Descrição de chapéu China

ARTIGO: O futuro Brasil-China é sustentável, tecnológico, conectado e industrial

Países devem cooperar em áreas ligadas à transição energética, inovação, crescimento inclusivo e desenvolvimento industrial; sinergia é a palavra da vez

Rubens Cavallari/Folha Press

Complexo Solar Panati, no interior do Ceará, da Spic, empresa de origem chinesa que é a maior geradora de energia solar do mundo Folhapress

Luiz Augusto de Castro Neves
Cláudia Trevisan*

Brasil e China celebram os 50 anos de seus laços diplomáticos com o desafio de levar a relação bilateral a um novo patamar, que a conecte com as agendas do futuro vistas como estratégicas por ambas as nações, entre as quais estão transição energética, inovação, crescimento inclusivo e sustentável, conectividade e desenvolvimento industrial.

É o momento de olhar para o que desejamos dessa parceria no próximo meio século, que tem contornos bastante distintos do período que acabamos de celebrar.

Os últimos 50 anos testemunharam mudanças profundas nas relações bilaterais em todas as suas dimensões: diplomática, política, comercial, econômica e social. Ao caminhar para se tornar a segunda maior economia do mundo, o distante país asiático emergiu como o principal destino das exportações brasileiras e uma das maiores fontes de investimentos externos no território nacional.

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Esse período também viu a espetacular transformação da China em potência tecnológica global, líder em áreas como trens de alta velocidade, carros e baterias elétricas, energia solar e eólica, pagamentos online, blockchain e comércio eletrônico. Seu programa espacial registra avanços históricos e seu poderio militar só é inferior ao dos EUA.

Há muito o que celebrar no relacionamento bilateral. Na esteira da guerra comercial entre Washington e Pequim iniciada em 2017, o Brasil se tornou o maior fornecedor de alimentos para a China, respondendo por mais de 20% de suas importações no setor. BRF, JBS e os agricultores brasileiros contribuíram para atender a demanda nutricional dos chineses, que se ampliou e se sofisticou.

O minério de ferro da Vale abasteceu as siderúrgicas do país asiático e contribuiu para a expansão de sua infraestrutura e construção civil. A Petrobras se tornou um dos principais fornecedores de petróleo para a China.

Cinco décadas depois, precisamos ir além. O fornecimento de alimentos, minérios e petróleo continuará a ser um dos pilares do comércio bilateral, mas ele será cada vez mais modificado por práticas sustentáveis, como a agropecuária de baixo carbono, o minério de ferro que reduz as emissões da siderurgia e a descarbonização na exploração de petróleo.

As referências que caracterizaram a ordem internacional do pós-Segunda Guerra Mundial não são mais aplicáveis: a União Soviética desapareceu, a União Europeia tem um novo perfil, e a ascensão da China deslocou o centro de gravidade da economia global para a Ásia. Ir além significa ter um olhar de longo prazo que propicie o aproveitamento das janelas de oportunidades que se nos apresentam, sem realinhamentos geopolíticos de um lado e doutro. A globalização abriu novos horizontes de cooperação que devem servir de referência para uma nova ordem internacional. Brasil e China podem e devem ser atores importantes nesse processo, na busca de soluções para problemas globais cruciais, como a emergência climática, o combate à fome e à pobreza e a busca da paz.

O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) acredita que o futuro passa pela parceria em áreas ligadas à transição energética, inovação e tecnologia, integração regional e formação de cadeias produtivas industriais no Brasil com participação de capital chinês.

Desde o fim dos anos 2000, os investimentos do país asiático no Brasil acumulam estoque de US$ 73,3 bilhões. A expectativa é que eles aumentem e se diversifiquem. Os dois países podem cooperar em projetos que acelerem a transição energética, como produção de combustível sustentável para aviação (SAF) e para a navegação marítima, duas indústrias que têm metas ambiciosas de descarbonização. Outra aposta promissora é a produção, no Brasil, de hidrogênio de baixo carbono.

Montadoras chinesas anunciaram investimentos na fabricação de veículos elétricos no Brasil. O próximo passo deve ser a criação de cadeias produtivas que contemplem o processamento de minerais críticos e a fabricação de baterias e peças na região.

O Brasil também pode auxiliar a China na superação de alguns de seus desafios. Entre eles está a substituição do plástico por produtos de fibras vegetais, algo que a Suzano pesquisa em seu Innovability Hub em Xangai. Terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, a Embraer pode atender parte da gigantesca demanda chinesa no setor e contribuir para a agregação de valor na pauta exportadora brasileira.

Quando os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping se encontrarem no dia 20, a palavra "sinergia" ocupará um lugar de destaque no diálogo bilateral. Ela reflete à perfeição as complementariedades e as aspirações comuns que devem guiar os laços bilaterais pelos próximos 50 anos.

*Luiz Augusto de Castro Neves é presidente e Cláudia Trevisan é diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil-China

*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha