É hora de se vacinar contra a gripe, dizem médicos

Campanha de vacinação segue até 9 de julho, mas especialistas alertam sobre a histórica baixa cobertura vacinal

Rivaldo Gomes/Folhapress

Com a campanha nacional de vacinação contra a gripe em andamento até o dia 9 de julho, médicos de todo o país fazem um alerta sobre a necessidade de conscientizar a população sobre os riscos da doença e da facilidade da transmissão1,2.

Os dados da cobertura vacinal até o momento são preocupantes: desde o início da campanha, em 12 de abril, menos da metade das crianças entre 6 meses e 6 anos de idade foram vacinadas contra o vírus influenza2, causador da gripe. Elas fazem parte do primeiro grupo prioritário, cuja etapa de vacinação já passou. Vale lembrar que, mesmo tendo terminado a etapa, ainda é possível e muito importante vacinar as crianças contra a gripe.

Apenas 41,3% das crianças foram vacinadas até agora, quase a mesma proporção (41,1%) das puérperas (mulheres que deram à luz recentemente), que também fazem parte da primeira etapa. A imunização de outros grupos nesta fase, como gestantes (37,1%), trabalhadores de saúde (27,2%) e povos indígenas (24,3%) também está abaixo da metade2.

Em função da vacinação contra a Covid-19, os maiores de 60 anos foram realocados para a segunda etapa, que teve início em 11 de maio (veja infográfico).

No primeiro grupo, foram elegíveis, entre outros, as crianças entre seis meses e seis anos, grávidas e puérperas. "As gestantes são mais vulneráveis para infecções respiratórias mais exacerbadas", explica a infectologista Rosana Richtmann.

Segundo a médica, a imunização contra a gripe pode ajudar a evitar nascimentos prematuros3. "Estudos mostram que uma das melhores medidas contra a prematuridade é a vacinação contra a gripe. Nos países que conseguem vacinar em maior número a população gestante, há diminuição do risco de trabalho de parto prematuro", afirma.

Ao se vacinar, a grávida estende ao filho o benefício da imunização4. "A gestante consegue passar a proteção para o bebê ainda na barriga, através da placenta. Ou seja, o recém-nascido estará protegido através dos anticorpos maternos."

As crianças também são prioridade na vacinação. Elas podem desenvolver quadros respiratórios graves, além de serem as principais transmissoras da doença1.

"É uma proteção para toda a família, já que as crianças respondem melhor à vacina, porque têm o sistema imunológico mais jovem. Ajuda para a proteção, por exemplo, dos avós, já que nos mais velhos a mesma vacina tem resposta diferente. Do ponto de vista da saúde pública, é fundamental vacinar as crianças", destaca Richtmann.

Ao contrário do que muita gente pensa, a gripe pode se agravar e inclusive levar à morte. "Gripe pode matar. Em especial, quando há mutações nos vírus, que são até frequentes e comuns. Algumas podem causar pandemias, como a mais recente que tivemos em 2009", lembra o médico Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações). Em 2009, morreram 18.449 pessoas no mundo em decorrência da gripe5.

Os médicos alertam que a vacinação contra a gripe é ainda mais fundamental em tempos de Covid-19. "Os sintomas de Covid e gripe são semelhantes, ambos transmitidos por via respiratória e que atacam o sistema respiratório. O diagnóstico fica difícil só pelos sintomas", afirma Cunha.

Além disso, a sobrecarga causada nos hospitais por conta da pandemia torna ainda mais importante se precaver contra a gripe. "Enquanto se tiver uma doença viral respiratória circulando, não vamos saber, em um primeiro momento, se é Covid ou gripe. Isso dificulta e traz uma demora no exato diagnóstico, sobrecarregando ainda mais os hospitais com quadros de gripe. E, há um terceiro problema: a possibilidade de coinfecção, quando alguém pega os dois vírus, o que pode piorar o quadro clínico do paciente", explica Richtmann, que também coordena o Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana.

Além da campanha do Ministério da Saúde, a vacina contra a gripe está disponível na rede particular. "A Sociedade Brasileira de Imunizações estimula todas as pessoas, a partir dos seis meses, a se vacinarem contra a gripe. É muito importante e, por isso, nós recomendamos para toda a população", afirma Cunha.

Referências

1- Ministério da Saúde. Campanha contra a gripe. Disponível em: https://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vacinagripe2017/o-que-e.html.

2- Folha de S. Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/05/grupo-prioritario-so-41-das-criancas-tomaram-vacina-da-gripe-ao-fim-da-primeira-etapa-da-campanha.shtml.

3- New CDC Observational Study: The Effect of Influenza Vaccination on Birth Outcomes. Disponível em https://www.cdc.gov/flu/spotlights/2015-2016/observational-study.htm#:~:text=A%20new%20observational%20study%20from,1%20in%205%20preterm%20births.

4- Vaccine Safety and Pregnancy. Disponível em https://www.cdc.gov/flu/highrisk/qa_vacpregnant.htm

5- H1N1: fatos e fakes Disponível em https://www.medicina.ufmg.br/h1n1-fatos-e-fakes/

MAT-BR-2102998 | Maio, 2021