Vacinar adolescentes contra a meningite gera imunidade coletiva

Aumentar a cobertura vacinal nessa faixa etária evita a disseminação da bactéria responsável pela doença meningocócica1

Pessoas de todas as idades são suscetíveis à doença meningocócica, enfermidade que atinge entre 1.500 a 3.000 brasileiros todos os anos. Crianças menores de cinco anos são as mais afetadas, mas são os adolescentes os principais transmissores da bactéria Neisseria Meningitidis, causadora da doença meningocócica2.

Por isso, vacinar os adolescentes é fundamental para criar uma espécie de barreira que evita a disseminação da bactéria responsável pela doença. No ano passado, o Ministério da Saúde incorporou a vacina meningocócica ACWY, que é mais abrangente por proteger contra quatro sorogrupos de meningococos responsáveis pela doença meningocócica, no Programa Nacional de Imunizações (PNI)3.

Presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), o pediatra Eitan Berezin afirma que vacinar os adolescentes é fundamental para gerar a chamada proteção de grupo ou imunização de rebanho - efeito obtido quando algumas pessoas são indiretamente protegidas pela vacinação de outras, o que acaba beneficiando a saúde de toda a comunidade4.

“Existe uma taxa maior de colonização de nasofaringe por meningococo nesta idade, o que facilita a disseminação. A imunização diminui a colonização assintomática de nasofaringe promovendo, com isso, a proteção”, afirma.

O médico explica que os hábitos dos adolescentes favorecem o contágio. “Eles interagem mais, saem mais, aumentando a possibilidade de disseminar a doença. “Tanto é que, nos Estados Unidos, o calendário de vacinação só prevê imunizar os adolescentes contra a doença meningocócica”, ressalta.

O pediatra e infectologista Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da SPSP, reforça a necessidade de ampliar a cobertura vacinal nessa faixa etária. “Se nós atingirmos a meta estipulada de vacinar, pelo menos, 80% dos adolescentes, isso, com certeza, vai provocar uma redução muito drástica na disseminação da doença meningocócica. Um dos grandes problemas que nós temos é a cobertura da vacinação no grupo de adolescentes. Os índices nessa faixa etária já eram ruins, com a pandemia da Covid-19, a tendência é de piora”, alerta Otsuka.

A meta do Ministério da Saúde está longe de ser alcançada. Os dados de 2020 ainda não foram consolidados, mas a cobertura acumulada da meningocócica C, entre 2017 e 2019, foi de apenas 41% nos adolescentes de 11 a 14 anos5.

Otsuka lembra que o Reino Unido obteve uma queda expressiva nos casos da doença quando passou a vacinar os adolescentes. “A redução foi fantástica tanto na incidência em crianças abaixo de dois anos como também nos idosos”, afirma.

As vacinas, lembra o médico, são seguras e eficazes. Mas, no caso da doença meningocócica, a proteção gerada por elas não é para toda a vida e, por isso, a dose de reforço é importante para proteger o adolescente e toda a comunidade. “A partir do momento em que vacinamos o adolescente, reduzimos a colonização da bactéria na garganta. Sem ou com menos bactérias, ele não consegue transmitir para outras pessoas. Dessa forma conseguimos uma proteção em grupo, o que a gente chama de proteção em rebanho”, diz.

Otsuka alerta que a grande dificuldade para atingir essa cobertura vacinal é que o adolescente se sente invencível. “Uma das melhores estratégias seria levar a vacina até o adolescente, nas escolas”, diz. A meningite, alerta o médico, é uma doença extremamente grave, que pode levar a óbito em 24 horas ou deixar sequelas graves.

Para Eitan Berezin, que presenciou a epidemia de meningite dos anos 70, é importante conscientizar a população para a necessidade da vacinação de crianças e adolescentes. “Na época, eu trabalhava no Hospital Emílio Ribas, e uma grande parcela do hospital era dedicada a atender pacientes com a doença. Graças à vacinação, a epidemia foi vencida. O outro lado da moeda é que a população tende a achar que a meningite já não é mais uma doença grave”, diz.

Referências

1 - Christensen H et al. Meningococcal carriage by age: a systematic review and meta-analysis. Lancet Infect Dis. 2010 Dec;10(12):853-61.

2- Doença Meningocócica (https://familia.sbim.org.br/doencas/doenca-meningococica-dm)

3- https://www.saude.go.gov.br/files/imunizacao/calendario/Calendario.Nacional.Vacinacao.2020.atualizado.pdf

4 - https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1698-imunidade-de-grupo-protecao-de-todos

5- https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-11/sociedade-de-imunizacoes-lanca-campanha-voltada-adolescentes

MAT-BR-2101156