ESG vira a chave e mostra um novo caminho para os negócios

Sigla que se refere a boas práticas nas áreas ambiental, social e de governança é considerada indispensável para o crescimento das empresas, que não podem mais deixar de lado questões como confiança, credibilidade e reputação

Empresas de todos os setores serão transformadas pela transição para um mundo carbono zero, mas a questão central é: você vai lideRar ou será liderado? A pergunta, nada retórica, faz parte da tradicional carta anual escrita por Larry Fink, presidente do Conselho de Administração e CEO da Black Rock, gestora que administra US$ 10 trilhões em todo o mundo, aos seus clientes.

No texto publicado em janeiro de 2022, Fink não usa meias palavras: "Os próximos mil unicórnios não serão mecanismos de busca ou empresas de mídia social, eles serão inovadores sustentáveis e escaláveis – startups que ajudam o mundo a descarbonizar e tornar a transição energética acessível para todos os consumidores".

O discurso do executivo não tem nada a ver com o fim do capitalismo, mas com uma transformação profunda do mundo corporativo. "Focamos sustentabilidade não porque somos ambientalistas, mas porque somos capitalistas e fiduciários de nossos clientes. Isso requer entender como as empresas estão ajustando seus negócios para as grandes mudanças pelas quais a economia está passando", afirma.

É por isso que os debates sobre o conceito ESG estão acalorados e cada vez mais frequentes. A sigla representa as preocupações ambientais (da letra E de environment, em inglês), sociais (S de Social) e de governança (G de governance) das empresas. Sejam elas pequenas, médias ou grandes. "Na prática, significa que a filosofia do crescimento a qualquer custo, baseado apenas na relação risco e retorno tradicional, não cabe mais. A questão agora é como gerar lucro com propósito. É ter a preocupação com os impactos, positivos e negativos, que seu negócio vai gerar", afirma Dulcejane Vaz, consultora em sustentabilidade.

Apesar de a sigla de três letras ter começado a aparecer com mais ênfase de dois anos para cá, a questão da sustentabilidade nos negócios é antiga. Ela vem ganhando peso desde os anos 1970, época em que o economista Ignacy Sach cunhou o termo ecodesenvolvimento, que abarca a possibilidade de o crescimento econômico estar aliado à preservação ambiental e ao aumento do bem-estar social. "Um discurso que continua muito atual nos dias de hoje", afirma Dulcejane.

Pesquisas recentes revelam que a preocupação ambiental já faz parte do dia a dia de várias corporações. Uma delas, feita pela PwC, mostrou que 45% das empresas do setor de consumo têm compromissos assumidos de carbono zero, ante a média de 31% do setor privado em geral.

O fato de ocorrer uma transformação mais rápida em uma área onde o consumidor tem um papel preponderante não é por acaso. A preocupação ambiental de quem consome como pessoa física também está cada vez mais arraigada.

"Questões como credibilidade, confiança e reputação, apesar de intangíveis, passaram a ser decisivas", afirma Dulcejane. A corporação que não fizer a lição de casa e cuidar desses conceitos estará fora do jogo muito rapidamente, afirma a consultora. Ou, na linguagem do mercado, é como diz Fink na sua carta do início do ano: "Estamos pedindo às empresas que estabeleçam metas de curto, médio e longo prazos para reduções de gases de efeito estufa (GEE). Essas metas e a qualidade dos planos para alcançá-las são fundamentais para os interesses econômicos de longo prazo de seus acionistas".

O ganho para as empresas – e por consequência para os consumidores – que passarem a se sentir parte da solução climática, será certo. A questão, ainda mais em termos do contexto brasileiro, é quão rapidamente os mais variados setores vão conseguir fazer a travessia em direção ao mundo de menos carbono.

Os negócios dependem do planeta e dos seres humanos que neles habitam. "Todos precisam trabalhar para regenerar os sistemas que alimentam a vida. E quando lembramos que dos 200 maiores PIBs do mundo 153 são de empresas, fica clara a importância que elas têm nesse processo", afirma Dulcejane.

RESPEITO E CONFIANÇA

O foco, no entanto, não pode ficar restrito a apenas uma das letras do ESG. Apesar de muitos setores ainda engatinharem na questão social (o S da sigla), o respeito e a implantação de políticas que visam uma maior inclusão e ampliação da diversidade passaram a ser vistos como essenciais no relacionamento das empresas com seus funcionários, colaboradores e clientes. A atuação das organizações no seu entorno, em como impactam de forma positiva as comunidades próximas, também integra a lista de práticas sociais desejáveis.

A questão da governança (o G), principalmente em relação a temas como a corrupção, também passou por transformações, muitas delas motivadas pela pressão de clientes e consumidores. "Trata-se de algo bastante básico. Por exemplo, será que estou cobrando um preço justo pelo meu serviço? Ou, se consigo pagar o meu fornecedor em 30 dias, por que continuo pagando em 90 dias?", explica Dulcejane.

O que ninguém mais duvida é que, ao aplicar para valer os conceitos ESG em seu dia a dia, as corporações, antes de mais nada, estão investindo em sua própria sobrevivência.

Nesse sentido, é possível afirmar que os processos ambientais, como os relacionados à economia circular, têm alto potencial para gerar novos negócios e reduzir custos; que a diversidade melhora a visão de mundo dos grupos de trabalho na empresa; e que a governança, ao andar junto com a transparência, eleva o valor intangível do negócio. Quem não seguir esse caminho estará fora do jogo muito em breve.