Na última década, o número de estudantes em cursos superiores de graduação, na modalidade de educação a distância (EaD) aumentou 474%. A informação é do último Censo da Educação Superior 2021, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC). Se, em 2011, os ingressos por meio de EaD correspondiam a 18,4% do total, em 2021 esse percentual chegou a 62,8%. Os dados, ao mesmo tempo que refletem um crescimento expressivo do EaD, colocam os alunos que pretendem estudar nessa modalidade diante do desafio de escolher seu curso em meio a uma oferta cada vez maior e diversificada em termos de qualidade e custo. Para selecionar seu curso, confira nestas páginas 10 dicas de especialistas consultados pelo Estúdio Folha.

1. Principais características dos cursos EaD

No Brasil, não temos um modelo único para os cursos de graduação e pós-graduação EaD. Mas há elementos comuns, presentes na maioria dos cursos dessa modalidade oferecidos pelas instituições de ensino superior, afirma Alcir Vilela Junior, diretor de Educação a Distância do Centro Universitário Senac. Entre eles, a predominância de cursos on-line estruturados em plataformas virtuais de aprendizagem, tecnologia que possibilita acessar recursos didáticos digitais, como e-books, textos, videoaulas gravadas e podcasts.

Além disso, a maioria dos cursos permite, por meio de suas plataformas, a interação entre alunos e professores, alunos e tutores, alunos e alunos. Também podem lançar mão de atividades síncronas, que são as aulas on-line ao vivo, e assíncronas, como fóruns de dúvidas e de discussão.

Os cursos de graduação EaD costumam ter algumas atividades presenciais obrigatórias nos chamados polos. Na definição do Ministério da Educação (MEC), o polo é o local para o desenvolvimento descentralizado de atividades pedagógicas e administrativas. Assim, a graduação EaD pode ser totalmente on-line, em que o aluno realiza presencialmente apenas os processos avaliativos, ou semipresencial, com atividades práticas em laboratórios, por exemplo, que atendem às necessidades de determinados cursos.

Na pós-graduação EaD, a diversidade de modelos é ainda maior. Há cursos totalmente on-line em que o aluno realiza, inclusive, a avaliação nesse formato. Também há os que a avaliação é presencial ou que mesclam as duas dinâmicas. Há cursos em que o aluno deve apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e outros em que não há essa exigência.

2. Como estudar de qualquer lugar sem perder tempo

Uma das vantagens do EaD é permitir ao estudante adequar o curso a sua agenda. "Essa flexibilidade é um benefício", afirma Míriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie. No entanto, para usufruir desse benefício em prol dos estudos, o aluno precisa ser disciplinado e organizado.

Essa também é a recomendação do diretor de Educação a Distância do Centro Universitário Senac, Alcir Vilela Junior. "Ter flexibilidade não significa demandar menos tempo nem ser mais simples ou mais fácil. Ao contrário, o EaD exige, muitas vezes, mais leitura, mais foco e mais dedicação do aluno que o ensino presencial", afirma.

José Varanda, professor e coordenador dos cursos de graduação da Escola de Negócios e Seguros (ENS), ressalta a importância de utilizar todos os recursos disponíveis na plataforma de ensino da instituição para otimizar o aprendizado. "O aluno precisa ser proativo, acessar e participar dos fóruns e dos encontros ao vivo on-line e tirar dúvidas com o tutor no ambiente disponível na plataforma do curso", afirma. Igualmente importante é fazer os exercícios, simulados e outras tarefas propostas.

Há quem busque uma graduação ou pós-graduação EaD com a expectativa de que a jornada será mais fácil. Miriam alerta que isso é um engano e que o ensino a distância pode exigir, por exemplo, ainda mais proatividade do estudante do que o presencial, em que os alunos estão em sala de aula sob a tutela do professor. "Um curso EaD não é mais fácil que o curso presencial e vice-versa. São apenas modalidades diferentes", conclui.

