Come-se muito bem na Argentina e isso não é novidade para ninguém. O que talvez o viajante só entenda ao pisar em solo argentino é a variedade de experiências gastronômicas que o país pode proporcionar. Não dá para negar: a primeira imagem que nos vem à cabeça ao pensarmos no país vizinho é o churrasco, ou melhor, a parrilla. Só que a variedade de paisagens, climas e culturas proporciona sabores que vão muito além. Para completar, a cosmopolita e moderna Buenos Aires apresenta o que há de mais inovador em tendências gastronômicas. Não é o caso de esquecer o churrasco, mas sim, abrir o leque para outras experiências tão imperdíveis quanto.
1. Revisitar os clássicos de Buenos Aires
Se há uma grande novidade em relação às clássicas parrillas portenhas nunca será o corte das carnes. E, neste departamento, as estrelas são o bife de chourizo (parte traseira do nosso contrafilé), bife ancho (parte dianteira do contrafilé), ojo de bife (miolo do contrafilé com a gordura central), asado de tira (parte nobre da costela) e o lomo (filé mignon).
Diferentemente do nosso churrasco, na Argentina se consome também carnes mais "exóticas" para nós como os riñones (rins), mollejas (timo) ou a entraña (diafragma). Uma parrillada completa costuma incluir essas carnes. E, para acompanhar, chimichurri, aquele molho à base de ervas, salada mista e as incríveis papas fritas. De entrada, brilham as empanadas e a provoleta, o provolone assado com a casquinha crocante.
Se o que vem à mesa não muda, tampouco há grandes novidades em relação aos lugares clássicos portenhos para degustar essas maravilhas. A queridinha dos brasileiros La Cabrera segue disputadíssima e com um menu de happy hour com 40% de desconto e promocional ao meio dia. Tem que reservar. A Cabaña Las Lilas, em Puerto Madero, continua impecável e com preços acima da média, enquanto a linda Don Julio, em seu charmoso casarão histórico, anda ainda mais badalada desde que ganhou o ranking da 50 Best como o melhor restaurante da América Latina.
Para uma experiência diferente e nova, o Fogón Asado, com dois endereços em Palermo, recebe apenas 25 comensais por noite ao redor de uma parrilla para um menu degustação, harmonizado com vinhos e a preço fixo.
A maior novidade no quesito parrillas portenhas, entretanto, é a conta, ou melhor, la factura. Com o câmbio tão favorável aos brasileiros, o que era caro ficou uma pechincha se compararmos com os preços das boas churrascarias das grandes cidades brasileiras.
2. Explorar as novas tendências da capital
Numa cidade dinâmica e cheia de vida como Buenos Aires, a cada visita não há apenas novos restaurantes e bares para ir mas também novas tendências a serem exploradas. A última moda é sem dúvida os rooftops e skybars que tomaram conta da cidade, possibilitando drinques, petiscos e jantares completos com vistas privilegiadas. Com a chegada do inverno, muitos estão fechados à espera da primavera, mas alguns funcionam o ano todo, recebendo em salões fechados ou áreas externas com aquecedores. Uma nova e bela forma de ver Buenos Aires do alto.
Um bom exemplo é o Trade Sky Bar, eleito um dos melhores rooftops do mundo pela revista britânica Time Out. Localizado nos três últimos andares do icônico edifício Comega, de 1934, no Centro, com direito ao pôr do sol atrás do Obelisco. Também no centro, o diferencial do Olympo Sky Bar é a vista 360 graus da cidade. Já a paisagem que se vê do Crystal Bar, no 32º andar do hotel Alvear Icon, é Puerto Madero e arredores.
Também no solo Buenos Aires está repleta de boas novas. Uma tendência forte são os complexos gastronômicos, com restaurantes variados que compartilham o mesmo espaço. Uma espécie de praça de alimentação descolada e com propostas diferentes. O Mercat Villa Crespo é um dos melhores exemplos, localizado em Villa Crespo, o bairro vizinho de Palermo que tem se destacado na cena gastronômica portenha. O complexo tem mais de 30 quiosques de comidas de rua diferentes, que vão de empanadas típicas da província de Tucumán a sorvetes veganos, passando por Kürtos, um cone de massa doce e recheado, típico da Transilvânia.
Esse conceito chegou até mesmo a uma das mais célebres instituições portenhas. O Campo Argentino de Polo, tradicional estádio do bairro Palermo e conhecido mundialmente como "La Catedral del Polo", ganhou centro gastronômico com dezenas de restaurantes, sorveterias e bares. Programa perfeito para famílias com crianças curtirem o dia ao ar livre, a ideia é que no Bocha Polo se possa provar as especialidades de restaurantes que estão bombando na cidade. As tapas filipinas do ApuNena, as costelinhas do Ribs Al Río e as especialidades armênias do Vika Cocina são alguns dos destaques.
Outro polo gastronômico fica numa ruela de pedestres atrás da estação de trem Palermo C, colado ao Bairro Chinês portenho. Na Passaje Echeverría, a pegada é a comida de rua étnica, orgânica e criativa de pequenos restaurantes e quiosques que servem de bowls de ramen a pizzas de fermentação natural. O público descolado e multicultural não liga de comer em pé na rua ou de se sentar nas muretas das floreiras do chão. Um programa legal especialmente no fim de tarde de sábado ou domingo.
3. Viver uma experiência Farm to Table em uma vinícola em Mendoza
Linhas de parreiras emolduradas pelas montanhas andinas ao longe, dias ensolarados regados a degustações de alguns dos melhores Malbec do mundo e noites frescas de boa mesa. Mendoza, a capital do vinho argentino, tem nada menos que 1.200 vinícolas, sendo 130 delas abertas à visitação e espalhadas por 3 regiões principais: Luján de Cuyo, Maipú e Valle de Uco.
Cada vez mais vinícolas oferecem aos visitantes uma experiência completa de degustar vinhos combinada a almoços e jantares memoráveis com ingredientes cultivados na propriedade e harmonizados com os vinhos produzidos também ali. E, nesse sentido, o restaurante mais esperado de Mendoza acaba de abrir as portas, o Angelica Cocina Maestra, o primeiro restaurante da família que faz vinhos há 120 anos. Fica dentro da icônica propriedade da Catena Zapata de Luján de Cuyo.
Outra novidade também mega exclusiva é a inauguração, no ano passado, do Zonda Cocina de Pasaje, o restaurante rodeado por vinhedos da Bodega Lagarde, em Luján de Cuyo. Ali. A experiência Farm to Table começa no café da manhã, seguido por uma visita à horta e à cozinha, onde o chef termina os pratos juntamente com apenas 24 comensais. O menu é harmonizado com vinhos. A esse seleto clube das experiências ultra exclusivas vem se juntar o La Vida in House, o restaurante do SB Winemaker’s House, em Luján de Cuyo, hotel da enóloga Susana Balbo.
Também num espaço lindo em meio aos vinhedos, o 5 Suelos - Cocina de Finca, da Bodega Durigutti, surpreende com o Menu Historia, uma experiência de 14 pratos harmonizados e que conta a história do vinho argentino.
4. Provar sabores ancestrais no Norte
Os estados do norte da Argentina – Salta, Jujuy e Tucumán – fogem completamente da imagem clássica que temos do país. Da mesma forma que a gastronomia dos estados do Norte argentino trazem sabores e receitas pré-colombianas e incas. Provar essas delícias é saborear a história do país.
Em Salta é obrigatório provar as empanadas. E antes que se diga que essa é uma iguaria argentina de norte a sul, o recheio das tradicionais saltenhas, com carne picada na ponta da faca, batata, cebola, cominho, pimenta, ovos e cebolinha, tem mais sabor quando se prova em loco.
Já o locro é uma especialidade da gastronomia pré-colombiana que pode ser encontrada em todo o nordeste do país. O prato consiste em um ensopado feito à base de milho, abóbora e feijão, tradicional entre o povo Quéchuas, indígenas originários da Cordilheira dos Andes. É cozido em fogo baixo e, dependendo do lugar, leva outros ingredientes como carnes (de vaca ou de porco), linguiça, cebola, batata e pimentão.
Mas talvez não haja nada que mais conecte a Argentina à cozinha latino-americana que os tamales. Essa espécie de pamonha existe, com variações, em todo o território por onde o Império Inca passou. Na Argentina, a massa de milho cozida envolta em palha de milho leva recheios que vão de cozidos de carne até frutas, em versões doces. Cada família tem a sua própria receita, o que faz com que uma viagem gastronômica pelos tamales do norte seja sempre surpreendente.
5. Provar centolhas em Ushuaia
Se o norte da Argentina compartilha a sua gastronomia com outros países andinos e latino-americanos, a centolha, crustáceo que habita as gélidas águas do sul do continente, é uma experiência gastronômica compartilhada entre o sul da Argentina e o Chile. Banhada pelo Mar de Beagle, Ushuaia é o lugar perfeito para provar essa delícia que está entre um caranguejo gigantesco e uma lagosta. No centro de Ushuaia praticamente todos os restaurantes de frutos do mar contam com centolha no menu, assim como outras delícias do fundo do mar, como os mexilhões. Não dá para voltar de lá sem provar.
SERVIÇO GERAL
Melhor época para ir
Não há tempo ruim para comer e beber bem em Buenos Aires. O mês de junho ainda é mais perfeito: com as promoções de baixa temporada, sobra mais dinheiro para gastar em restaurantes.
Mendoza é também destino para o ano inteiro, especialmente primavera e outono, com temperaturas agradáveis e as boas ofertas da baixa estação. Para viajar ao norte, a melhor época é agora: até novembro as temperaturas são amenas durante o dia (em média entre 19 e 26ºC), e as noites bem frescas, podendo chegar a 4ºC em julho.
Já para Ushuaia, depende muito do que se quer. Para curtir a neve e o esqui em Cerro Castor, vá até outubro. Para ver pinguins e fazer passeios de barco pelo Canal Beagle, só a partir de outubro. Mas para comer bem, todas as estações são perfeitas.
Como se preparar
Fazer reserva é imprescindível tanto nas parrillas mais concorridas de Buenos Aires quanto nas experiências gastronômicas em vinícolas de Mendoza. De resto, tudo é muito informal.
Documentação
Para entrar na Argentina, brasileiros devem apenas apresentar uma cédula de identidade válida (RG) ou então o passaporte internacional também válido. O período de permanência no país não deve ultrapassar 3 meses.