Além do alto volume de importações e exportações, a China é hoje um dos maiores investidores estrangeiros do Brasil, com mais de US$ 72 bilhões aportados no país desde 2007, segundo o CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China). Desse total, 45% foram realizados nos setores de energia, seguido por extração de petróleo, com 30,4%.
No ano passado, os investimentos atingiram US$ 1,73 bilhão, aumento de 33% em relação a 2022. O aumento ocorreu apesar da queda de 17% nos investimentos estrangeiros de forma geral no Brasil. Mas está muito longe do pico.
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Em 2010, os investimentos chineses totalizaram US$ 13 bilhões, parte explicada pelo câmbio que estava muito mais favorável para o real em relação ao dólar que hoje (na média, US$ 1 valia R$ 1,78 naquele ano).
Mas não há dúvidas que há espaço para crescer. O Brasil foi o nono país que mais recebeu capital produtivo chinês em 2023, mantendo a mesma posição do ano anterior. Os primeiros colocados são Indonésia, Hungria e República Democrática do Congo. O Peru, o mais bem colocado entre os países sulamericanos, aparece em quarto lugar.
Do US$ 1,73 bilhão do ano passado, US$ 668 milhões foram para energia e US$ 568 milhões para o setor automotivo, que desponta como nova fronteira tecnológica pela emergência dos carros elétricos. Desde 2021, todos os projetos chineses no setor automotivo no Brasil foram direcionados a veículos 100% elétricos ou híbridos.
O setor automotivo foi impulsionado no ano passado pela continuidade dos investimentos da GWM (Great Wall Motors) em sua fábrica em Iracemápolis, no interior de São Paulo. Já a BYD passou a ocupar o antigo complexo industrial da Ford em Camaçari, na Bahia, para produzir veículos elétricos e híbridos e ainda processar lítio e ferro fosfato, insumos importantes para baterias elétricas.
Além dos automóveis elétricos, a China está hoje presente no cotidiano dos brasileiros por meio de equipamentos de informática, eletrônicos em geral, utilidades domésticas, vestuário, entre outros produtos vindos pelo comércio eletrônico em geral.
ECONOMIA VERDE
O Brasil representa ainda um importante parceiro no aprofundamento da agenda chinesa do chamado ‘‘powershoring’’, a estratégia corporativa voltada à descarbonização e à transição para a economia verde com a produção de bens intensivos em energia para exportação. O país tem diversas vantagens em relação ao restante do mundo, como a matriz energética limpa, a disponibilidade de água doce, biodiversidade, reservas de minerais críticos, entre outros.
Os investimentos chineses em energia estão mudando o perfil do setor elétrico brasileiro com iniciativas nos segmentos eólico, solar e hidrelétrico. A maioria são de estatais chinesas, caso de State Grid e China Three Gorges (CTG). A State Grid comprou a CPFL Energia e atuou na construção do linhão de transmissão da usina de Belo Monte. Já a CTG adquiriu as usinas de Jupiá, Ilha Solteira entre outras.
A State Power Investment Corporation (Spic) chegou ao Brasil em 2016, com a compra da Pacific Hydro, e no ano seguinte comprou a hidrelétrica de São Simão por R$ 7,1 bilhões. A subsidiária local ainda detém parques eólicos na Paraíba, parte de várias termelétricas no país e planeja investimentos totais de mais de R$ 10 bilhões nos próximos anos.
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
A maior parte dos investimentos chineses ingressou no Brasil em 2023 por meio das chamadas iniciativas "greenfield’’, que são aquelas que começam do zero, em áreas nunca antes exploradas para construção ou desenvolvimento. Segundo o CEBC, essa modalidade de investimento representou 83% do número de empreendimentos e 90% do valor aportado no ano passado.
As iniciativas ‘‘greenfield’’ são importantes para o fomento de conhecimento e a transferência de novas tecnologias, sobretudo em negócios estratégicos de energias renováveis, mobilidade, tecnologia da informação, infraestrutura urbana e manufaturas de alto padrão.
Para a China, o Brasil continua se colocando como um parceiro estratégico, confiável e com muitas oportunidades, considerando as possibilidades de um mercado relevante de dimensão continental, tanto como produtor de insumos quanto consumidor de produtos e serviços. Os investimentos chineses no país ocorrem mesmo quando a China vem adotando uma postura mais cautelosa e seletiva, priorizando a agenda e o desenvolvimento do mercado consumidor doméstico.
Isso tudo em meio a disputas comerciais crescentes e a um ambiente geopolítico global mais restritivo por conta das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, que sucederam a emergência sanitária da pandemia, e abalaram as cadeias produtivas internacionais.
Nesse contexto, entre 2022 e 2023, os investimentos chineses caíram 36% nos Estados Unidos, 57% na Austrália e 4,2% na União Europeia e no Reino Unido. Por outro lado, aumentaram 37% nos países em desenvolvimento e que fazem parte da chamada ‘‘Nova Rota da Seda’’, de fomento à infraestrutura no exterior
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha