotina das Imunizações. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/cartilha-campanha-sbim-sbp-unicef-200611a-web.pdf.

MAT-BR-2103097