Vice-reitora da Universidade de Coimbra fala sobre desafios e oportunidades do estudante brasileiro no mercado global

Uma das mais tradicionais e respeitadas universidades da Europa mantém convênios e parcerias com outras universidades do mundo e funciona como porta de entrada para brasileiros a um mundo globalizado

Atenção às pessoas e às necessidades da sociedade, inovação e adaptação permanente a contextos em mudança são os valores defendidos por Cristina Albuquerque, doutora em Letras pela Universidade de Friburgo (Suíça), pós-doutora em Filosofia Social e Política pela Universidade Paris Descartes Sorbonne Cité e vice-reitora da Universidade de Coimbra.

Ela leciona e pesquisa políticas públicas, ética, direitos humanos e empreendedorismo, com inúmeras publicações e projetos nessas áreas. Com passagens por importantes universidades da Europa e dos Estados Unidos, integra comitês e coordena o Observatório Luso-Brasileiro de Desigualdades e Políticas Públicas da Universidade de Coimbra. Em 2018 foi nomeada Provedora do Estudante da Universidade de Coimbra.

Em visita ao Brasil, a vice-reitora concedeu esta entrevista ao Estúdio Folha.

SÃO PAULO - 09/03/2022 - Cristina Maria Pinto Albuquerque, vice-reitora da Universidade de Coimbra - Assuntos Acadêmicos e Atratividade de Estudantes Pré-Graduados.foto: MASAO GOTO FILHO
Cristina Albuquerque, vice-reitora da Universidade de Coimbra - Masao Goto

Quais as novidades para os estudantes brasileiros que têm interesse em estudar na Universidade de Coimbra?

Uma das características da Universidade de Coimbra, apesar dos seus mais de sete séculos de existência, é a capacidade de aprender e de responder adequadamente aos desafios do presente, ao mesmo tempo que antecipa e inova para o futuro.

No domínio pedagógico e acadêmico, em particular, a UC procura continuamente compreender a mudança nos contextos sociais e laborais e no próprio perfil dos estudantes. Exige-se hoje uma atenção cada vez maior à forma de ensinar e aprender e à componente relacional nas suas diversas dimensões. Os inúmeros processos de acolhimento e acompanhamento na Universidade de Coimbra têm este aspeto em consideração. É o mote para a nossa melhoria contínua. Na Universidade procuramos de fato, cada vez mais, construir um novo paradigma na relação com os estudantes e com a comunidade acadêmica.

Não só para os estudantes brasileiros, mas para toda a comunidade de estudantes, docentes, investigadores e colaboradores - da universidade -, iniciamos neste ano, por exemplo, um conjunto de transformações no atendimento, melhorando a prestação de serviços a estudantes, candidatos e famílias.

Para isso criamos o Student Hub, um espaço que agrega diversos serviços destinados aos estudantes – da gestão acadêmica, relações internacionais, apoios sociais, SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), importante para estudantes internacionais – até serviços de promoção de empregabilidade.

O Student Hub agrega também iniciativas de e para estudantes, nomeadamente cursos de extensão, relação com a comunidade e empresas e promoção de voluntariado. Esse espaço pretende não só melhorar a relação com os estudantes mas, também, promover competências globais.

Em extensão universitária, por exemplo, temos um laboratório de Design Thinking que começará a funcionar no próximo ano. Estamos preparando estágios internacionais que vamos disponibilizar aos estudantes internacionais junto a outros que já existem no contexto português.

Vamos também incrementar os programas de extensão a partir do próximo ano, o que permitirá melhorar o currículo dos estudantes com a validação de outras competências além do diploma do curso.

Estamos desenhando vários projetos específicos para determinados grupos e programas de mentoria estudantil. A ideia é envolver os estudantes brasileiros e de outras nacionalidades, de forma construtiva, nas respostas que a universidade dará às necessidades da comunidade estudantil.

Vamos ter programas de articulação entre as várias comunidades de estudantes internacionais. A Universidade de Coimbra é uma das mais internacionais do país, com mais de cem nacionalidades, e a brasileira é a mais representativa. Queremos promover a relação entre culturas em uma ótica de aprendizagem conjunta e concreta, através de ações e projetos.

