Escolas fechadas, hospitais de campanha sendo construídos às pressas e competições esportivas suspensas. O cenário, que tem semelhanças com o que vemos hoje em virtude da pandemia da Covid-19, foi vivido pelos brasileiros nos anos 1970 em decorrência da pior epidemia de meningite meningocócica registrada no país. A situação só foi normalizada com a chegada das vacinas2.
A explosão de casos da doença foi provocada pela sobreposição de dois subgrupos de meningite meningocócica: do tipo C, que teve início em abril de 1971, e do tipo A, em maio de 1974. Em setembro de 1974, a proporção era de 200 casos por 100 mil habitantes3. Na época, o Brasil precisou importar 80 milhões de doses do laboratório francês Instituto Pasteur Mérieux que construiu uma nova fábrica de imunizantes na França apenas para atender a demanda brasileira e transferiu a tecnologia de produção do imunizante utilizado na época para um laboratório público brasileiro4.
A partir de então, a produção de vacinas foi se aprimorado no Brasil e no mundo e tem sido o principal instrumento para evitar a transmissão de doenças.
O dia 24 de abril, dia mundial contra a meningite, foi criado justamente para destacar a importância da prevenção5. “Temos tendência a esquecer de algumas doenças, e é preciso ter um dia específico para lembrar e unir a todos, cientistas, pais e toda a população, com o objetivo de divulgar informações e conscientizar sobre o risco da doença”, diz Márcia Faria Rodrigues, pediatra especialista em adolescentes.
A meningite é uma infecção causada por vários agentes, entre eles vírus e bactérias, que vencem as defesas do organismo e atacam as meninges, membranas que envolvem e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central6. A doença pode matar em 24 horas, e, dentre os sobreviventes, pode haver sequelas neurológicas graves e amputações de membros7.
A vacinação é uma das formas de prevenir a doença. “Vacinas contra a meningite são utilizadas há décadas, são todas muito seguras e eficazes”, diz o pediatra e infectologista Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Segundo o médico, as vacinas evoluíram muito ao longo das décadas, mas o que diferencia as conjugadas C, A e especialmente a ACWY das demais é que, além de prevenir a doença, elas impedem que a bactéria colonize o nariz e garganta.
Sáfadi explica que as vacinas conjugadas atingem dois focos fundamentais para a prevenção da doença meningocócica: o primeiro é a imunização de rotina nos bebês, que são o grupo com maior taxa de incidência da doença. O segundo foco é a imunização de rotina em adolescentes, que são os maiores transmissores da doença. No caso dos adolescentes, a vacina protege contra a doença e também evita a colonização da bactéria. “Sem colonização, não existe transmissão”, explica.
Márcia Rodrigues lembra que as vacinas contra a doença meningocócica começaram a ser desenvolvidas em situações emergenciais, como estamos vendo agora em relação à Covid-19. “As vacinas foram evoluindo e hoje temos a conjugada para os tipos A,C,W e Y em uma mesma picada. Ela pode ser aplicada na infância, com excelente resposta e uma eficácia próxima a 100%, com proteção por longo tempo e possibilidade de reforços”, diz.
O que se espera, diz a médica, é que haja anualmente uma mobilização que aumente a cobertura vacinal contra a meningite. “Temos que ter, se possível, todas as crianças e adolescentes vacinados contra todos os tipos de meningite para os quais existem vacinas”.
Referências:
1- CoMO. World Meningitis Day 2021. Disponível em: https://www.comomeningitis.org/world-meningitis-day-2021
4 - http://www.museudavida.fiocruz.br/index.php/noticias/1545-objeto-em-foco-vacina-meningococica
5 - http://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/3177-24-4-dia-mundial-da-meningite-derrotar-a-meningite
6 - https://familia.sbim.org.br/vacinas/perguntas-e-respostas/meningite
7 - World Health Organization (WHO). Meningococcal meningitis. [Internet] Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/meningococcalmeningitis
MAT-BR-2102010