Descrição de chapéu América Latina

Referência mundial em boa gastronomia, Guia Michelin chega à Argentina

Especialistas do guia mais tradicional do mundo já visitam os restaurantes do país vizinho; nomes dos estrelados serão conhecidos em novembro

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Referência mundial em boa gastronomia, Guia Michelin chega à Argentina Divulgação

Não é novidade para ninguém que a Argentina –especialmente Buenos Aires, seguida por Mendoza e arredores— virou um imã para os amantes da boa gastronomia. Se antes os destaques eram as parrillas, que conquistavam pelos cortes e pontos impecáveis, hoje, as experiências gastronômicas que o país coleciona competem com o que há de melhor e mais inovador no mundo inteiro.

Tudo bem que é um tradicional restaurante de carnes portenho – o Don Julio, de Pablo Rivero, que puxa o cordão, no posto de 19º melhor do mundo pelo mais respeitado ranking do setor, o 50Best, da revista Restaurant. No entanto, as tantas novidades, sabores e experiências gastronômicas de norte a sul do país abriram o apetite de um gigante ainda maior: o Guia Michelin, cuja primeira edição argentina acaba de ser anunciada.

As visitas anônimas dos inspetores da publicação já estão sendo realizadas há meses, e a primeira seleção dos restaurantes estrelados de Buenos Aires e de Mendoza será divulgada no dia 24 de novembro de 2023. Com isso, a Argentina passa a ser o primeiro país hispânico da América Latina a ter seu Guia Michelin.

"A chegada do Guia Michelin à Argentina representa um antes e um depois tanto para nossa gastronomia quanto para o turismo argentino. Há um trabalho conjunto dos setores público e privado para tornar nosso país o principal destino gastronômico da América Latina e um dos mais atraentes do mundo. Esse anúncio é uma prova disso. Não tenho dúvidas de que esse caminho que estamos trilhando junto com o Guia Michelin será um marco que durará muitas décadas"

Matías Lammens, ministro de Turismo e Esportes da Argentina

O diretor internacional do Guia Michelin, Gwendal Poullennece, ressaltou a importância da chegada do guia à Argentina: "Há muito tempo nossa equipe de inspetores anônimos coloca Buenos Aires e Mendoza em seu radar e observa a evolução de seus cenários gastronômicos. Temos o prazer de finalmente anunciar que apresentaremos nossa seleção inaugural de restaurantes em novembro, marcando os primeiros passos oficiais do Guia Michelin na Argentina".

Para Poullennece, Buenos Aires e Mendoza são destinos gourmet que merecem ser descobertos e promovidos.

"Buenos Aires e Mendoza são cidades com um rico patrimônio culinário, moldado por séculos de história, fusão cultural e ondas consecutivas de migrações, além de possuírem um senso de hospitalidade e um verdadeiro gosto pelo jantar."

Gwendal Poullennece, diretor internacional do Guia

Rigor que premia

Sinônimo de excelência e sofisticação culinária, essa verdadeira "Bíblia do bem comer" foi criada na França, em 1900, pelos irmãos André e Édouard Michelin, donos de uma fábrica de pneus numa França que à época tinha apenas 3.000 carros. Passaram a distribuir a publicação gratuitamente para promover a empresa, um impressionante case de marketing.

A famosa metodologia de classificar restaurantes, com inspetores visitando estabelecimentos anonimamente e lhes atribuindo as sonhadas 1, 2 ou 3 estrelas, no entanto, começou cerca de 30 anos depois.

Hoje, é preciso morar em Marte para não conhecer o Guia Michelin. Os inspetores seguem visitando os estabelecimentos sem se identificar, sem avisar e se comportam como um cliente qualquer. A ideia é avaliar a criatividade e talento do chef, e identidade da cozinha e a qualidade do serviço do lugar. Ambiente e experiência geral também contam para que um estabelecimento alcance as cobiçadas estrelas Michelin. Além do panteão dos estrelados, o Guia também indica outros estabelecimentos ligados à gastronomia, como cantinas, bistrôs ou até mesmo barracas de comida de rua.

As estrelas têm significados precisos. O restaurante que recebe uma estrela é reconhecido por oferecer uma excelente culinária e uma experiência gastronômica que vale a pena conferir. É um prêmio significativo para qualquer estabelecimento.

Duas estrelas Michelin são concedidas a restaurantes que apresentam uma cozinha excepcional, merecedora de um desvio para experimentá-la.

Já as três estrelas Michelin simbolizam o auge da excelência culinária, reconhecimento reservado aos restaurantes que oferecem uma experiência gastronômica excepcional, com pratos criativos e técnicas de alto nível.

Mas, acima de tudo, ter um Guia Michelin para chamar de seu e a presença de seus inspetores em território argentino sinaliza o reconhecimento da qualidade da cozinha local como um todo. Não apenas coloca o país no mapa internacional dos melhores destinos gastronômicos mas também abre novas oportunidades para os restaurantes locais mostrarem seu talento e criatividade, atraindo uma audiência global.

A boa fase argentina

A chegada da Bíblia gourmet é mais um reconhecimento da excelente fase gastronômica do país vizinho. Uma ótima notícia para os brasileiros, que estão a um pulo de roteiros foodies que poderiam estar em qualquer lugar do mundo, mas são acessíveis por um voo vapt vupt. Sem mencionar o câmbio atual, o que torna comer nos restaurantes premiados argentinos um programa possível – e até acessível—para brasileiros.

Mesmo antes dos estrelados Michelin serem conhecidos do público, outras listas célebres já podem antecipar o que vem por aí. Na última lista do 50Best Latin America, de 2022, há 8 restaurantes portenhos. Mesmo número, inclusive, dos premiados de Lima, que costumava reinar solo como a capital gastronômica latino-americana. O Don Julio segue na liderança, colecionando os títulos da Restaurant: 19ª na lista dos 50 melhores do mundo, 1º na lista dos melhores restaurantes de carne do mundo em 2023, 2º entre os melhores da América Latina. Na sequência do ranking latino-americano, aparecem restaurantes variados e criativos, que só provam que a Buenos Aires de hoje está mesmo muito além da parrilla.

O segundo melhor classificado, por exemplo, o Mishiguene (15º lugar) é um restaurante judaico, que mistura referências e reinventa a culinária Ashkenazi, Sefaradi, israelense e do Oriente Médio. O nome significa "louco" em ídische. Na sequência, na 22ª posição, está o El Preferido de Palermo, dos mesmos donos do Don Julio, mas com um conceito mais de bodega, com pequenas porções. Fazem também parte da lista lugares como o criativo Aramburu, com menu degustação de 18 passos do chef Gonzalo Aramburu, que passou por cozinhas como a de Daniel Boulud e mistura ingredientes ultra sazonais com gastronomia molecular. Completam a lista o Elena, a steakhouse do Hotel Four Seasons; o Gran Dabbang, de inspiração asiática; e o criativo Julia, em Villa Crespo.

A Argentina está também no radar dos críticos da Conde Nast Traveller. A lista do The Best New Restaurants in the World: Hot List 2023, que contempla seletas 21 escolhas dos editores da revista no mundo inteiro, inclui o portenho Kona Corner. Aberto em fevereiro, em Belgrano, é um japonês que mistura raízes tradicionais com um toque contemporâneo.

As novidades também têm colocado a província de Mendoza nas listas mais festejadas. A vinícola Catena Zapata acaba de ser eleita a melhor do mundo para se visitar pela lista da World’s Best Vineyards 2023. E obviamente que esse prêmio contempla a experiência completa, incluindo comer no Angelica Cocina Maestra, o primeiro restaurante da família que faz vinhos há 120 anos. Agora é só esperar para ver como os inspetores do Guia Michelin vão avaliar todas essas novidades.

SERVIÇO GERAL

  • MELHOR ÉPOCA PARA IR: O ano todo é ideal para para comer bem na Argentina. A partir do mês de agosto é ainda mais perfeito: com as promoções de baixa temporada, sobra mais dinheiro para gastar nos restaurantes de Buenos Aires. Mendoza é também destino para o ano inteiro, especialmente primavera e outono, com temperaturas agradáveis e as boas ofertas da baixa estação.
  • COMO SE PREPARAR: Fazer reserva com antecedência é imprescindível nos endereços mais concorridos e premiados de Buenos Aires, assim como nas experiências gastronômicas em vinícolas de Mendoza. De resto, tudo é muito informal.
  • DOCUMENTAÇÃO: Para entrar na Argentina, brasileiros devem apenas apresentar uma cédula de identidade válida (RG) ou então o passaporte internacional também válido. O período de permanência no país não deve ultrapassar 3 meses.