Conheça os segredos de La Pampa, o outro lado da Patagônia

Fora do circuito tradicional, região reserva surpresas para quem quer explorar o interior da Argentina; confira sete experiências para uma verdadeira imersão na história e na natureza locais

imagens de cervos no campo

Cervos colorados da Patagônia durante a “brama” Divulgação

Quem pensa em Patagônia argentina, imagina os glaciares da região de Calafate ou os lagos de um azul profundo dos arredores de Bariloche. Bem no centro do país e nem tão distante de Buenos Aires, La Pampa também faz parte da Patagônia, mas tem um jeitão totalmente diferente. São extensas planícies com reservas naturais povoadas por animais selvagens, fazendas históricas, vilarejos peculiares, lugares famosos por suas águas termais e até, quem diria, uma cidade fantasma em ruínas que, ainda que localizada na vizinha província de Buenos Aires, pode muito bem ser visitada a partir de Santa Rosa, a capital de La Pampa.

Ainda que não conte com as paisagens arrebatadoras da Cordilheira dos Andes, La Pampa reúne curiosidades que conquistam o viajante que busca fugir do lugar comum – como é possível conferir no vídeo acima. A seguir, sete experiências que são prova disso:

  • 1. Ver o ritual de acasalamento dos cervos colorados
Cervos colorados da Patagônia
Cervos colorados da Patagônia que podem ser observados na Reserva Parque Luro - Visit Argentina / Divulgação

A 35 km de Santa Rosa, capital da província de La Pampa, a Reserva Parque Luro é uma área de proteção ambiental de 7.600 hectares que incluem o maior bosque do mundo de uma árvore nativa argentina chamada caldén. Os protagonistas do Parque Luro, entretanto, são outros. Trata-se das numerosas manadas de cervos colorados, cerca de 1.500 animais, que habitam essas planícies e que fazem seu show na época da reprodução, entre março e abril.

Os cervos colorados são mamíferos de grande porte, de cor avermelhada (daí seu nome), com altura variando entre 75 cm e 1,5 m e comprimento entre 1,75 m e 2,85 m. Pesando entre 80 kg e 340 kg, o macho possui chifres bem desenvolvidos, com mais de 1 metro de comprimento e bem ramificados. Já a fêmea pode pesar entre 100 kg e 120 kg.

No fim da tarde, começam os altos bramidos ("la brama") de machos que disputam fêmeas e duram até a manhã seguinte. Os turistas caminham entre os bosques para acompanhar de perto a novela da vida selvagem, que inclui brigas, demonstrações de poder e chifradas aqui e ali. Entre os habitantes naturais do local, estão também javalis, pumas e raposas. No parque há também um casarão histórico, o Museo El Castillo, que pode ser visitado. Reservas de caminhadas, refeições e até acomodação dentro do parque podem ser feitas nesse site.

  • 2. Visitar uma colônia menonita
Tal qual os amish nos Estados Unidos, os menonitas vivem em comunidades de forma muito simples
Tal qual os amish nos EUA, os menonitas vivem em comunidades de forma muito simples - Divulgação

Os menonitas são um grupo religioso cristão que surgiu na Europa no século 16. Tal qual os amish nos Estados Unidos, eles vivem em comunidades de forma muito simples, trabalhando na terra e resistindo às novas tecnologias. A 180 km de Santa Rosa e a apenas 35 km do vilarejo de Guatraché, a colônia menonita de La Nueva Esperanza é uma viagem no tempo.

Fundada em 1986 por famílias menonitas que deixaram o México, hoje são 1.800 pessoas vivendo em um terreno de 10 mil hectares. Ali, o transporte oficial é a charrete, e o figurino segue a tradição – homens de jardineira, mulheres de vestidos e lenços na cabeça. No entanto, eles são abertos a visitas. Tours com guias podem ser agendados por aqui.

  • 3. Fazer a rota dos armazéns
Os célebres "almacenes de ramos generales" eram o centro da vida comercial dos vilarejos e também da social
Os célebres "almacenes de ramos generales" eram o centro da vida comercial dos vilarejos e também da social - Divulgação

Numa província rural como la Pampa sempre foi, houve um tempo que os armazéns de secos e molhados – os célebres "almacenes de ramos generales" – eram não somente o centro da vida comercial dos vilarejos como também da social. Anedotas e "causos" tinham como testemunhas as pesadas estantes de madeira dessas instituições centenárias, que vendiam de mantimentos a máquinas agrícolas, passando por móveis e artigos de tabacaria.

O El Almacén del Gallego, em Ataliva Roca, a 17 km do Parque Luro, segue como era em 1905. Assim como a Casa Falabella, que ocupa desde 1925 uma das esquinas do vilarejo de Victorica, a noroeste de Santa Rosa. Em General Acha, o armazém La Moderna manteve a estrutura histórica, mas se atualizou para a loja El Galpon del Eden, de artigos para casa.