3. Quais as principais vantagens?

O EaD amplia o acesso do estudante ao ensino universitário. Pessoas que precisam conciliar trabalho e estudo, por exemplo, conseguem adaptar o curso a sua rotina, com liberdade de horário. Outro ponto importante é que, em geral, o EaD apresenta mensalidades com valores mais acessíveis que o presencial. Esses dois aspectos inerentes a essa modalidade de ensino são as vantagens mais evidentes apontadas pelos especialistas. Mas há outras.

Coordenador geral de EaD do Claretiano – Centro Universitário, o professor Evandro Luis Ribeiro destaca o contato do aluno com as ferramentas tecnológicas a serviço da educação e o amplo acesso ao conhecimento disponível na web. "Esses recursos utilizados de modo bem-organizado contribuem muito para a aprendizagem dos estudantes", diz. A apropriação pelo aluno desse arsenal tecnológico também é citada por Míriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como um conhecimento adicional e necessário em um mundo em que não só o ensino, mas também a realidade das empresas está cada vez mais tomada pelas ferramentas digitais.

Em grandes centros urbanos as muitas horas gastas com transporte, principalmente nos horários de rush, são consideradas um fator que prejudica a qualidade de vida das pessoas. Nesse cenário, o EaD retira da agenda do aluno essa necessidade de deslocamento, o que significa menos cansaço e mais horas para se dedicar aos estudos. "Essa é uma vantagem importante para alunos de curso noturno e também para os que estão trabalhando em home-office", afirma José Varanda, professor e coordenador dos cursos de graduação da Escola de Negócios e Seguros (ENS).

4. Como escolher um curso EaD?

A exemplo do que acontece com o ensino presencial, o aluno vai se deparar no mercado com diferentes níveis de qualidade de cursos EaD. E um ponto importante, na opinião de Alcir Vilela Junior, diretor de Educação a Distância do Centro Universitário Senac, é saber que a modalidade de ensino, EaD ou presencial, não determina intrinsecamente a qualidade do ensino. "Boas instituições oferecem bons cursos presenciais e bons cursos EaD", diz.

Na escolha da graduação ou pós-graduação, o primeiro passo é conhecer o curso para verificar se ele está de acordo com suas expectativas. Muitas informações estarão no site da instituição, mas também vale uma conversa com o coordenador do curso desejado. É importante ter informações sobre metodologia, os recursos didáticos digitais e o processo de avaliação. Outra dica importante dos especialistas é conversar com alguém que já tenha feito o curso na instituição para saber na prática como tudo funciona.

É verdade que o leque de possibilidades, com a entrada de ferramentas tecnológicas na educação e no mundo do trabalho, entre muitos outros aspectos, promoveu mudanças significativas, que aconteceram de modo muito rápido. Mas há uma coisa que não se altera: para escolher um bom curso, o estudante precisa, primeiramente, se conhecer. Isso é importante para saber, por exemplo, que modalidade de curso se adapta melhor a sua realidade e a seu perfil. Além disso, recomenda Míriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie, "pedagogicamente, escolha alguma coisa que ama, que tem a ver com seus interesses e com o que se pode contribuir para uma sociedade melhor".

5. Diferença entre os principais modelos

Dentro da modalidade EaD, o estudante encontra diferentes modelos ou abordagens metodológicas. E no momento de escolher o curso é importante levar isso em consideração. Em linhas gerais, as variações são as seguintes: há cursos totalmente on-line, em que todo o processo de aprendizagem acontece de modo virtual, e os semipresenciais, em que o aluno terá aulas on-line e presenciais. Mas as diferenças não terminam aí, explica Alcir Vilela Junior, diretor de Educação a Distância do Centro Universitário Senac, os cursos EaD podem ser assíncronos, com aulas gravadas em que alunos e professores não interagem em tempo real. Já no modelo síncrono, as aulas on-line acontecem ao vivo. Outra possibilidade, é a instituição mesclar os dois modelos.

Outra diferença diz respeito à mediação realizada por professores e tutores. Na graduação, a mediação de tutores e professores está presente em todos os cursos. Já na pós-graduação existem algumas em que isso não acontece.

Para o professor Evandro Luis Ribeiro, coordenador feral de EaD , do Claretiano - Centro Universitário, o amplo acervo de tecnologias disponíveis na educação como um todo, tem proporcionado às instituições de ensino estruturar seus modelos de EaD com características muito particulares. Da mesma opinião compartilha Míriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie. "As instituições têm se aprimorado muito no tipo de material que é oferecido, nos aspectos didático pedagógicos dos cursos. O EaD começou com uma proposta muito vinculada à utilização de videoaulas e realização de exercícios. Hoje, o aluno tem uma série de atividades interativas e utiliza recursos que contemplam aprendizado, conteúdo e que seja agradável", diz.

6. A importância de pesquisar sobre a instituição

Todos os especialistas consultados pelo Estúdio Folha são unânimes em afirmar que é muito importante se informar sobre a instituição que oferece o curso antes de se matricular. O primeiro passo é saber se a instituição é credenciada para oferecer cursos a distância. Alcir Vilela Junior, diretor de Educação a Distância do Centro Universitário Senac, alerta que nem todas são.

No caso de cursos de graduação, José Varanda, professor e coordenador dos cursos de graduação da Escola de Negócios e Seguros (ENS), recomenda verificar como foi o desempenho da instituição no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). Essa avaliação é organizada todos os anos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e pode ser um indicativo de qualidade para escolha da instituição na qual o aluno pretende estudar.

Além disso, vale consultar sites que registram avaliações de consumidores, como o Reclame Aqui e o Procon. O estudante precisa pensar que, além do investimento financeiro, ele está investindo tempo de vida em um projeto e que o profissional formado também será reconhecido no mercado de trabalho pelo nome da instituição em que estudou, afirma Míriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie. "Existem diversos rankings nacionais e internacionais divulgados na mídia em que o estudante pode verificar características das universidades", diz

7. Informe-se sobre a qualificação do corpo docente

Assim, como acontece nos cursos de graduação e pós-graduação presencial, a qualificação do corpo docente é importante no EaD. Sem dúvida que mestrado, doutorado e pós-doutorado são aspectos que devem estar presentes na composição do corpo docente. Mas, além desses requisitos, o EaD exige que os professores tenham um perfil adequado às especificidades dessa modalidade e recebam treinamento, afirma Alcir Vilela Junior, diretor de Educação a Distância do Centro Universitário Senac. "Assim, além de procurar conhecer o corpo docente, sua experiência educacional e de mercado e sua titulação, é importante saber se a instituição capacita seus professores para atuar no EaD. Outro ponto importante, é saber se – de fato – os docentes da instituição atuam na mediação do curso ou se esta tarefa é delegada integralmente a tutores", diz.

Míriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ressalta a importância de um currículo acadêmico de peso, relevante na área na qual o professor ministra aulas e, para o docente que atua na pós-graduação lato sensu, que é voltada a profissionais que desejam se aperfeiçoar em determinada área, a experiência no mercado, que garante a vivência. "Sempre é desejável que o professor, além dos aspectos teóricos, reúna também uma bagagem na prática", afirma.

Além das informações fornecidas pela instituição, o professor Evandro Luis Ribeiro, coordenador geral de EaD do Claretiano - Centro Universitário, indica como fontes interessantes para saber mais sobre o corpo docente do curso a Plataforma Lattes (www.lattes.cnpq.br), além do Linkedin.

8. Confira se o curso disponibiliza polos de apoio e sua localização

A criação de polos EaD pelas instituições que oferecem essa modalidade de ensino é uma exigência do MEC para atuação nessa área. O polo é uma estrutura física onde podem ser realizadas atividades presenciais do curso, como avaliações, e pedagógicas e administrativas. Portanto, deve ser um espaço adequado para acolher os alunos mesmo que o contato com esses estudantes ocorra, predominantemente, de modo on-line.

Nos cursos EaD da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por exemplo, os alunos da graduação fazem suas avaliações presencialmente nos polos, afirma Míriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância da instituição. "Os polos são importantes porque garantem acesso de alunos de diferentes localidades e estados do país", diz. Além disso, segundo Míriam, os polos de apoio presencial podem promover eventos e congregar elementos importantes relacionados à realidade local.

O professor Evandro Luis Ribeiro, coordenador geral de EaD do Claretiano - Centro Universitário, considera os polos um grande diferencial no EaD e fator determinante na escolha de uma instituição. "É no polo que o estudante tem a oportunidade de estabelecer um laço social com os colegas, além de contar com o apoio nas questões pedagógicas e administrativas que permearão todo o curso", diz.

Alcir Vilela Junior, diretor de Educação a Distância do Centro Universitário Senac, alerta para a necessidade de que os pólos sejam bem-estruturados, oferecendo aos alunos, sempre que necessário, a utilização de recursos tecnológicos, bibliotecas, ou espaços de estudo.

9. Verifique se o curso é reconhecido pelo MEC

É fundamental verificar se o curso é reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). "Isso atesta que a instituição está seguindo os aspectos regulatórios e que o diploma emitido é válido", ressalta Míriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Alcir Vilela Junior, diretor de Educação a Distância do Centro Universitário Senac, explica que as instituições precisam ser credenciadas pelo MEC para atuar com modalidade de curso EaD e os cursos de graduação devem ser autorizados e reconhecidos. Os centros universitários e universidades, desde que credenciados para o EaD, não precisam de autorização prévia do MEC para oferecer os cursos. Assim, é importante o aluno conhecer o credenciamento da instituição e a condição de autorização e reconhecimento do curso.

Segundo o professor Evandro Luis Ribeiro, coordenador geral de EaD, o processo de reconhecimento do curso acontece após sua abertura pela instituição de ensino superior, que ocorre quando o curso já se encontra em oferta e no período previsto na legislação. "Nas duas situações, autorização e reconhecimento, o curso pode ser oferecido pela instituição. Sempre que houver qualquer situação impeditiva, o MEC suspende a oferta", diz.

Outra dica importante é se informar sobre a nota obtida pela instituição no credenciamento EAD e pelo curso no reconhecimento. "Os cursos reconhecidos com notas 4 e 5 têm a vantagem de estarem acima da média do mercado", afirma José Varanda, professor e coordenador dos cursos de graduação da Escola de Negócios e Seguros (ENS).

10. Qual a aceitação do EaD no mercado de trabalho

Para as empresas é indiferente se o aluno fez seu curso de graduação ou de pós-graduação na modalidade EaD ou presencial. "No passado, podemos dizer que existia algum preconceito com relação ao EaD. Mas isso foi diminuindo cada vez mais, ao passo que está claro que os cursos EaD podem ter tanta ou mais qualidade que os cursos presenciais", afirma Míriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Da mesma opinião compartilha José Varanda, professor e coordenador dos cursos de graduação da Escola de Negócios e Seguros (ENS), ressaltando que as comissões de avaliação externa do MEC analisam os mesmos indicadores de qualidade, qualquer que seja a modalidade de oferta do curso para autorização e reconhecimento.

Inclusive, a modalidade – presencial ou EaD – não é mencionada no diploma ou certificado de conclusão do curso, lembra Alcir Vilela Junior, diretor de Educação a Distância do Centro Universitário Senac. Para ele, o desempenho dos alunos do EaD em exames de conselhos profissionais, no Enade e no mercado de trabalho foram fundamentais para a mudança dessa visão", afirma.

Outro ponto, afirma Míriam Rodrigues, é que todos – empresas e escolas – tiveram que se adaptar ao digital durante a pandemia de Covid-19. "Todo o ecossistema envolvido na educação teve acesso ao EaD e pode ver que é possível desenvolver um curso de qualidade nessa modalidade", diz.