A importância das vacinas no combate às doenças infecciosas pode ser medida por uma comparação contundente. "Vacinação e água potável foram as duas grandes ferramentas, as grandes intervenções, para a melhoria na qualidade de vida das pessoas, reduzindo hospitalização, sequelas e mortes”, afirma o infecto pediatra Marco Aurélio Sáfadi, professor da Santa Casa de São Paulo.
O histórico de dois séculos de vacinas, desde a primeira contra a varíola, impressiona pelo impacto positivo que tiveram na saúde pública. Até ser declarada erradicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1980, a varíola foi responsável pela morte de 300 milhões de pessoas no mundo, isso apenas no século 20, de acordo com a própria OMS.1
A primeira vacina instituída no Brasil foi justamente para conter a varíola, em 1804. Segundo o Ministério da Saúde, os últimos casos da doença foram registrados no país em 1971. Dois anos depois, em 1973, o Brasil deu início ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), considerado uma referência no mundo todo, por buscar "a inclusão social, assistindo todas as pessoas, em todo o país, sem distinção de qualquer natureza." 2
Atualmente, mais de 300 milhões de doses de vacinas, soros e imunoglobulinas são distribuídas ao ano no Brasil. São imunizantes contra várias doenças infecciosas, como meningite, sarampo, poliomielite, febre amarela, gripe, raiva, entre outras.2,3
“O Programa Nacional de Imunização é muito bom. É um dos orgulhos da saúde pública do nosso país. É exemplar se comparado não só ao de países de condição socioeconômicas similares ao nosso, como também ao de nações mais desenvolvidas. Isso não é de agora, obviamente, é uma história de muitos êxitos, de muitas décadas", afirma Sáfadi.
O calendário de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS) engloba todas as faixas etárias: de recém-nascidos a idosos (veja infográfico abaixo). Ao todo são oferecidas gratuitamente 19 vacinas para mais de 20 doenças.3 No Brasil, outras vacinas também são disponibilizadas pela rede privada.
Os médicos alertam que é preciso acabar com o mito de que apenas as crianças devem ser vacinadas. Os adultos também devem manter o calendário de vacinação atualizado. “É sempre importante ter o maior número de pessoas vacinadas para ampliar a proteção de toda a comunidade. Grupos de risco não devem deixar de ser vacinados de forma alguma", alerta a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, a SBIm.
Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi Pasteur, lembra ainda que as pessoas têm de ter a consciência de que, além da proteção individual, a vacinação ajuda a reduzir a circulação de vírus e bactérias, beneficiando a população como um todo.2 “Com isso, protegemos quem não pode se vacinar, como indivíduos que possuem alergias, doenças que impeçam o uso de vacinas ou incompatibilidade etária. Na década de 1970, vivemos momentos tensos com um grande aumento de casos de meningite meningocócica em São Paulo que matou e deixou sequelas em muitos indivíduos. Uma campanha maciça mudou o rumo desta história triste e protegemos milhões de pessoas”, lembra a especialista.
As sociedades médicas demonstram apreensão com a queda na cobertura vacinal no país nos últimos anos e ressaltam a importância da imunização mesmo durante a pandemia de Covid-19. Em parceria com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Imunizações lançaram uma cartilha de boas práticas para a vacinação em época de pandemia.4
"Algumas doenças eram responsáveis por centenas de milhares de mortes e isso não faz muito tempo. Tenho 58 anos e, na minha infância, havia doenças muito graves. Mesmo como médico, cheguei a cuidar de crianças com sarampo, por exemplo, essa doença que, até dois anos atrás, havia sido eliminada e que voltou a aparecer", diz Sáfadi, que também é coordenador do departamento de infectologia do hospital Sabará, em São Paulo.
Um bom exemplo do sucesso das vacinas é a eliminação da poliomielite. Segundo dados epidemiológicos fornecidos pelo Ministério da Saúde, o último caso da doença no Brasil foi registrado em 1989.2,3 A queda da cobertura vacinal da poliomielite, porém, também é motivo de preocupação.
Referências
1. World Health Organization. Smallpox: eradicating an ancient scourge. In: Bugs, drugs and smoke: stories from public health. 2011. Disponível em: https://www.who.int/about/bugs_drugs_smoke_chapter_1_smallpox.pdf Acesso em 09 dez. 2020.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de Imunizações - 30 anos. Brasília, 2003.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Calendário Nacional de Vacinação. 2020. Disponível em:https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z-1/c/calendario-de-vacinacao Acesso em 09 dez. 2020.
4. SBIm, SBP, Unicef. Pandemia da COVID-19 – o que muda na rotina das imunizações. Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/cartilha-campanha-sbim-sbp-unicef-200611b-web.pdf Acesso em 09 dez. 2020.
MAT-BR-2102295