O Brasil vive um momento de expansão da frota de veÃculos eletrificados. Ainda que os números sejam tÃmidos em relação à frota movida a combustÃvel (87 mil ante mais de 70 milhões de automóveis, utilitários, SUVs e comerciais leves), o fato é que houve um significativo aumento de 77% na venda de elétricos em 2021 na comparação com 2020. ​
E não apenas no mercado de carros particulares. As empresas, impulsionadas por polÃticas de ESG (sigla que reúne ações ligadas ao ambiente, ao social e à governança), também aderiram a esse movimento. O aumento de 1.100% na venda de caminhões elétricos leves em 2021 em comparação ao ano anterior ratifica a crescente adesão das companhias à eletromobilidade.
Ambev, Heineken, JBS, Americanas, DHL e Mercado Livre são exemplos de empresas que tomaram a rota da logÃstica verde, com a eletrificação da frota de entrega nas grandes cidades, o chamado "last mile", a última etapa logÃstica até chegar ao cliente final.
O maior aumento se dá no "last ​mile" porque esse é o braço da entrega com maior custo e impacto na poluição das cidades.
A Seara, marca que pertence à JBS, foi a primeira empresa do ramo de alimentos refrigerados do Brasil a adotar um caminhão 100% elétrico e com emissão zero de gases poluentes. A Heineken passou a utilizar os elétricos na distribuição de bebidas no ano passado.
A Ambev foi na mesma linha e, atualmente, soma 250 caminhões elétricos rodando em 18 cidades brasileiras. A meta da empresa é ter, até 2025, 50% de caminhões elétricos.
"Trata-se de uma mudança inevitável, não só porque é preciso resfriar o planeta, mas porque o veÃculo elétrico é energeticamente mais eficiente e não emite uma série de poluentes, como o material particulado, muito prejudicial à saúde", explica Carlos Augusto Serra Roma, diretor da TB Green, empresa que oferece soluções de energia limpa e desenvolveu para a Ambev o projeto e a construção das estações de carregamento.
A poluição do ar, cuja maior fonte é veicular, mata 51 mil pessoas no Brasil anualmente, conforme estudo divulgado em 2021 pelo instituto de pesquisas socioambientais World Resources Institute (WRI) Brasil. A eletromobilidade é uma das saÃdas para mudar esse quadro.
Estimativas apontam que os veÃculos comerciais a diesel representam atualmente 10% da frota em circulação em São Paulo, mas respondem por até 50% do volume de emissão de poluentes com maior toxicidade. Para se ter uma ideia dos impactos positivos da eletrificação dos veÃculos, um caminhão elétrico que substitua um a diesel – cujo desempenho é de 1,5 km por litro rodando cerca de 4 mil km por mês – terá melhorado o meio ambiente com o equivalente a um plantio de 971 árvores naquele perÃodo.
"VeÃculos elétricos em ambientes urbanos, principalmente para locomoção de passageiros e transporte de cargas, melhoram a qualidade do ar e são importantes para o meio ambiente", afirma o médico Paulo Saldiva, professor de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Além de ser uma alternativa de baixa emissão de poluentes, os elétricos são mais silenciosos, eficientes e econômicos. Como exemplo, um caminhão 23 toneladas a diesel precisa de R$ 1,78 para rodar um quilômetro, além de R$ 0,90 de manutenção, contra R$ 0,91 e R$ 0,50, respectivamente, de um 23T eletrificado. O comparativo é da Eletra, empresa brasileira de ônibus elétricos e retrofit, associada da Associação Brasileira de VeÃculos Elétricos (ABVE). O retrofit é a conversão de um veÃculo convencional a diesel num veÃculo elétrico.
MERCADO AQUECIDO
A tendência é que a frota de elétricos continue crescendo com o aumento nas vendas de automóveis, utilitários, SUVs e comerciais leves eletrificados, que incluem os hÃbridos (HEV), hÃbridos plug-in (PHEV) e os totalmente elétricos (BEV). Os números sustentam essa expectativa. Somente em março, foram 3.851 emplacamentos, 106% a mais do registrado no mesmo mês no ano passado. No primeiro trimestre deste ano, o crescimento foi de 115% em relação ao mesmo perÃodo de 2021, e a projeção é que a frota salte de 87 mil para 100 mil veÃculos já no fim deste semestre.
É o terceiro ano seguido de crescimento dos elétricos, que configura uma tendência inversa à do mercado total de vendas domésticas de automóveis e comerciais leves, que caÃram 25% na comparação entre os primeiros trimestres de 2022 e 2021.
"A venda de veÃculos elétricos no Brasil vem superando as expectativas, seguindo a tendência mundial. No ano passado, a venda de elétricos e plug-ins mais que dobrou no mundo, o que deve se repetir neste ano. O mundo está redefinindo as suas cadeias produtivas. Neste momento, há várias fábricas de veÃculos elétricos sendo construÃdas ao redor do planeta", afirma o presidente da ABVE, Adalberto Maluf.