A Universidade de Coimbra, a primeira a aceitar os resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) fora do Brasil em seu processo seletivo, decidiu ampliar as oportunidades para os brasileiros. Agora, valem as notas dos últimos cinco anos (antes eram três). Além disso, decidiu criar a licenciatura em direito Luso-Brasileiro, atendendo a uma demanda dos estudantes.

Com 731 anos de história, a Universidade de Coimbra é uma das mais tradicionais e respeitáveis instituições de ensino da Europa. Mantém convênios e parcerias com outras universidades do mundo e funciona como porta de entrada para brasileiros a um mundo globalizado. Esse fato, aliado à qualidade acadêmica, faz com que hoje 15% dos alunos sejam brasileiros.

Na entrevista a seguir, o reitor da UC, Amílcar Falcão, fala sobre mudanças ocorridas devido à pandemia de Covid-19, do novo curso e de outras novidades da universidade e como os brasileiros podem aproveitar de todas as oportunidades oferecidas.

A Universidade de Coimbra foi a primeira universidade internacional a adotar os resultados do Enem para o processo seletivo. E em 2021, a UC passou a permitir a utilização de notas de até cinco anos anteriores? Qual a razão dessa mudança? O que se espera dela?

Amílcar Falcão - Dado o grande interesse demonstrado pelos candidatos com notas do Enem mais antigas, decidimos permitir a utilização de notas de até cinco anos, até porque alguns estudantes do ano passado não conseguiram realizar a sua prova do Enem neste ano. A Universidade de Coimbra sempre procura ir ao encontro do que é esperado pelo aluno.

Outra novidade deste ano será a criação da licenciatura em direito Luso-Brasileiro, oferecida apenas a estrangeiros. Vocês entendem que essa era uma demanda grande de estudantes brasileiros?

Os estudantes brasileiros representam a maior comunidade de estudantes internacionais na Universidade de Coimbra. O curso de Direito é um dos mais procurados, e a criação da Licenciatura em Direito Luso-Brasileiro significa um enorme impulso para a oferta formativa da Universidade, representando um esforço da instituição na demanda da comunidade brasileira, sendo o único do país. A Universidade de Coimbra é conhecida por ser pioneira e até na oferta pedagógica se encontra essa característica.

Como a UC lidou com a necessidade de distanciamento social durante a pandemia? Estudantes estrangeiros puderam voltar a seus países?

Sim, optamos por um regime de aulas adaptado ao momento. De aulas presenciais passamos para aulas em regime de EAD ou misto. Alguns estudantes internacionais que tiveram dificuldades com o visto ou faziam parte do grupo de risco tiveram aulas 100% online.

A pandemia reforçou a preocupação com os custos. Houve alguma alteração nas anuidades? E a política de bolsas de estudo, houve ampliação?

As anuidades continuam as mesmas para os cursos de graduação. Porém, neste ano, apresentamos várias bolsas e prêmios para os estudantes internacionais em estudos de graduação e de mestrado. Para certos cursos de graduação (definidos anualmente), a UC atribui uma bolsa de apoio de 2.000 euros, no primeiro ano de formação. Já para mestrados, se o candidato for selecionado para frequência de um mestrado da UC, recebe uma bolsa de 2.000 euros no pagamento da matrícula de mestrado, sendo atribuída em cada ano ou semestre, consoante o caso, até à conclusão do ciclo de estudos (pelo número de anos ou semestres de duração normal a tempo integral). Essas bolsas constituem-se como um estímulo à investigação de qualidade e à internacionalização na UC.

Como a pandemia impactou na parceria com outras instituições de ensino internacionais e com o universo empresarial?

O mundo inteiro foi afetado pelo contexto de pandemia: tivemos que nos adaptar a aulas a distância, webinários e reuniões em modo não presencial. A Universidade de Coimbra nunca parou. Continuou a trabalhar, apenas de modo diferente, mas mantendo os mesmos padrões de qualidade. As ligações da Universidade de Coimbra a redes internacionais são antigas e sólidas: adaptaram-se e não pararam.

Muitas pessoas têm dúvidas na hora de escolher um local para estudar. Quais são os benefícios para o estudante brasileiro na UC, comparados aos de outras universidades da Europa?

A Universidade de Coimbra distingue-se tanto pela oferta de ensino e pesquisa científica de qualidade como pela responsabilidade social e preocupação com o bem-estar dos estudantes, tendo recentemente sido classificada em 21º lugar, em nível mundial, no Times Higher Education Impact Ranking, o único barômetro global que avalia o desempenho das instituições de ensino superior no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas. Esse desempenho, com particular relevo nos ODS Erradicação da Fome e Agricultura Sustentável (3º lugar mundial), Indústria, Inovação e Infraestruturas (13º) e Saúde e Bem-estar (44º), mostra com a UC se está a preparar, e aos seus estudantes, para responder ao maior desafio das nossas vidas: a luta por um planeta mais sustentável. Como o bem-estar da comunidade acadêmica no dia a dia é uma prioridade, também foi lançado recentemente o programa Healthy Campus UC, que promove a melhoria das condições nos locais de atividades e nos serviços diariamente prestados e reforça o trabalho desenvolvido nas áreas da promoção da atividade física, da alimentação saudável, da prevenção de comportamentos de risco e da sustentabilidade.

Em 2020, a UC era a universidade com mais brasileiros fora do Brasil, além de abrigar mais de cem nacionalidades. O que mudou no último ano? Como esse intercâmbio é incentivado em tempos de pandemia?

No último ano letivo, os estudantes brasileiros na Universidade de Coimbra já representavam 15% da nossa comunidade acadêmica. A pandemia nos trouxe a necessidade de adaptação das aulas num sistema híbrido, presencial e online, e, devido a dificuldades na emissão de vistos, alguns estudantes não puderam iniciar o ano letivo presencialmente. Temos muitos estudantes que decidem estudar todo o curso na nossa instituição, mas também um número muito significativo de estudantes que vêm de universidades brasileiras fazer um período de intercâmbio na UC, por um semestre ou um ano. O número de pesquisadores brasileiros é igualmente crescente. Isso significa que são bem acolhidos, estão bem integrados e que fazem parte da identidade da nossa instituição.

De que maneira a UC forma profissionais para atuar em um mundo globalizado?

A Universidade de Coimbra é uma porta aberta ao mundo, já no campus universitário o estudante poderá encontrar estudantes de mais de cem nacionalidades. Muitos dos nossos estudantes trabalham em outros países, isso significa que receberam a formação científica que lhes permite serem bons e competitivos no mercado global de emprego.

Que recomendações o senhor daria para o estudante brasileiro aproveitar sua experiência na UC?

Simplesmente usufruir de todas as oportunidades da UC, começando por aprender com os melhores no mundo científico e de investigação. Participar das atividades da Associação de Estudantes (a Associação Acadêmica de Coimbra), que inclui 16 seções culturais e 27 seções desportivas que possibilitam a participação dos alunos num conjunto variado e enriquecedor de atividades extracurriculares. Fazer parte de um dos vários programas de intercâmbio, experimentando estudar em outras instituições parceiras da Europa ou do resto do mundo e, mesmo dentro da UC, conhecer e conviver (mesmo que virtualmente) com pessoas de todo o mundo e aprender sobre seus costumes e tradições.