  • 4. Ficar de molho nas piscinas termais
As fontes termais são ricas em minerais e jorram a temperaturas de 30ºC, abastecendo o complexo de piscinas, saunas e banheiras de hidromassagem
As fontes termais são ricas em minerais e jorram a temperaturas de 30ºC, abastecendo o complexo de piscinas, saunas e banheiras de hidromassagem - Divulgação

No extremo norte de La Pampa, Bernardo Larroudé é um pequeno povoado centenário que passou a atrair visitantes com o poder de suas águas. Descobertas em 1969, as fontes termais são ricas em minerais e jorram a temperaturas de 30ºC, abastecendo o complexo de piscinas, saunas e banheiras de hidromassagem. Há uma boa estrutura no Complexo Termal, que conta com massagistas e tratamentos que vão do reiki aos banhos de lama. Um bom lugar para recarregar as baterias durante uma road trip por La Pampa.

  • 5. Se hospedar numa típica estancia pampeana
A melhor forma de entrar em contato com o estilo de vida de La Pampa é se hospedar nas tradicionais estancias, propriedades rurais cercadas de natureza
A melhor forma de entrar em contato com o estilo de vida de La Pampa é se hospedar nas tradicionais estancias, propriedades rurais cercadas de natureza - Divulgação

A beleza de La Pampa vai além da imensidão de suas paisagens. Por essas planícies, vale mergulhar na cultura gaucha, entender o simbolismo das roupas típicas, a ligação do homem do campo com seus animais e se deliciar com o asado criollo, técnica em que enormes pedaços de carne de cordeiro ou boi são assados por horas em estacas espetadas no solo em brasa.

A melhor forma de entrar em contato com esse estilo de vida é se hospedar nas tradicionais estancias, propriedades rurais cercadas de natureza. O programa geralmente inclui cavalgadas, caminhadas, safáris fotográficos e comida típica preparada com ingredientes locais. A Estancia Villaverde, a apenas 5 minutos de Santa Rosa, foi a pioneira nessa modalidade de hospedagem. Ali, quem estiver disposto pode realmente se envolver nas atividades da fazenda, ajudando no plantio e na colheita de grãos e até na tosquia de ovelhas. Já o Hotel Rural La Pampeana, ao lado de Bernardo Larroudé, é a versão luxuosa dessa experiência. Integralmente restaurada, a propriedade histórica é comandada pelo chef espanhol Javier Araujo Montes, que também recebe quem não está hospedado no hotel em seu restaurante.

  • 6. Ver arquitetura brutalista em Santa Rosa
Centro Cívico de La Pampa em Santa Rosa, obra de Clorindo Testa, arquiteto ítalo-argentino que se transformou num dos maiores expoentes mundiais do brutalismo
Centro Cívico de La Pampa em Santa Rosa, obra de Clorindo Testa, arquiteto ítalo-argentino que se transformou num dos maiores expoentes mundiais do brutalismo - Divulgação

Santa Rosa é uma das menores capitais argentinas, mas isso não impede que tenha atrações internacionais. Trata-se do conjunto de prédios governamentais da província, obra de Clorindo Testa (1923-2013), arquiteto ítalo-argentino que se transformou em um dos maiores expoentes mundiais do brutalismo (arquitetura que tem como característica o concreto aparente, sem adornos, detalhes ou elementos que possam ter algum significado).

Os prédios do Centro Cívico de La Pampa, erguidos na década de 1950 e cujas linhas lembram Le Corbusier, foram suas primeiras grandes obras. Décadas mais tarde, projetou a ampliação do complexo, finalizado, enfim, com a Bíblioteca do Legislativo da província, de 2004. Muitas dessas plantas e maquetes foram expostas no Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma).

  • 7. Conhecer uma cidade fantasma
Ruínas da cidade fantasma da Villa Epecuén, na Argentina
Ruínas da cidade fantasma da Villa Epecuén, na Argentina - Getty Images/iStockphoto

A 200 km a sudeste de Santa Rosa, vale passar rapidamente pela província vizinha, a de Buenos Aires, para chegar a outra atração curiosíssima: a Villa Epecuén. Localizado às margens da lagoa Epecuén, com águas termais e supersalgadas, o ex-balneário turístico estabelecido em 1920 em torno dos poderes curativos de suas águas foi justamente engolido por sua maior atração.

Em 1985, uma ruptura nos diques provocou uma inundação que cobriu a vila inteira, expulsando seus 1.500 moradores. Eis que 24 anos depois, as águas dessa espécie de Atlântida argentina inexplicavelmente baixaram e, enfim, a população pôde avaliar os estragos. O resultado: uma cidade fantasma em ruínas que de tão insólita voltou a receber turistas.

Confira as condições das estradas no site oficial do governo argentino.

Mais informações em Visit Argentina.