Vamos também iniciar um projeto ligado ao mercado de trabalho por meio de um Factory Lab – com todos os equipamentos e tecnologias das novas empresas –, e de uma academia orientada para a relação com as empresas – UC Factory Academies. Ambos vão permitir aos estudantes de engenharia fazerem intercâmbio com empresas, ao término do curso. Eles aprenderão em ambiente real, com possibilidade de enquadramento profissional nessas empresas e continuidade para o mestrado.

Em princípio teremos duas novas graduações ainda em apreciação na instância de Portugal para aprovação de curso superior. Uma na área de espaço e de interpretação de dados de observação da Terra e outra em gestão de cidades inteligentes (Smart Cities). São áreas do futuro que nos parecem muito interessantes também para estudantes internacionais.

Quais os cursos mais procurados pelos estudantes em geral e pelos brasileiros?

Quando abrimos o concurso nacional de acesso para os estudantes em geral – portugueses e equiparados (os da comunidade europeia) –, sempre preenchemos praticamente todas as vagas abertas, que variam de acordo com cada curso. Poucas vagas ficam para uma segunda fase de candidatura.

Todos os cursos da universidade são muito requisitados. Há uma fila de espera maior em alguns casos do que em outros, mas as vagas são preenchidas em sua maioria.

Para os estudantes internacionais – entre os quais a comunidade brasileira é a mais extensa –, temos cursos que têm suscitado maior interesse. Alguns exemplos são Design e Multimídia, Direito, Economia, Estudos Artísticos, Engenharia Biomédica, Engenharia Informática, Eletrotécnica, Gestão, Jornalismo, Relações Internacionais, Arquitetura e Psicologia, entre outros.

Quer nas áreas de Ciências e Tecnologias ou nas de Humanas e Ciências Sociais, os dois grandes grupos de estudos na universidade, todos os cursos são muito procurados.

É importante explicar que os estudantes internacionais não competem pelas vagas com os portugueses - são concursos diferentes. É aberta uma quantidade específica de vagas para estudantes internacionais em cada curso, que são praticamente todas preenchidas.

Temos mais de 3.000 vagas nas oito faculdades para os estudantes nacionais ou equiparados – aqueles que fazem provas nacionais, uma espécie de Enem. O concurso para estudantes internacionais é um concurso especial, com vagas específicas, para o qual os estudantes brasileiros (e de outras nacionalidades) podem se candidatar com provas que a UC aceita, por exemplo, o Enem, ou realizando provas de qualificação na universidade.

Quais têm sido os investimentos da UC para se manter como uma das mais respeitáveis universidades do mundo?

Tudo o que fazemos e tudo aquilo em que investimos tem como mote a atenção à forma como o mundo está mudando; às necessidades das pessoas, em particular dos estudantes, e a promoção de sustentabilidade nos seus diversos níveis (proteção ambiental, promoção da paz e da cultura, combate às desigualdades etc.). É essa atenção que direciona os investimentos em diversos níveis. Acho que por isso Coimbra tem se mantido como uma universidade de primeira linha, sem falar obviamente na qualidade do ensino e da pesquisa produzida, com reconhecimento internacional em diversos rankings. É uma universidade que honra o passado, que se posiciona de forma exigente e inovadora no presente e que reinventa o futuro.

Posso dar como exemplo a nossa plataforma de ensino remoto, que é própria da universidade - nós a desenvolvemos. Ela tem uma versão para professores e outra para estudantes (UC Teacher e UC Student) e aliás ganhou agora o prêmio de primeiro lugar do Best Education Project, do Portugal Digital Awards. Ela traduz bem a soma desses valores: atenção aos estudantes, às necessidades da sociedade em que vivemos e ao modo como podemos inovar pedagogicamente, promovendo novas formas de ensino-aprendizagem e desmaterializando processos. Um passo importante para a sustentabilidade. O UC Teacher e o UC Student nos permitiram fazer frente à pandemia com muita rapidez e eficiência porque a própria universidade tomou em suas mãos a criação de um software e de uma plataforma que nos permitem agregar qualidade de ensino com o fato dos estudantes não poderem se deslocar até a universidade. Mantivemos sempre a universidade aberta e em pleno funcionamento.

Inovando pedagogicamente, promovemos também a pesquisa científica e vice-versa. A Universidade de Coimbra é uma universidade de pesquisa, e esse elemento também a projeta internacionalmente e faz com que seja valorizada em diversos contextos.

A soma de inovação pedagógica, investimento em pesquisa científica e investimento tecnológico e na melhoria da infraestrutura, se orienta pelos grandes valores da universidade, que é a atenção às pessoas e à forma como podem se adaptar aos ambientes de mudanças de forma responsável, informada e consciente.

Qual a avaliação de vocês e dos alunos do curso de Direito Luso-Brasileiro, lançado em 2021? Quais são as novidades do curso para este ano?

Ainda é difícil fazer um balanço global do bacharelado (licenciatura), porque é o segundo ano que está em funcionamento. É necessário distanciamento para avaliar se estamos atingindo ou não os objetivos. Mas acreditamos que sim, que o curso está a corresponder plenamente às expectativas dos estudantes, que se beneficiam do nível excelente de qualidade e de exigência da nossa Faculdade de Direito. Por isso, na visão dos estudantes até aqui, a avaliação tem sido bastante positiva. Mas as melhorias contínuas estão em nosso DNA, e é isso que procuramos sempre fazer.

O curso tem suscitado grande interesse por reunir um conjunto de referenciais do direito positivo português e brasileiro e preparar para os dois sistemas jurídicos. Isso é importante para funções na área jurídica em diversos pontos do mundo, particularmente em Portugal e no Brasil. Como previsto, o curso terá a participação de professores do Brasil a partir do segundo ano.


Há previsão de lançamento de novos cursos específicos para brasileiros?

Não temos nada previsto para já, o que não quer dizer que não exista essa possibilidade no futuro. Se surgir uma proposta que possa adequar-se apenas a estudantes internacionais, podemos ter outro curso com essa configuração e que confira grau de bacharelado, mestrado ou doutorado.

Em termos de cursos que não conferem grau – cursos mais breves, formações curtas –, aí sim poderemos ter em breve alguns direcionados especificamente para internacionais, para formação ao longo da vida, seja para pessoas que já têm o bacharelado e querem fazer uma formação mais curta, mais específica, ou para quem quer fazer uma especialização. Nesse âmbito podemos e estamos a desenhar cursos adaptados a públicos diferentes, e, particularmente, a estudantes e profissionais brasileiros

Maria Cristina Pinto Albuquerque, vice-reitora da Universidade de Coimbra
Cristina Albuquerque, vice-reitora da Universidade de Coimbra - Divulgação

Muitos alunos brasileiros buscam a UC com objetivo de inserção no mercado global. Qual a aceitação do diploma da UC por empresas europeias e norte-americanas?

A aceitação é enorme. Na comunidade europeia, o diploma da Universidade de Coimbra é completamente reconhecido e aceito.

Temos grande aceitação não só na União Europeia mas também em todo o mundo. Posso dar como exemplo algumas empresas europeias e norte americanas onde nossos ex-estudantes estão exercendo funções - Microsoft, Airbus, Continental, Google, BMW, Facebook, Siemens, Amazon, Renault, Embraer, European Space Agency, Phillips, entre muitas outras - o que comprova inequivocamente a credibilidade e nível de reconhecimento do nosso diploma.

Além de ex-estudantes que são professores ou pesquisadores em universidades e centros de pesquisa internacionais, por exemplo americanos e europeus. Essa é outra saída profissional.

Na Microsoft, por exemplo, não temos apenas estudantes ou ex-estudantes trabalhando na área de engenharia e gestão. Temos além disso uma colaboração específica para um curso mais curto, que é o Digital Intelligence for Sustainability e que está disponível para os estudantes da UC, permitindo melhorar e diferenciar o respetivo currículo na área das competências digitais.

E quais são os cursos mais valorizados pelo mercado de trabalho português e europeu?

As engenharias em geral, como Biomédica, Informática, Mecânica e Eletrotécnica, entre outras, são muito bem aceitas. Os estudantes, mesmo antes de terminarem o curso, já têm ofertas de emprego. Isso significa não só que essas áreas são muito atrativas para o mercado de trabalho, como a universidade de Coimbra também. São áreas com um nível de desemprego muito baixo.

