Os números de violência contra a mulher não param de crescer no Brasil. Casos recentes de bullying em grupos de WhatsApp de alunos e o burburinho em torno de séries como "Adolescência", da Netflix, chamam a atenção para como o machismo e a misoginia atingem os jovens.
Diante de um cenário que preocupa, o Sesi-SP decidiu usar a educação para ajudar a promover mudanças. Inspirada em uma iniciativa criada por alunas e docentes de uma de suas escolas, a instituição lançou um projeto pioneiro que busca combater a discriminação contra as mulheres e promover a igualdade de gênero.
O programa Juventudes AntiMisoginia nasce de uma análise profunda dos dados de violência contra a mulher no paÃs e da importância de iniciativas que convidem os jovens –meninas e meninos– a refletir sobre o tema e ajudar nessa transformação.
Lançado em 11 de março, o projeto vai proporcionar espaços para trocas de conhecimento, discussões, acolhimento e formação cidadã.
O objetivo é, a partir da escola, engajar e gerar impacto em toda a comunidade em prol de uma mudança cultural, chamando a atenção para os perigos do preconceito, da misoginia e da violência contra a mulher.
"O problema da violência contra a mulher existe, e as estatÃsticas são chocantes. A solução passa pela educação, pelo reconhecimento e pelo engajamento de todos. Com esse programa, o SESI dá um passo fundamental na construção de um futuro mais igualitário", afirma o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do Sesi-SP, Josué Gomes da Silva.
Segundo dados da última pesquisa "VisÃvel e InvisÃvel: a vitimização de mulheres no Brasil", realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Datafolha, houve um crescimento em todas as formas de violência contra a mulher no último ano.
O levantamento mostra que 37,5% das brasileiras acima de 16 anos sofreram algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses, um Ãndice recorde (veja infográfico).
Entre as violências sofridas estão ofensas verbais (31,4%), agressão fÃsica (16,9%), stalking (16,1%), ofensas sexuais (10,7%) e divulgação de fotos ou vÃdeos Ãntimos na internet (3,9%).
Outro dado preocupante mostra que 47,4% das mulheres agredidas não procuraram ajuda.
Capacitar e formar
O programa Juventudes AntiMisoginia vai atuar diretamente nas instituições de ensino da rede Sesi-SP. Ele envolve a criação de comitês escolares com a participação ativa de estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
Os grupos não serão restritos a mulheres. Cada núcleo contará com três representantes, sendo duas meninas e um menino, totalizando 3.111 estudantes envolvidos.
Serão oferecidas campanhas educativas, palestras, oficinas e espaços para discussões e trocas de experiências que visam ajudar na desconstrução de estereótipos, na conscientização e no fortalecimento de valores e relações interpessoais.
Com a abertura dessas discussões e o consequente desenvolvimento de formação, protocolos e materiais de apoio, o Sesi-SP irá ajudar a criar formas de suporte para que a luta contra a misoginia se torne parte do cotidiano das escolas.
"O Juventudes AntiMisoginia não fala apenas de empoderamento, mas de capacitação e formação. Aqui, jovens estão aprendendo que não estão sozinhos nessa luta", reforça Marta LÃvia Suplicy, presidente do Conselho Superior Feminino da Fiesp.
Inspiração
O programa Juventudes AntiMisoginia foi inspirado na experiência exitosa do Coletivo Feminista da Escola SESI de Regente Feijó, no interior de São Paulo (leia abaixo).
"Expandir o projeto para todas as escolas não só fortalece o ambiente escolar, mas prepara os estudantes, assim como me preparou, para construir uma sociedade mais justa, igualitária e respeitosa", afirma LetÃcia Vitória Souza, 17, aluna do 2º ano do Ensino Médio do Sesi-SP de Regente Feijó.
Coletivo pioneiro nasceu para acolher alunas
Em 2017, Lúcia Cristina Araújo foi procurada por alunas do SESI de Regente Feijó insatisfeitas com o comportamento de alguns garotos. Eles objetificavam seus corpos, criticavam como se vestiam ou se expressavam, questionavam seus direitos de ocupar certos lugares e faziam piadas machistas.
A professora viu ali uma oportunidade. Com o aval da direção, criou um coletivo para acolher e apoiar as estudantes. Mais: iniciou um processo de compartilhamento de conhecimento, estudo e reflexão com as meninas da escola.
"As ações de acolhimento, estudo e conscientização fortaleceram as meninas não somente do coletivo, mas de toda a escola, e o comportamento dos meninos passou a ser motivo de ações de diálogo e orientação", relembra Lúcia.
O Coletivo Feminista promove rodas de conversa, pesquisas, estudos, formação para o desenvolvimento de atitudes respeitosas e pacÃficas entre meninas e meninos, orientações sobre direitos e deveres previstos na lei, acolhimento e encaminhamentos de casos para gestão escolar, entre outras ações.
O grupo já fez parcerias para atividades com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Mulher de Presidente Prudente, com o Centro de Referência de Assistência Social de Regente Feijó e com o Promotor Público da cidade, além de contar com apoio e orientação de advogadas que pertenciam à comunidade escolar.
As estudantes que integram o coletivo participam de reuniões quinzenais e da tomada de decisões, além de formações para as turmas de 6º e 7º anos do Ensino Fundamental 2.
"Desde o inÃcio, achei extremamente importante a pauta e a luta do grupo. Participar do coletivo me trouxe muito conhecimento, e isso me empoderou de verdade. Entender sobre questões como machismo, violência de gênero e estereótipos me fez olhar o mundo com mais senso crÃtico e reconhecer situações de desigualdade que antes passavam despercebidas", relata LetÃcia Vitória Souza, 17, que entrou em contato com o coletivo no 6º ano e passou a integrar o grupo no 9º.
"Além disso, esse conhecimento me deu mais segurança para me expressar, apoiar outras pessoas e lutar por mudanças", completa.
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha