Descrição de chapéu América Latina

De carro ou moto, pelo incrível e (ainda) desconhecido norte da Argentina

Passando por Salta, Jujuy, Tucumán, Santiago del Estero, Catamarca e La Rioja, conheça 4 road trips que levam a cenários de outro mundo

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Divulgação

As tortuosas estradas no norte da Argentina atravessam paisagens dramáticas e desérticas, montanhas multicoloridas que despontam ao lado de pitorescos vilarejos, um enorme deserto de sal, florestas de cactos gigantes, preservadas cidades históricas coloniais e sítios arqueológicos que contam a história dos povos pré-colombianos e até pré-históricos. Tudo isso regado a alguns dos melhores vinhos do mundo.

Todo esse diverso cenário está acessível aos brasileiros por um voo direto, que liga o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, a Salta, com a possibilidade de parar em San Miguel de Tucumán. Uma vez lá, a melhor forma de percorrer essas belezas é de carro ou de moto. Conheça as road trips mais incríveis por uma Argentina que vai além das imagens clássicas do país. Difícil vai ser escolher qual delas fazer primeiro.

1. A Rota do Vinho em Salta

Cachi é uma vila histórica colonial bem no meio do Vale do Calchaquíes - Divulgação

Essa road trip perfeita para ser feita em uma semana começa em Salta, capital da província de mesmo nome e onde se chega com voo direto que parte de São Paulo. É uma rota circular que passa pela colonial Cachi e por Cafayate, que concentra a produção de vinho do norte do país. De quebra, traz cenários deslumbrantes.

O ponto de partida é Salta, com sua fervilhante praça central, a Plaza 9 de Julio, repleta de prédios históricos, mas sobretudo de muita vida. Há bares, restaurantes, hotéis e um movimento constante. As atrações mais interessantes da cidade ficam no perímetro da praça, incluindo a Catedral Basílica e o mais impressionante museu local, o Museo de Arqueología de Alta Montaña (MAAM), onde estão as três múmias de crianças Incas consideradas as mais bem conservadas do mundo.

De Salta à Cachi são 156 quilômetros, primeiro trecho pela RN 68 e depois pela impressionante RP33, percorrendo a Cuesta del Obispo, 20 quilômetros de ziguezague com paisagens impressionantes. Mais à frente, a Reta do Tin Tin é literalmente uma reta de 19km feita sobre um caminho inca aberto em meio da serra. Sem falar que a estrada acompanha grande trecho do Parque Nacional Los Cardones, com uma das maiores áreas do continente cobertas por cactos gigantes.

Colado ao parque, Cachi é uma vila histórica colonial bem no meio do Vale do Calchaquíes, a mais de 2.500 metros de altitude. Além de hotéis incríveis, como o La Merced del Alto, restaurantes bacanas e um museu arqueológico de respeito, o Pío Pablo Díaz.

Salta
Salta - Divulgação

O trecho que liga Cachi a Cafayate é um dos mais belos da Ruta 40, rodovia icônica de 5.301 quilômetros que corta o país de norte a sul, atravessando 11 províncias argentinas e margeando a Cordilheira dos Andes. Nesse pedaço, a estrada parece atravessar outro planeta. Marte, por exemplo. A paisagem surrealista da Quebrada das Flechas, com formações rochosas que apontam para o céu, já valeria rodar estes 157 quilômetros de estrada tortuosa e com trechos de cascalho.

Cafayate é o centro da Rota do Vinho da província de Salta. A cidade é uma graça e rodeada por vinícolas que podem ser visitadas: Bodega El Esteco, Estancia Los Cardones, Bodega El Porvenir, Finca Quara e Finca Las Nubes são algumas. No centro há o interessante Museo de la Vid y el Vino, onde se entende por que os Torrontés e Malbec de Salta caíram no gosto dos enólogos mundo afora.

E quando se pensa ser impossível o visual ficar mais impressionante, eis que Salta mais uma vez surpreende. O trajeto de volta, de Cafayate a Salta, pela Ruta 68, esconde um highlight das road trips sul americanas: a Quebrada de Las Conchas. São cânions grandiosos que dominam a paisagem, com destaque para as formações rochosas únicas Anfiteatro e Garganta del Diablo, onde se pode caminhar.

SERVIÇO

  • Distância percorrida: O trajeto circular inteiro, começando e terminando em Salta, tem 501 quilômetros, sendo 157 km pela Ruta 40. Mas não é viagem para fazer com pressa.
  • Condição da estrada: Exige atenção, com muitas curvas e trechos de cascalho. Este site oficial traz as condições atualizadas de todas as estradas do país.
  • Tempo recomendado para a viagem: 7 dias.
  • Melhor época: de abril a novembro
  • Onde pegar e devolver o carro: Salta
  • Para onde voar: Salta

2. A Rota das Nuvens em Jujuy e Salta

Jujuy
Purmamarca - Divulgação

Província mais ao norte da Argentina, Jujuy faz fronteira com a Bolívia ao norte e com o Chile a oeste, tem paisagens de literalmente tirar o fôlego, com trechos em que a altitude média é de 4.000 metros. Ou seja, esse pedaço argentino já faz parte do Deserto do Atacama, com as vantagens de ter preço (e câmbio favorável para brasileiros) de Argentina.

Essa rota também circular começa e termina em Salta, mas segue para o norte. Da capital, percorrem-se 92 quilômetros da RN9, atravessando cênicas florestas de yungas, até chegar a San Salvador de Jujuy, a capital da província de Jujuy e onde de fato essa aventura começa. Continuando ao norte, a estrada vai ganhando altitude e, em 65 quilômetros, chega-se ao pitoresco vilarejo de Purmamarca. A cidade de ruas de adobe tem opções de hospedagem muito simpáticas e restaurantes típicos, o que faz dela uma boa base para explorar os arredores. A grande atração local são suas colinas multicoloridas, em camadas tão delineadas que parecem ter sido pintadas. O mais famoso é o Cerro de los 7 Colores.

De Purmamarca, vamos seguir para o noroeste pela RN52 em direção às Salinas Grandes. No entanto, vale ficar alguns dias para explorar as cidades mais ao norte. Purmamarca é apenas a pontinha sul da Quebrada de Humauaca, o vale que corta montanhas de até 3.000 metros de altitude que foi uma das principais rotas do Império Inca e é classificado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. História não falta ao longo desse caminho.

O pueblo de Tilcara guarda uma importante fortificação pré-hispânica, o Pucará de Tilcara. Mais adiante, em Uquía o registro é o dos conquistadores: a Iglesia de San Francisco de Pádua, de 1691. E, na cidade de Humauaca, a maior atração é a Serrabía de Hornocal, com sua montanha multicolorida, dessa vez de 14 cores. São 70 quilômetros entre Purmamarca e Humauaca.

Voltando à rota circular, a RN52, que conecta Purmamarca às Salinas Grandes, é uma estrada sinuosa que atravessa um mar de montanhas e chega ao ponto mais alto do trajeto, em Abra de Potrerillos, a 4.170 metros acima do nível do mar. E, enfim, chega-se às Salinas Grandes, quarta maior planície de sal da América do Sul, com 12 mil hectares.

Da estrada mesmo pode-se visitar o lugar, mas tem gente que fica mais tempo. Há nem dois anos foi inaugurado lá o Pristine Camps, uma experiência glamping de alto luxo com luxuosos domos que parecem flutuar sobre o deserto de sal.

A parada seguinte é Susques, pequeno povoado no entroncamento da RN52 e a famosa Ruta 40. Vale conhecer a capela Nuestra Señora de Belén de Susques, a mais antiga de Jujuy, do século 16, e se deliciar com as iguarias locais, como o locro, as empanadas e os tamales. E vale ainda mais dormir na cidade, por mais que as opções de acomodação sejam limitadas. A questão é logística: o trecho seguinte da viagem, entre Susques e San Antonio de Los Cobres, tem 120 km de cascalho a uma altitude média de 4.000 metros. Ou seja, faça de manhã, com calma e já aclimatado com a altitude.

San Antonio de Los Cobres é famosa por ser a estação de onde parte o Tren a las Nubes, um dos mais desafiadores percursos ferroviários do mundo, que liga a cidade ao viaduto La Polvorilla, a absurdos 4.420 metros de altitude. Um trajeto curto, que leva no total um par de horas e volta para a estação inicial. E vale cada metro. É preciso reservar antecipadamente e, mesmo assim, a saída não é 100% garantida: podem ocorrer cancelamentos devido às condições climáticas.

A volta para Salta é também um ponto alto da viagem uma vez que se percorrem cênicos 106 quilômetros da RN51, já na província de Salta. A paisagem muda conforme a descida de 4.000 a 1.500 metros de altitude acontece, da Quebrada del Toro às florestas de yunga, avistando picos nevados e animais, como vicunhas. No caminho, lugares como Ingeniero Maury, com sua pitoresca estação ferroviária, e sítios arqueológicos pré-hispânicos, como Tastil e Incahuasi.

SERVIÇO

  • Distância percorrida: O trajeto circular inteiro, começando e terminando em Salta, tem 586 quilômetros ou 723 km, com o desvio para Humauaca a partir de Purmamarca.
  • Condição da estrada: A estrada é 80% asfaltada, sendo o trecho mais perigoso os 120 km de cascalho de Susques a San Antonio de los Cobres.
  • Tempo recomendado para a viagem: 8 a 10 dias
  • Melhor época: de abril a novembro
  • Onde pegar e devolver o carro: Salta
  • Para onde voar: Salta

3. Aventura e arqueologia em Tucuman, Santiago del Estero e Catamarca

Forum Santiago del Estero
Forum Santiago del Estero - Diulgação

Esse circuito dá um gostinho de províncias pouco conhecidas pelos brasileiros e suas diferentes paisagens. Começa em San Miguel de Tucumán, capital da província de Tucumán e berço da Argentina moderna. O local onde foi declarada a independência do país, em 1816, é hoje o Museo Casa Histórica. A uma quadra de lá, uma caminhada pela Plaza Independencia completa o tour. Ao seu redor estão a Casa de Gobierno, a Catedral em estilo neoclássico, o teatro Mercedes Sosa (sim, a cantora nasceu na cidade), a Iglesia de San Francisco e o Jockey Club.

A parada seguinte, a 90 quilômetros dali, é Termas de Río Hondo, já na província vizinha de Santiago del Estero. A pequena cidade termal de 32 mil habitantes é uma velha conhecida dos amantes da motovelocidade. Ali está o único autódromo da América do Sul a receber, desde 2014, uma das 21 etapas do MotoGP. O próximo será no fim de março de 2024. Dentro do Autódromo e com belas vistas para o circuito, o Museo del Automóvil tem três pisos repletos de preciosidades automobilísticas. Além disso, a cidade encanta por suas termas – são 14 fontes cujas águas jorram do solo entre 30 e 85 graus Celsius e abastecem piscinas, spas e parques aquáticos, sejam nos hotéis ou fora deles. A própria represa de Río Hondo é outra atração.

De Río Hondo segue-se para o oeste, atravessando a província de Tucumán, com suas montanhas, florestas de yungas e o Parque Nacional Aconquija, para passar a noite em Andalgalá, já em Catamarca. A cidade conhecida como "a Pérola do Oeste" é um oásis no sopé da Serra de Aconquija. Há atividades de turismo de aventura, safáris fotográficos, 4×4 e visita a fazendas produtoras de olivas no sopé da montanha.

Ainda rumo ao oeste, a cidade que tem mais estrutura é Belén, mas é ao lado de Londres, um povoado colonial com casas de adobe ao lado, a mais surpreendente atração local: El Shincal. Trata-se da mais austral cidade do Império Inca, um sítio arqueológico de respeito que vem sendo chamado de "A nova Cusco".

De Belén, a rota segue para o norte pela mítica Ruta 40 e chega a um dos trechos mais lindos da viagem, quando a estrada atravessa as Serras de Belén em meio a montanhas fantásticas até alcançar Hualfín. Há algumas cidades e postos da Rota do Artesão para passar, como a Puerta de San José, San Fernando e El Eje.

Em Hualfín é preciso tomar uma decisão importante: terminar o circuito seguindo de volta para San Miguel de Tucumán pelo vale dos Colchaquíes ou então estender para El Peñon, já quase na fronteira chilena.

São 155 quilômetros cada perna e uma diferença de altitude considerável – de 2.300 a 3.400. Ou seja, é preciso estar aclimatado para não sofrer de mal de altitude. Quem topa a aventura é recompensado por Los Castillos, formação rochosa em Vila Vill que lembra castelos góticos; pelas dunas de Cuesta de Randolfo; pela Reserva de Biosfera Laguna Blanca, um lago salgado rodeado por montanhas nevadas e flamingos; e, por fim, em El Peñon, o campo de Pedra Pómez, com sua aparência lunar.

Quem resolve seguir viagem sem desviar para El Peñon também fica feliz. De Hualfín são 115 quilômetros de Ruta 40 até Santa María, conhecida como capital dos vales Colchaquíes. A região é uma verdadeira viagem à época pré-colombiana, repleta de sítios arqueológicos.

De volta à província de Tucumán, a parada seguinte, Amaicha del Valle, é uma típica vila da cordilheira onde se fazem cavalgadas, passeios de bicicleta e visitas às vinícolas. São 14 bodegas no total, sendo a maioria orgânica. Vale conhecer a Bodega Comunitaria Los Amaichas, umas das três do mundo comandadas por indígenas.

De lá, segue-se para Tafí del Valle, pequeno povoado que tem ganhado atenção por conta do turismo rural. Há charmosos hotéis e cabanas com vista para as montanhas para se hospedar e visitas às estâncias, onde se provam queijos fantásticos. Além de ser um prato cheio para quem ama arqueologia. Tafí del Valle é conhecido por seus menires, monolitos talhados pelos povos originários da cultura Tafí, cujos registros no local remontam há 2.000 anos. A Reserva Arqueológica Los Menhires, próxima ao pueblo vizinho de El Mollar, tem mais de 50 menires, alguns chegando a até três metros. Um ótimo lugar para relaxar antes de voltar para San Miguel de Tucumán.

SERVIÇO

  • Distância percorrida: O trajeto circular inteiro, começando e terminando em San Miguel de Tucumán, tem 803 quilômetros ou 1.098, com o desvio radical para El Peñon.
  • Condição da estrada: A pior parte é a subida para El Peñon. Há cerca de 30 km de cascalho na RP 43 (entre Villa Vil e Cuesta de Randolfo) e 16 km na entrada à Reserva Provincial Laguna Blanca.
  • Tempo recomendado para a viagem: 8 a 10 dias.
  • Melhor época: de abril a novembro, mas se for subir a El Peñon evite o inverno. É muito frio e pode nevar, piorando as condições da estrada.
  • Onde pegar e devolver o carro: San Miguel de Tucumán
  • Para onde voar: San Miguel de Tucumán

4. Pré-história e vinhos em Cuesta de Miranda, La Rioja

La Rioja - Vinchina
La Rioja - Vinchina - Divulgação

São apenas 32 quilômetros em um trecho bom e asfaltado da Ruta 40 que concentra cânions e falésias em um ziguezague que revela todos os tons de vermelho, verde e ocre. A Cuesta de Miranda, estrada cênica que liga Villa Unión e Chilecito, em La Rioja, é sem dúvida uma das mais belas do país.

Além de ser um curto trajeto que liga o Parque Nacional de Talampaya, um deserto vermelho repleto de curiosas formações rochosas e rastros dos primeiros dinossauros do planeta, a Chilecito, a segunda maior cidade de La Rioja. Ali, há muito o que ver e fazer, inclusive visitar vinícolas. O Torrontés Riojano é famoso, assim como os Malbec. O Rio Miranda acompanha todo o percurso. Vale parar em cada mirante durante o trajeto e esperar um condor sobrevoar o imponente Cânion de Talampaya.

SERVIÇO

  • Distância percorrida: São 32 quilômetros, entre Villa Unión e Chilecito.
  • Condição da estrada: Inteiramente asfaltada.
  • Tempo recomendado para a viagem: 3 dias
  • Melhor época: o ano inteiro
  • Onde pegar e devolver o carro: Chilecito
  • Para onde voar: La Rioja (206 km) ou Tucumán (556 km)

SERVIÇO GERAL

Melhor época para ir

De abril a novembro, quando as temperaturas são amenas durante o dia (em média entre 19 e 26ºC) e as noites bem frescas, podendo chegar a 4ºC em julho. Quem planeja ir ao extremo oeste deve evitar o inverno. Entre dezembro e fevereiro é época de chuvas. Já La Rioja é destino para o ano todo.

Como chegar

A Aerolíneas Argentinas faz a rota São Paulo-Salta-Tucumán. Quem quiser combinar o Norte da Argentina a Buenos Aires também pode voar para San Miguel de Tucumán, para Salta ou para San Salvador de Jujuy fazendo conexão na capital portenha. Para La Rioja, é preciso obrigatoriamente fazer conexão em Buenos Aires.

Como visitar

No Norte argentino as distâncias são grandes, as atrações muito espalhadas e muitas vezes o melhor entre uma cidade e outra são as paisagens do caminho. Ou seja, perfeito para uma bela road trip. Mas não espere estradas tão boas quanto as do sul e nem fáceis, já que a geografia do lugar é montanhosa. Sempre verificar onde há postos de gasolina e nunca esquecer de reabastecer.

O que levar

Com o clima árido e muitas vezes pouca infra estrutura, não desgrude da garrafinha de água. Leve roupas confortáveis em camadas para as diferenças de temperatura ao longo do dia, sapatos para caminhada e chapéu de aba larga, óculos escuros, um casaco e um quebra-vento.

Atenção!

Nunca menospreze o chamado "mal de altura" (doença de altitude), que pode causar náuseas, sensação de surdez, dores de cabeça, cansaço e fadiga. É necessária a aclimatação, ou seja, viajar sem pressa e ir parando antes de seguir para patamares mais altos.

Documentação

Para entrar na Argentina, brasileiros devem apenas apresentar uma cédula de identidade válida (RG) ou então o passaporte internacional também válido. O período de permanência no país não deve ultrapassar 3 meses.