Tem ainda Medicina, Farmácia, Psicologia, Humanas, Direito, Economia e Gestão, Ciências Sociais, Esporte entre muitos outros que têm níveis ótimos de empregabilidade em termos relativos. Temos também a área de línguas que é muito importante, com cursos direcionados para vários pontos do mundo, por exemplo a China, que permitem conectar culturas muito diferenciadas e promover as pontes de universalidade e de compreensão que a universidade deve estimular e assegurar.

Como é o processo de bolsas de estudo? Há programas internos? A UC ajuda o estudante a obter bolsas de outras organizações?

Temos um regulamento de bolsas e prêmios destinados a estudantes internacionais, com um conjunto de apoios para os melhores estudantes. São bolsas de mérito para estudantes com uma determinada classificação de excelência ou acima da média.

Temos também uma bolsa de 2.000 euros, destinada a pesquisa, para todos os estudantes internacionais de mestrado, sem qualquer critério de seriação, descontada no valor da anuidade.

Somente ao final das quatro fases de candidatura do concurso de estudante internacional (dezembro a agosto) da universidade é possível fazer a seriação dos candidatos a bolsas de mérito de graduação. Ganham bolsa aqueles que têm melhor classificação. Há uma proporcionalidade de bolsas de acordo com as vagas. Um curso pode ter apenas uma bolsa, mas outros podem ter duas ou mais.

Com 900 pontos do Enem, estudantes que comprovem dificuldades socioeconômicas podem se candidatar à bolsa integral. Há determinados requisitos a serem cumpridos, não basta apenas a nota. A candidatura à bolsa é um processo anual, de acordo com o desempenho do aluno e outros critérios.

Temos casos de alunos que não obtêm bolsa no primeiro ano, mesmo com a nota do Enem, mas que têm desempenho tão excepcional no curso que a partir do segundo ano podem vir a receber.

Simplificando, tudo se resume a mérito. Os melhores alunos e que atendam aos pré-requisitos podem conseguir uma bolsa.

Além das bolsas de mérito, há faculdades que fazem acordos com empresas, e essas dão prêmios aos melhores estudantes. É o caso das Engenharias de Informática e Eletrotécnica, por exemplo. Vários cursos têm essa possibilidade de empresas apoiarem, com valores monetários ou com projetos de pesquisa e outros.

Também as empresas podem propor bolsas. Por exemplo, a empresa unicórnio portuguesa Feedzai, que é uma startup nascida na Universidade de Coimbra, fornece um conjunto de prêmios a estudantes da área de informática, com critérios definidos pela empresa e negociados com o departamento de engenharia informática.

Temos também prêmios de fundações, por exemplo nas faculdades de direito e de letras. Em casos como esses é constituído um júri entre a universidade e a empresa ou fundação. Enfim, há um conjunto de apoios específicos de empresas e fundações que escolhem os critérios para premiação. São prêmios para graduação ou para mestrado ou doutorado.

Também tem as bolsas para mestrado e doutorado que os brasileiros concorrem no Brasil, como o Fies ou CNPq.

Como está a procura pelos cursos de mestrado e doutorado?

Neste ano ainda estamos na fase de candidatura. Há flutuação a cada ano, mas há áreas que se mantêm sempre com grande procura.

No cômputo geral estamos estáveis até porque a maioria dos candidatos internacionais consideram que pode ser mais prestigiado fazer um mestrado ou doutorado em Coimbra do que no Brasil, e mesmo em alguns casos mais vantajoso em termos financeiros.

É muito interessante ter um diploma desses com dimensão europeia. E para fazer o mestrado não é necessário reconhecer o diploma de graduação em Portugal. O estudante faz o mestrado com o diploma brasileiro de bacharelado. Só revalida quem quer permanecer em Portugal ou na Europa e exercer a profissão lá.

Se o estudante faz o mestrado em Coimbra e o revalida no Brasil, o diploma é sempre revalidado no Brasil em uma universidade pública, nunca em uma particular.

E como foi dito, o mestrado já tem associada uma bolsa de estudos automática, de 2 mil euros, para todos os estudantes internacionais, descontada na anuidade. É uma forma de apoiarmos os estudantes em seu desenvolvimento e de promovermos a valorização da pesquisa.

Quais são os desafios e oportunidades para o estudante brasileiro na UC?

O grande desafio pode ser a adaptação a um novo ambiente, a uma nova cidade e a uma nova cultura. Enfim a uma nova linguagem e forma de se posicionar. Afinal, trata-se de atravessar o oceano para viver em outro país que, por mais que tenha proximidade em termos linguísticos, tem também a sua própria cultura.

Há também um conjunto de expectativas associadas a essa mudança que algumas vezes são difíceis de gerir. Há todo um conjunto de aspectos emocionais, ligados à saudade de casa e dos pais. Esse talvez seja o grande desafio.

O estudante brasileiro que vai a Coimbra pode ser considerado excepcional. É um estudante que quer uma visão ampla do mundo, que quer abrir seus horizontes e quer desafios tanto em nível pessoal como intelectual. Ele quer ser desafiado e vivenciar isso. Há sempre a necessidade de olhar as dificuldades como uma aprendizagem.

Já as oportunidades são inúmeras. Desde a possibilidade de conhecer a Europa e o mundo fazendo intercâmbio, pois a universidade tem acordos estabelecidos com grandes universidades europeias e mundiais, até a oportunidade de fazer pesquisas desde o bacharelado até o doutorado e de ter acesso a laboratórios, a pesquisas inovadoras e a relação com pesquisadores reconhecidos internacionalmente.

São oportunidades que quem estiver atento ao que a universidade vai propondo consegue aproveitar. Há todo um conjunto de processos de relação com a comunidade que também estamos incrementando cada vez mais.

Os cursos de extensão, tão valorizados no Brasil e que nas universidades portuguesas não eram, agora estamos promovendo muito mais, e com o tributo dos estudantes e da própria universidade, para o desenvolvimento do território, para a prestação de serviços e para uma aprendizagem que é muito mais abrangente do que a sala de aula. É um conjunto de oportunidades de crescimento a diversos níveis, pessoal, intelectual, acadêmico e até de valores e de perspectiva cultural.

As perspectivas de futuro são completamente diferentes para a pessoa que está em uma universidade que coloca os desafios mencionados e que permite, a partir desses desafios, crescer globalmente. Com as "dores" do crescimento que isso também implica.

Proporciona a possibilidade de ver o mundo com outros olhos. E quem quiser, a partir dessa visão diferente, encontrará caminhos de desenvolvimento. Há inúmeras oportunidades. O estudante tem todas as ferramentas necessárias para um futuro brilhante.

É interessante mencionar que o centro de línguas da Faculdade de Letras é um centro de excelência onde os estudantes conseguem treinar inglês, francês, russo e até, no Instituto Confúcio, aprender o mandarim. Eu noto que os estudantes brasileiros já chegam com o inglês muito bom, mas gostam de começar a aprender uma outra língua, como o alemão, por exemplo.

É interessante nas sessões de acolhimento olhar aquele aluno chegando cheio de expectativas e vê-lo crescer como ser humano e estudante. Quando voltam ao Brasil de férias, muitas vezes, vão aos colégios contar a sua experiência de estudar em Coimbra. O brasileiro tem muito orgulho de estudar em Coimbra e usar a roupa da universidade.

É ainda importante destacar o suplemento ao diploma. É um documento que acompanha o diploma, no qual são descritas as outras possibilidades de desenvolvimento além do curso que o estudante fez. Tem a posição do aluno em comparação com outros estudantes e um referencial do desempenho dele em determinadas matérias. Isso permite que o empregador, em outro país da Europa, perceba que aquele estudante é "A" em determinada área.

No suplemento constam todos os intercâmbios que o estudante fez e as atividades associadas ou adicionais ao curso dele: se foi dirigente de associação, se participou em programas de voluntariado etc. Enfim, se ele se abriu às oportunidades que a universidade proporcionou.

Por exemplo, o estudante de economia que foi buscar disciplinas de um curso de História ou de Filosofia (o que é possível) tem isso descrito no suplemento. Se foi do clube de xadrez, se fez esportes e assim por diante.

Em um mundo globalizado, ter esse histórico no diploma é importante para a empregabilidade. É um retrato do percurso do estudante e uma amostra daquilo que ele pretende para o futuro, bem como suas competências. Mostra quando é uma pessoa que tem aptidão, interesse e está aberta a outras culturas, outras línguas, outras áreas.

É claro que o suplemento será tanto mais rico quanto forem as oportunidades que a universidade proporcionar, e o aluno aproveitar. Temos uma associação acadêmica, que é uma das mais antigas da Europa, com mais de cem anos, que tem dezenas de seções culturais e esportivas para aproveitar.

O aluno pode participar de grupos musicais, orquestras acadêmicas, grupos de fado, rádio e jornal – que é fantástico para estudantes de jornalismo adquirirem experiência nessa área. Tem seções de direitos humanos e praticamente todos os esportes, desde canoagem até o xadrez. Temos estudantes atletas que competiram nos jogos olímpicos em judô, por exemplo.

Coimbra e a universidade têm infraestruturas que facilitam a prática de esportes. Para a canoagem temos um rio que atravessa a cidade, limpo e com água potável, onde se pode fazer remo e outros esportes aquáticos. Temos um selo português atestando Coimbra como universidade promotora do esporte, o que muito nos gratifica.

Que conselhos a senhora daria para o aluno e sua família quando existe receio em morar sozinho em um país estrangeiro?

Aconselho a não ter receio nenhum. Não somos nós que dizemos, são estudos internacionais. De acordo com o Global Peace Index 2021, Portugal ocupa a quarta posição dos países mais seguros do mundo, entre 163. E Coimbra em particular é umas das cidades mais seguras de Portugal, além de ter condições únicas de moradia, mais baratas e mais centrais do que em outras cidades.

Quanto à segurança emocional, quando não há risco de criminalidade e de violência, e se pode circular de forma livre, o fato de não estar continuamente com medo gera um maior equilíbrio emocional.

Não significa que nos esqueçamos da segurança emocional em si. A universidade tem serviços médicos e uma linha de apoio emocional. Além do S.O.S. Estudante, que existe há muito tempo, criamos durante a pandemia, e vamos manter, outra linha de apoio com psicólogos e psiquiatras, que se chama UC Care.

Temos ainda os serviços de Coimbra, que é uma capital referência em saúde. Enfim temos segurança em suas diversas dimensões, quer em criminalidade, segurança material e segurança emocional e de saúde.

Qual o grau de dificuldade que o estudante brasileiro encontra para a acompanhar o currículo de Portugal?

Existem algumas dificuldades que já conseguimos identificar e encontrar respostas. Para quem vai estudar na área de ciências e tecnologias, pelo fato de no Brasil não existirem no ensino médio determinadas matérias que depois são essenciais -- Limites e Derivadas, no caso da Matemática, e Geometria Descritiva, para quem vai para Arquitetura e Engenharia Civil, por exemplo.

Essas matérias em Portugal são ensinadas no ensino médio e no Brasil somente no ensino universitário. Identificamos esses dois aspectos e temos tutoriais e cursos gratuitos para compensar essa dificuldade dos estudantes.

Como os estudantes brasileiros se adaptam à vida na cidade de Coimbra, e de que forma a UC auxilia os novos alunos nesta adaptação?

Temos estudos que mostram a boa adaptação. E temos os estudantes GPS, que já estão na universidade e apoiam os que chegam para ajudá-los a compreender as dinâmicas, principalmente nos casos de estudantes muito jovens.

Esses colegas ajudam a desmistificar a linguagem, a cultura distinta etc. e ajudam na mobilidade. Como o nome diz, é um GPS do calouro que está chegando a um país diferente, com costumes diferentes. Aquele jovem que não sabe ainda em qual disciplina se inscrever, que não sabe que a universidade oferece esse amplo leque de opções e que pode ficar perdido nas oportunidades.

Normalmente o GPS é um estudante da mesma nacionalidade e curso do calouro. Ao mesmo tempo, incentivamos a multiculturalidade -- que o brasileiro não fique apenas com outros brasileiros, mas que se misture, aproveitando as 106 nacionalidades que temos na Universidade de Coimbra.

Se estivesse no Brasil, ele dificilmente teria contato, por exemplo, com estudantes do Afeganistão, da Rússia, da Ucrânia e de muitos outros locais, e lá existe essa oportunidade. Em suma, a Universidade de Coimbra constitui-se como uma porta aberta para o mundo.