A Argentina está empenhada em não só recuperar 1,5 milhão de brasileiros que visitava o país antes da pandemia, mas até superar esse número. Aumento da malha aérea entre os dois países, abertura de voos diretos tanto a novos como a tradicionais pontos turísticos e um programa de desenvolvimento de destinos de natureza estão na agenda de trabalho do ministro do Turismo e Esportes da Argentina, Matías Lammens, e do secretário executivo da Inprotur (Instituto Nacional de Promoção Turística), Ricardo Sosa. Ministro e secretário estiveram em São Paulo para a WTM Latin America (World Travel Market), evento que anualmente reúne representantes do setor do turismo na América Latina, como destinos, hotéis, companhias aéreas, locadoras e outros serviços. O estande da Argentina, de 300 m2, foi premiado como o melhor da WTM LA-2022, que recebeu cerca de 15 mil profissionais de viagens e turismo e 500 empresas expositoras entre os dias 5 e 7 de abril no Expo Center Norte.
Em entrevista exclusiva, Matías Lammens conta o que a Argentina está fazendo para recuperar totalmente o setor e dá o recado: "Os brasileiros vão encontrar um país com infraestrutura, gastronomia e serviços de nível internacional com preços muito, muito baixos".
Qual o momento atual do turismo argentino?
O grande desafio que temos é recuperar o número de turistas que visitaram nosso país durante 2019, na pré-pandemia. Para a Argentina é uma receita muito importante, uma vez que o turismo é o quarto item de geração de divisas do país. Posso afirmar que, nesse momento, poder contar com o turismo receptivo como um dos pilares da nossa recuperação econômica é estratégico. Nós fizemos um plano muito forte de promoção do turismo interno e tivemos uma temporada de verão recorde. Agora, nos preparamos para o grande desafio: que é voltar ao número que tivemos em 2019 e até superá-lo. A Associação Mundial de Turismo prevê que a recuperação total do turismo internacional acontecerá em 2025, mas nossa expectativa é que isso se dê já em 2023, com um 2022 muito bom. Por isso estamos trabalhando muito com os países vizinhos, principalmente o Brasil, que é nosso principal mercado.
Qual a importância do turista brasileiro para a Argentina?
Brasil está em primeiro lugar. Por isso estamos trabalhando com todas as companhias aéreas para retomar a conectividade entre os dois países. Para nós é determinante que tenhamos a maior quantidade de assentos disponíveis e que os brasileiros que nos visitem não tenham que passar obrigatoriamente por Buenos Aires. Lançamos o voo direto de São Paulo a Bariloche, anunciamos o São Paulo-Salta e estamos trabalhando para que possa haver um voo direto de São Paulo a Ushuaia. Sabemos que o turista brasileiro ama Buenos Aires, que é uma das cidades do mundo mais procuradas por ele, mas também gosta dos destinos de neve, de inverno.
Que outras novidades podemos esperar em relação a voos?
Estamos trabalhando também para ter uma frequência maior. A Aerolíneas Argentinas já retomou praticamente 100% dos voos que operava antes da pandemia. Estamos com quatro voos diários para São Paulo, um voo novo para Brasília, Curitiba, Porto Alegre e vários lugares do Brasil. Acabamos de nos reunir com Qatar Airways para retomar o trecho São Paulo-Buenos Aires e a Ethiopian Airlines também está na mesma situação. Estamos conversando com diferentes linhas aéreas para continuar somando assentos pois, como disse, nosso principal objetivo é recuperar este 1,5 milhão de turistas brasileiros que nos visitaram em 2019.
Até agora como está a recuperação? Quantos brasileiros visitaram o país nesse final de pandemia?
Desde a reabertura das fronteiras [em outubro de 2021], cerca de 250 mil brasileiros nos visitaram, que é um número importante, representando 32% do total de visitantes que tivemos. Uma surpresa foi o grande número de visitantes dos Estados Unidos nos últimos meses, mas o Brasil segue liderando.
Além dos voos, que outras ações estão preparando para atrair brasileiros?
A Argentina tem atrativos turísticos que são muito buscados pelos brasileiros, como a cena de Buenos Aires com sua gastronomia, carne, vinhos – os brasileiros são amantes do vinho argentino. Os brasileiros amam Buenos Aires e Mendoza! O mesmo acontece com Bariloche e com toda a Patagônia em geral. Agora agregamos o voo para Salta, que para nós é importante, pois todo o norte argentino tem um grande potencial. Mas a nossa grande aposta no momento é a Rota Natural, que estamos desenvolvendo com destinos de natureza, que são os mais procurados das 24 províncias argentinas. Até agora, já foram investidos mais de US$ 33 milhões em divulgação e em infraestrutura nos destinos de natureza. Além disso, há uma vantagem adicional certamente muito valorizada pelo brasileiro que é o câmbio. A Argentina está muito barata. E esse é um diferencial, já que a Argentina oferece estrutura e serviços de nível internacional a preços muito baixos.
Quais as tendências que vieram para ficar no pós-pandemia?
O turismo de natureza, sem dúvida nenhuma. É uma tendência no mundo inteiro. Os turistas passam alguns dias em cidades grandes e depois buscam algum lugar para sair, para ter um contato com o meio ambiente. Isso chegou para ficar depois da pandemia, por isso estamos investindo tanto para potencializar os destinos de natureza da Argentina. São destinos que podem ser muito procurados no mundo, e não somente o norte do país, que tem lugares como Missiones ou o Parque Nacional El Impenetrable, na província de Chaco, mas todos os destinos de natureza vinculados à montanha, à neve, ao esqui.
Isso inclui, por exemplo, a quantidade de novas hospedagens estilo glamping?
Hoje há glamping em El Impenetrable, em Chaco, em Mendoza, Catamarca, Jujuy, em diferentes lugares da Argentina. Há uma mudança de hábito dos turistas que começam a demandar outro tipo de experiência. E nisso a Argentina tem muito a oferecer.
O que mais pode surpreender os brasileiros ao voltar à Argentina?
Os brasileiros vão encontrar um país com infraestrutura, gastronomia, serviços de nível internacional com preços muito muito baixos. Acredito que esse seja o grande diferencial, sobretudo para o Brasil, já que estamos a uma distância muito pequena e o câmbio está bem favorável aos brasileiros. É uma grande oportunidade para os brasileiros, já que o câmbio não favorece viajar para destinos que historicamente recebiam tantos brasileiros como os Estados Unidos. Ele pode ir a Buenos Aires, Salta ou esquiar em Bariloche, que recebeu um investimento de US$ 20 milhões do setor privado em Cerro Catedral. Será uma temporada muito boa.
Durante a WTM, o senhor se reuniu com o ministro do Turismo do Brasil, Carlos Brito. Como foi esta conversa?
Eu já o conhecia da Embratur, já tínhamos uma relação. Acredito que Brasil e Argentina têm muito para conversar, explorar e promover destinos de forma conjunta. O mais icônico são as Cataratas de Iguaçu, destino que podemos trabalhar conjuntamente. Podemos também fortalecer nossa conectividade. A primeira nacionalidade que visita o Brasil são os argentinos e a Argentina, os brasileiros. Portanto, melhorar nossa conectividade e ter muitos assentos disponíveis favorece e fortalece as duas economias. Conversamos para que nessa fase pós-pandêmica o número de assentos supere inclusive o que tínhamos antes.
Que destinos ainda desconhecidos o senhor acredita que entrarão no radar do brasileiro?
Dois lugares que têm grande possibilidade são Calafate e Ushuaia. São lugares que despertam o interesse do brasileiro, mas como não há voo direto e são um pouco difíceis de chegar ainda não são tão visitados. São os próximos destinos a se trabalhar e por isso a necessidade de um voo direto de São Paulo a Ushuaia. Outro destino que temos uma expectativa muito grande é Esteros del Iberá, na província de Corrientes. Trata-se da segunda maior planície alagável do mundo, um lugar maravilhoso que recebe muitos visitantes europeus, mas que não é muito divulgada nos países vizinhos.
E em relação a Buenos Aires? Que novidades podem mais surpreender os brasileiros?
Há muitos novos restaurantes que colocam Buenos Aires em disputa com Lima pelo posto de capital gastronômica. Em todos os prêmios internacionais, como o 50 Best Restaurants, Buenos Aires está levando mais que qualquer outra cidade da América Latina. A cidade já tinha uma tradição gastronômica, mas recentemente abriram muitos restaurantes de chefes estrelados.
Mais informações, consulte Visit Argentina.