Transplantes salvam vidas, mas sucesso depende de vários fatores

Cirurgia de alta complexidade exige equipe multidisciplinar, médicos experientes e estrutura hospitalar; pós-transplante também requer atenção

João Vicente com médicas do Hospital Samaritano

João Vicente com médicas do Hospital Samaritano Arquivo pessoal

O transplante de um órgão, como um rim, fígado ou coração, ou de tecido, como medula óssea, é muitas vezes o último recurso da medicina diante da gravidade de determinadas doenças. Quando o paciente está entre a vida e a morte, é fundamental recorrer a quem tem expertise no assunto.

Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o Brasil conta com cerca de 400 equipes médicas cadastradas para realizar transplantes de órgãos e tecidos. A fila de transplantes no Brasil tem atualmente mais de 50 mil pessoas, segundo o Ministério da Saúde. A maior parte dos pacientes aguarda uma cirurgia de córnea e rim.

"A realização de um transplante é um procedimento de alta complexidade: exige uma equipe multidisciplinar, médicos experientes e muito capacitados e uma estrutura hospitalar com UTI muito boa, enfermagem específica, assistentes sociais… A equipe, da recepcionista ao médico, deve estar alinhada como uma orquestra", afirma a médica Maria Fernanda Carvalho de Camargo, diretora do setor de Nefrologia e Transplante do Samaritano.

O Samaritano, hospital da Rede Americas, realiza diversos tipos de transplante há mais de 20 anos (veja quadro), entre eles os transplantes renais e as diversas modalidades do transplante de medula óssea –fundamental para o tratamento de doenças graves, como leucemia e linfomas.

Entre 2008 e 2021, foram 330 transplantes renais adultos e 464 transplantes de medula óssea (adultos e pediátricos). Em 2021, o Hospital Samaritano realizou seu 500º transplante renal pediátrico, uma conquista que reforça o posicionamento da instituição como referência nacional e internacional nesse tipo de procedimento de alta complexidade.

João Vicente com a mãe Elayne e com a doutora Camila, no centro cirúrgico antes do transplante
João Vicente, de 4 anos, foi uma das 500 crianças que receberam um transplante de rim no hospital. - Arquivo pessoal

João Vicente, de 4 anos, foi uma das 500 crianças que receberam um transplante de rim no hospital. Em 2017, com apenas 45 dias de vida, ele começou a passar mal e, na emergência pediátrica, foi diagnosticada uma descompensação do organismo causada por uma doença renal gravíssima.

"Em Belém, não havia estrutura para diagnóstico e tratamento de um bebê tão pequeno. A pediatra que nos atendeu sugeriu que fossemos para São Paulo", conta a mãe, Elayne Melo Quaresma, 39. Os médicos constataram a necessidade de transplante renal.

Realizar um transplante em um bebê é sempre uma decisão difícil, mas Elayne buscou informações não apenas sobre a cirurgia mas, principalmente, sobre o local onde seria realizada e a equipe que atenderia o seu filho. Com base nessas referências, optou pelo transplante no Hospital Samaritano.

Em janeiro de 2019, João Vicente estava com sete quilos e entrou para a fila do transplante. A família havia se mudado para São Paulo e ele se submetia a sessões diárias de hemodiálise. O transplante aconteceu em outubro de 2021.

João Vicente com a mãe Elayne e com a doutora Maria Fernanda
João Vicente com a mãe Elayne e com a doutora Maria Fernanda Carvalho de Camargo, diretora do setor de Nefrologia e Transplante do Samaritano - Arquivo pessoal

Além dos cuidados com a cirurgia, é preciso atenção redobrada com o pós-transplante porque há risco de rejeição do órgão ou tecido – nesse período, o paciente deve ser constantemente avaliado pela equipe multidisciplinar.

"O pós-transplante foi o momento mais difícil. Mas a equipe médica é muito boa, muito bem preparada. E hoje o João está ótimo, andando para todo lado, comendo bem".

Além da expertise da equipe, a mãe destaca o carinho com que ela e o filho foram tratados. "São profissionais extremamente competentes e que cuidam do paciente e da gente, família, de forma muito amorosa, com muito carinho."

Maria Fernanda, médica responsável pelo setor de Nefrologia e Transplante, acompanhou toda a jornada de João Vicente e conta que o hospital realiza, em média, 38 transplantes renais pediátricos por ano, mais do que o triplo dos demais centros do mundo.

João Vicente, de 4 anos, foi uma das 500 crianças que receberam um transplante de rim no hospital. Foto com a mãe Elayne e com o pai Heros
João Vicente, de 4 anos, foi uma das 500 crianças que receberam um transplante de rim no hospital. Foto com a mãe Elayne, com o irmão Heros e com o pai Heider - Arquivo pessoal

Além do alto número de transplantes renais pediátricos, outro diferencial do Samaritano é a experiência de sua equipe para realizar o procedimento em crianças com menos de 15 quilos.

"É um tipo de transplante muito delicado, que depende de uma habilidade cirúrgica extrema e de uma estrutura de hospital robusta. Poucos centros do mundo fazem o procedimento em pacientes com baixo peso", diz o pediatra nefrologista Paulo Koch Nogueira, responsável técnico de transplante renal pediátrico no Samaritano.

Esperar um bebê com doença renal crônica atingir 15 quilos para passar por um transplante, como muitos hospitais fazem, significa que ele permanecerá vários anos em diálise. "O transplante é o tratamento mais eficaz que pode ser oferecido para as crianças pequenas com doença renal crônica: é uma questão humanitária fazer isso o quanto antes", diz Nogueira.

Maria Fernanda destaca que o programa clínico de transplante renal pediátrico da instituição foi o primeiro no mundo certificado pela Joint Commission International (JCI), principal certificadora internacional que atesta a qualidade e a segurança dos hospitais em todo o mundo. "Esse reconhecimento internacional demonstra a excelência do cuidado prestado."

Quem passa por transplante de rim, diz a especialista, sempre será um paciente renal crônico, mas com qualidade de vida. E esse é um ponto central para o hospital, tanto que o Samaritano desenvolveu um indicador que mede a qualidade de vida para as crianças que passam por transplante renal.

"Levantamos dados dos dois últimos anos (2020-2021): o índice de matriculados na escola subiu de 51,4% para 100% no período, e a frequência escolar aumentou também, de 45,7% para 70%. Conseguir frequentar a escola normalmente depois de um transplante renal é um indicador de qualidade de vida", diz a médica.

Elayne, mãe de João Vicente, destaca a importância de as pessoas se conscientizarem sobre a doação de órgãos. "Nada disso teria acontecido sem o ‘sim’ de uma família para a doação."